18 de mai. de 2011

GUERRA E PAZ COM O PARAGUAI

O Paraguai celebra, hoje, 14 de maio, o bicentenário de sua independência. Mas, aos paraguaios foram impostos, desde 1811, tiranos e ditadores. José Gaspar Rodriguez Francia, Carlos Antonio Lopez e Francisco Solano López dominaram o pais durante 60 anos, até a derrota militar diante do Brasil, da Argentina e do Uruguai, na mais sangrenta das guerras continentais, que nos custou imensos sacrifícios em recursos e em sangue. Outros ditadores viriam, entre eles Stroessner, que tiranizou o país durante 31 anos.

Diante da declaração de guerra que nos fez o Paraguai e dos atos hostis que se seguiram, com a agressão a Uruguaiana e a ocupação de território brasileiro no Mato Grosso, não houve escolha. Como todos os conflitos bélicos, o da Tríplice Aliança não se fez só de heroísmo. Infelizmente, com a saída de Caxias, os atos finais da guerra, sob o comando do genro de Pedro II, o francês Conde d’Eu, não nos dignificam: as tropas vitoriosas foram cruéis, principalmente ao degolar os prisioneiros inermes – entre eles, velhos e adolescentes – que estavam com López em Cerro Corá, quando o ditador foi encurralado e morto.

O ressentimento paraguaio é natural, e é natural que façamos o possível a fim de estabelecer relações realmente amistosas com o pequeno país mediterrâneo. Essa atuação, que é de nosso interesse nacional, não pode desfazer os fatos históricos que nos levaram ao conflito. Francisco Solano López, ao contrário de seu pai que criara poderoso exército de dissuasão, para a defesa de uma nação sem mar - cercada de países poderosos, como o Brasil e a Argentina - foi contaminado pela febre da arrogância, e supôs que seria capaz de vencer os vizinhos. Não mediu o potencial da Tríplice Aliança. Poderíamos ter sido mais exigentes com o Paraguai, nas negociações de paz.

Foi, no entanto, um erro estratégico construir a represa de Itaipu no paralelo em que ela se encontra. A idéia anterior era a de levantá-la bem ao norte, nos Saltos de Guairá, em território plenamente brasileiro. É certo que o represamento das águas do Paraná atingiria território paraguaio, mas era do projeto indenização ao vizinho pelo uso da área. O governo militar, porém, com seus planos geopolíticos no Cone Sul, agiram de outra forma.

A decisão brasileira de triplicar a remuneração do Paraguai pela energia que não usam é entendível, embora mereça alguma preocupação. Mas é preciso, também, que incentivemos os paraguaios a desenvolver seu país, e isso significa que suas elites devem reduzir as brutais diferenças entre ricos e pobres – muito maiores do que as que nos atingem. Não podemos, tampouco, considerar o Paraguai como o vizinho necessitado, que depende da caridade alheia. Ao respeitar a sua soberania - como respeitamos a dos demais vizinhos - devemos tratá-lo com igualdade, sem renunciar aos nossos direitos. É também de nosso dever exigir que não nos atirem às costas, como fazem alguns de seus jornalistas e políticos, a responsabilidade única por uma guerra que seus antepassados deflagraram, confiantes de que a ganhariam.

O ressentimento histórico dos paraguaios não pode ir ao ponto de ofender homens honrados de nosso país, como fez o ABC-Color, ao acusar o Senador Itamar Franco de usar “argumentos com que os nostálgicos do Império Brasileiro, porta-vozes da ditadura” humilharam o povo paraguaio. Itamar, como é de seu direito, manifestou-se contra o aumento do preço que pagamos pela energia que o Paraguai não utiliza. Além dos argumentos matemáticos, Itamar estranha o fato de que as contas da Itaipu-Binacional, desde que foi constituída, não são fiscalizadas pelo governo brasileiro, nem pelo TCU.

A aprovação das notas reversais pelo Senado não impede a necessária fiscalização, pelos governos brasileiro e paraguaio, sobre as atividades da empresa.

Um comentário:

Sepé Tiaraju disse...

Exatamente, aliás, foi somente com o aval brasileiro que se conseguiu captar os recursos externos para a construção da obra! O Brasil a financiou de certo modo! Que o Brasil colabore com o Paraguai é louvável, que o ajude a se desenvolver (principalmente com a rede de transmissão elétrica)compreensível. Não podemos crescer cercados de miséria (já vivemos assim em escala reduzida), mas acho temeroso rever um tratado já estabelecido! Só a insegurança jurídica a que isto pode levar...Itamar está atento!