A morte, há dias, de Jáder de Oliveira me leva a meditar sobre a brevidade da vida, o valor da amizade e a natureza do ofício de jornalista. O jornalista é um homem comum, que consegue ver o mundo e escrever sobre seu dia-a-dia. Não é escritor, na identificação que a sociedade dá ao homem de letras. Não é especialista em nada; flutua sobre os assuntos, como uma libélula recenseia as lagunas de águas estanhadas, com sua vegetação estranha. Sua notoriedade é efêmera. Mas, de alguma forma, os bons jornalistas têm a sua atuação gravada no tempo, e queiram ou não queiram, ao influir sobre o cotidiano, influem na História.
Jáder e eu fomos, no início dos anos 50 – mais precisamente em 1952 – os dois mais jovens integrantes da redação do “Diário de Minas”, que se editava
Uma semana antes de sua morte, conversamos longamente pelo telefone. Ele, com a dignidade de sempre, e bom humor, relembrava os nossos tempos jovens, falava dos companheiros que já se haviam ido, como se ainda estivessem vivos.
Jáder era repórter esportivo então. Sempre escreveu com elegância e correção. Ao mesmo tempo se dedicava à música popular brasileira e ao rádio. Bem dotado para as línguas estrangeiras, cantava baixinho as canções norte-americanas de Jerome Kern e Oscar Hammerstein, e, mediante elas, aprendeu rapidamente o inglês. Em Londres, ao mesmo tempo em que trabalhava na BBC, foi correspondente da imprensa brasileira, trabalhando em Veja, em sua primeira fase, e em outros jornais. Sempre que podíamos, nos víamos. Visitou-me em Bonn, onde morei, e estive muitas vezes com ele e Nely, a dedicada esposa que ele buscou na Argentina,
Na última vez que visitou Belo Horizonte, já não os encontrou: Cabral morreu aos 98 anos e José Ramos era pouco mais moço quando se foi.
Jáder já estava enfermo e tinha a consciência de que dificilmente venceria a doença. Mas nada derrubava o seu bom humor. “Fiz tudo o que podia fazer”, me disse em nossa última conversa. “Agora, é esperar”. E, em seguida, lembrou um episódio de nossa mocidade, fustigando certo colega pedante que tivemos, e seu riso intenso foi cortado pela tosse. “O canalha está se vingando”, voltou a rir. O médico interrompeu a nossa conversa, explicando-me que ele estava cansado.
Quando penso em alguns companheiros de jornal, e não foram poucos, construídos com a dignidade, a modéstia e a competência de Jáder de Oliveira, sinto que vale a pena o nosso ofício.
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