Falando dos rios e da Lua, devo lembrar a estória de Berenice. Tudo me diz que é falsa, mas Luís Sabino jurou-me que é verdadeira. Seu irmão mais moço, Elziro Sabino, preveniu-me que Luís – que já passava dos 80 – lera muito e misturava folclore, mitologia e mentira, não sabendo separar as lembranças em sua cabeça castigada pela malária e por algumas porretadas em briga de bordel de Pirapora.
Mas vamos ao farol de Berenice. Berenice fora menina que a mãe, em troca de um favor não explicado (Luís Sabino acredita que era o de se livrar do marido inválido) entregara ao diabo, para criar. Como o diabo não tinha corpo, nem casa, a menina foi induzida por ele a buscar guarida na casa de velha rameira de beira rio. Depois de adestrada nas artes do ofício, Berenice ficou embruxada e montou, em canoa de pau-ferro um farol mágico, que atraía os barqueiros noturnos. Atraia-os, seduzia-os, matava-os com sua saliva de cobra e seus corpos desciam o rio, para enganchar-se nos brejos das margens baixas.
Luis Sabino escapou da morte, quando a noite o apanhou, mor de um remo perdido, perto da barra do Paraopeba, e viu a luzinha na beira do rio. Com um remo só e de jeito, chegou e encontrou a mulher, nua, na canoa ancorada no toco de gameleira, iluminada pela luz da lua, que se refletia em um espelho pendurado na popa – o farol. “Eu tava meio perrengue e já sabia da malvada. Me peguei com Deus e por isso estou agora contando a história. A bruxa, quando eu refuguei, me jogou na água, mas nadei pra longe e acordei na praia”.
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