Quando os conheci, já estavam cansados, mas continuavam a cumprir a promessa, mesmo depois de vencidos os anos empenhados. Deveriam sair em peregrinação musical, no domingo da Ressurreição, por 14 dias, durante sete anos seguidos – mas continuaram por mais onze. Eusébio, o esguio clarinetista, disse que pretendiam chegar a 21 viagens, inspirados pelo número cabalístico de três vezes sete.
“Pagamos a promessa, mas a gente descobriu que não houve penitência, só coisa boa. Vamos continuar. Para bem dizer, a promessa não era para nós, era para o povo todo do Morro Cinzento. A seca daquele ano, depois de matar os bichos, já estava matando as crianças”. Os três, com instrumentos desarmônicos – uma rebeca das antigas, a sanfona, o cavaquinho e a clarineta – andavam pelos povoados e ranchos espalhados pela região, tocando as músicas sacras e profanas que conheciam. Misturavam Jesus, a alegria dos homens, em arranjo curto e adaptado a seus instrumentos, pelo padre Martinho, com marchinhas de carnaval e cançonetas folclóricas. Sua promessa incluía tocar para os pássaros e para as árvores, para os bichos que se escondem e os bichos que se mostram. Quem primeiro ouviu o som da rebeca, em solo pungente, foi Granadeiro, meu velho e insubstituível companheiro. Parou, levantou as orelhas, ficou extasiado, virou o focinho para o lado – e o segui. Os quatro estavam sentados nas pedras do rio, que se espraiava naquela curva. Quando nos viram, fizeram, com o rosto, sinal de boas vindas, e continuaram. Era de seu contrato com Bom-Jesus da Ressurreição tocar para as águas, e para as águas estavam tocando.
Na pausa, contaram-me sua história, abriram as capangas e me ofereceram roscas de leite e “café de demanhãzinha”, na garrafa térmica esmaltada, prenda de uma fazendeira de rio abaixo. Estavam de volta, esperavam chegar no domingo seguinte. A Granadeiro também deram uma rosca, que ele agradeceu, como sempre, com seu rosnar de alegria, sob o compasso binário do rabo.
“Pagamos a promessa, mas a gente descobriu que não houve penitência, só coisa boa. Vamos continuar. Para bem dizer, a promessa não era para nós, era para o povo todo do Morro Cinzento. A seca daquele ano, depois de matar os bichos, já estava matando as crianças”. Os três, com instrumentos desarmônicos – uma rebeca das antigas, a sanfona, o cavaquinho e a clarineta – andavam pelos povoados e ranchos espalhados pela região, tocando as músicas sacras e profanas que conheciam. Misturavam Jesus, a alegria dos homens, em arranjo curto e adaptado a seus instrumentos, pelo padre Martinho, com marchinhas de carnaval e cançonetas folclóricas. Sua promessa incluía tocar para os pássaros e para as árvores, para os bichos que se escondem e os bichos que se mostram. Quem primeiro ouviu o som da rebeca, em solo pungente, foi Granadeiro, meu velho e insubstituível companheiro. Parou, levantou as orelhas, ficou extasiado, virou o focinho para o lado – e o segui. Os quatro estavam sentados nas pedras do rio, que se espraiava naquela curva. Quando nos viram, fizeram, com o rosto, sinal de boas vindas, e continuaram. Era de seu contrato com Bom-Jesus da Ressurreição tocar para as águas, e para as águas estavam tocando.
Na pausa, contaram-me sua história, abriram as capangas e me ofereceram roscas de leite e “café de demanhãzinha”, na garrafa térmica esmaltada, prenda de uma fazendeira de rio abaixo. Estavam de volta, esperavam chegar no domingo seguinte. A Granadeiro também deram uma rosca, que ele agradeceu, como sempre, com seu rosnar de alegria, sob o compasso binário do rabo.