3 de jan. de 2010

PAISAGEM SICILIANA



O motorista do pequeno ônibus de turismo parou, a um sinal do rapaz na beira da estrada estreita, no caminho de Ragusa. Pensei que o estranho iria embarcar, mas foi o motorista que, depois de nos pedir um minuto, desceu, ao encontro do outro. Ao voltar, nos disse que uma ponte caíra, à frente, e teríamos que esperar um pouco. O pouco foram duas horas. Só o chofer era da Sicília. Todos os outros vinham do norte da Itália, menos o casal de nossa idade, que era de Nápoles. Ao lado do caminho, na encosta de uma colina, os galhos dos olivais se moviam com o vento. Na margem esquerda ovelhas pastavam. O pastor as vigiava, sentado na carroceria de uma camionete velha. Mais adiante, quase na curva da estrada, que fechava a visão do Sul, havia 4 cruzes. Achei estranho que, em estrada tão estreita, que não permitia correr, tivesse havido um acidente com quatro mortos. Meu companheiro de viagem, napolitano, disse-me, baixinho, que os acidentes tinham sido de lupara (a cartucheira siciliana), não de veículos, e fez, com o indicador, o gesto conhecido de quem preme um gatilho.
Depois de uma hora de espera, começamos a ficar impacientes. A tarde chegava e, com ela, a fome. No carro só havia água. Nada nos indicava um lugar perto onde comprar o que fosse para comer. O motorista disse que esperava um sinal de que poderíamos avançar. A ponte era pequena, de madeira, e seria reparada logo. Mais algum tempo, outro homem apareceu e disse ao motorista que devíamos voltar. O motorista nos disse que aquele percurso da excursão estaria cancelado, a menos que quiséssemos fazer uma volta de 30 quilômetros. Retornamos à estrada principal, a caminho de Agrigento, onde pernoitaríamos.
No hotel, pela televisão, soubemos que houvera um acerto de contas na estrada, com três mortos em emboscada atribuída à máfia – mas ocorrida uma hora depois que mudamos o itinerário. No dia seguinte, o motorista havia sido substituído por outro. De Agrigento, seguimos para Palermo, por outra estrada.

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