8 de abr. de 2011

O PARTO DE UMA NOVA IDADE

Quem se dedica ao estudo da História está dispensado das surpresas e do espanto. Os tempos também envelhecem, de suas entranhas surgem novas idades. E o parto dos tempos novos costuma ser terrível, com guerras, atos de loucura, fogo e sangue. A Idade Moderna, que se iniciou com o Renascimento e a descoberta da América, começou a envelhecer quando o Iluminismo não conseguiu consolidar as conquistas políticas da Revolução Francesa. Não souberam os líderes do grande movimento libertador conter a violência no momento certo, e o resultado, com a reação da direita, foi o surgimento de Napoleão, a restauração da monarquia e a substituição da nobreza pela burguesia.

A injustiça continuou, e as tentativas revolucionárias dos trabalhadores europeus, em 1848, e dos franceses em particular, com a Comuna de Paris, foram derrotadas pela força. O governo dos trabalhadores que assumiram o poder no município de Paris foi, na visão de Marx, “um frustrado assalto ao céu”. Os operários foram trucidados. Os soldados franceses, vergonhosamente recém-derrotados pelas forças alemãs, na guerra de 1870, descontaram sua frustração e se tornaram “valentes” contra trabalhadores mal armados, que se defendiam em barricadas improvisadas. Os que se rendiam eram logo executados.

Desde 1776, quando os norte-americanos declararam independência e iniciaram a guerra contra a Inglaterra, o mundo ocidental entrou no período de preparação para uma nova idade. Em 1789, com a reunião dos Estados Gerais, as ideias políticas do Iluminismo eclodiram em Paris. Elas já haviam influenciado os norte-americanos e chegado ao Brasil, a Ouro Preto. Em março daquele ano, os revolucionários mineiros foram denunciados; em abril de 1792, Tiradentes foi enforcado e esquartejado. Em janeiro de 1793, Luís XVI foi guilhotinado em Paris.

A onda revolucionária árabe é vista por observadores ocidentais, jornalistas e diplomatas como uma vitória do capitalismo. Isso é até possível, mas é só uma pequena parcela da realidade

O processo continuou no século 19, com o enfrentamento entre os ricos burgueses e os trabalhadores pobres e explorados. No século 20, os confrontos se multiplicaram. Durante os 100 anos, duas guerras mundiais e vários conflitos menores, o sangue jorrou como nunca, mais de 100 milhões de pessoas, entre combatentes e não combatentes, morreram. Agora há sinais de que a Humanidade já se encontra cansada de tudo isso.

A onda revolucionária que percorre os países árabes vem sendo identificada pelos observadores ocidentais como uma vitória do capitalismo. Na visão apressada dos jornalistas e diplomatas ocidentais, os jovens mobilizados­ pela internet querem derrubar seus déspotas a fim de viver os padrões europeus e norte-americanos de conforto­. É até possível que isso seja verdade em parte, como é evidente que os países capitalistas, sedentos do petróleo do Oriente Médio, incentivam rebeliões, como as do Líbano, com seus agentes provocadores. Mas estão vendo só uma pequena parcela­ da realidade­.

A rebelião, ainda que não exista uma consciência clara disso, se faz contra uma ordem mundial de domínio. Essa ordem, construída e administrada pelo capitalismo, sempre aceitou os tiranos do Oriente Médio, desde que eles lhe facilitassem o acesso ao petróleo. Não são os direitos humanos, como a sua hipocrisia­ proclama, que defendem, mas o direito que se arrogam de explorar­ os povos.

A Revolução Soviética foi uma grande tentativa de construir esse novo tempo, mas foi vencida pela traição interna de seus burocratas e pelos seus graves erros, entre eles a violência stalinista. A queda do Muro de Berlim, porém, não significa a derrota definitiva do humanismo, como eles pensam.

Está surgindo uma nova idade no mundo: o sistema de poder, dominado pelos banqueiros, que faz e desfaz governos, controla a ciência e a tecnologia, determina a vida e a morte de povos inteiros, começa a ser visto em seu horror pelas grandes massas. O que virá depois, não sabemos – mas as dores do parto desse novo tempo já se fazem sentir.

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