Assim como são muitas as margens dos rios, há outros lados da Lua, além daquele que nos é oculto, e só as sondas vêem. Todos os dias ficamos sabendo de coisas novas na velha companheira da Terra. Sabemos que há, ali, água e, se há água, há algum oxigênio – e isso é bom sinal. Agora descobrimos que há também buracos, provavelmente túneis pelos quais emergiram as lavas vulcânicas, em passado muito distante.
Os mais jovens não conhecem a Lua velha, aquela que, mais do que o corpo celeste, era o apelo estético – e erótico. As fases da Lua moviam os hormônios – e, se ainda os movem, ninguém mais parece se dar conta disso. Moviam os hormônios e branqueavam os cabelos, como nos versos de Rogaciano Leite e Sílvio Caldas: “Meus cabelos cor de prata, são beijos das serenatas, que a Lua mandou pra mim...”
Os poetas sonhavam de muitas formas com a Lua, e não só como inspiração romântica. O grande Cyrano de Bergerac, no século 17, combinava a literatura com a filosofia e a ciência, sem esquecer as conquistas amorosas e seu nariz imenso era visto como um atrevimento anatômico. Cyrano escreveu duas comédias notáveis, em que narra suas viagens aos estados e impérios da Lua e aos estados e impérios do Sol. Além de ser, assim, um precursor da ficção científica, Cyrano – militante político partidário de Mazzarini – foi também um crítico da arrogância da ciência e do obscurantismo da Igreja.
Um dia, talvez, conheçamos tudo sobre a Lua e é mesmo provável que ela se transforme em uma colônia da Terra. Mas os rios continuarão com seus mistérios, e suas infinitas margens, que correspondem às infinitas inquietações humanas. E o satélite, mesmo com suas águas polares, continuará desolador, porque lhe faltarão os rios, as cachoeiras, os barqueiros, os remansos e as ilhas solitárias.
Aos arroios chamamos de rios-guris.
ResponderExcluir