Até mesmo por uma estratégia da natureza humana, evitamos pensar na decadência e na morte. A vida, apesar de todas as especulações transcendentais, ocorre aqui e agora, no mundo que conhecemos. E esse mundo, propriedade ideal de cada um de nós, enquanto vivemos, é a única realidade de que dispomos. Por mais pobres que sejamos, o normal é que busquemos viver com esperança. Como no belo poema musical de Chico Buarque, Pedro Pedreiro, estamos sempre esperando o melhor.
A esperança é positiva, e seu lado oposto é a ambição, que faz da felicidade um saqueio sobre a felicidade alheia. Sentimentos negativos constituem o impulso de algumas sociedades políticas. É da orientação dessas comunidades a expansão do poder sobre o espaço alheio e a coesão interna a qualquer custo. Isso ocorreu em toda a História e, nos últimos cem anos, com ferocidade crescente. Nas duas grandes guerras, movidas pela ambição expansionista, morreram dezenas de milhões de pessoas. Há aqueles que defendem as guerras, como fator de progresso, e apontam, entre outras vantagens da matança, o surgimento de remédios poderosos, como a penicilina, ou o desenvolvimento da tecnologia dos transportes aéreos.
O nacionalismo é uma ideologia positiva, quando cuida da afirmação de soberania de um povo sobre seu território, seus recursos naturais, sua cultura, sua história e suas decisões políticas. E é a mais perigosa das idéias, quando busca o domínio de outros povos. Encontrar o equilíbrio entre a auto-estima e o respeito aos outros, tanto na vida pessoal, quanto na vida das nações, é desafio permanente da razão. O mesmo desafio da razão é posto, quando se trata de identificar o momento do declínio, e administra-lo com honra. Uma das dificuldades, tanto para as pessoas, quanto para as nações, é aceitar a derrota e buscar supera-la mediante os recursos da inteligência. Os Estados Unidos, diante das sucessivas derrotas militares, entre elas, de forma constrangedora, no Sudeste Asiático, não conseguiram encontrar outro caminho para a manutenção de seu orgulho nacional que não seja o da violência e da ameaça. É certo que nenhum outro povo dispõe de armas capazes de destruir o mundo, como eles dispõem. Mas é ilusório imaginar que disponham de meios para dominar o mundo para sempre. Depois de fragmentada a União Soviética, a História, que rejeita as hegemonias definitivas, favoreceu o crescimento econômico e bélico da China, que, há cem anos era ainda uma nação humilhada pelo domínio colonial, quando proclamou sua república. Os norte-americanos terão que encontrar um modus-vivendi com os chineses, ou partir para a guerra total contra Pequim. Para isso, os norte-americanos terão que se entender com terceiros, e os terceiros são os países emergentes – entre os quais se encontram povos muçulmanos, muitos deles situados na Eurásia. A guerra total contra Pequim poderia ser a guerra total contra o mundo – e essa eles não poderão vencer. Seu único desfecho seria o aniquilamento do planeta, ou sua destruição de forma tão devastadora que o homem levaria séculos para reconstruir a civilização.
O grande líder norte-americano – esperava-se que fosse Obama – será aquele que convença seu povo a renunciar ao nacionalismo expansionista, a reduzir o poder bélico e a admitir a convivência, em igualdade de direitos, com as outras nações. Mas não será fácil renunciar a essa presumida supremacia, embora isso seja necessário à paz comum. É possível que, com o cansaço da invencibilidade do Super-Homem, os norte-americanos aceitem como modelo a modéstia de Lil Abner, que descobriu, no Vale dos Shmoos, a solidariedade que se contrapunha ao capitalismo americano. Seu criador, Al Capp, teve a coragem de, em plena caça às bruxas, criticar duramente o sistema.
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