31 de jul. de 2011

A GUERRA E SUAS VERSÕES

As guerras podem ser necessárias ou inevitáveis, segundo alguns. O que as torna mais insuportáveis é que nunca se concluem. Mesmo as contendas míticas, como a de Tróia, permanecem com sucessivas versões dramáticas, em que o heroísmo de alguns é contestado, e a astúcia de outros, execrada.

Neste mês de julho, há 67 anos, o primeiro escalão da FEB desembarcava em Nápoles. Os combatentes eram o sumo da sociedade brasileira de então, em que predominavam as atividades rurais. Mas parte deles procedia da classe média das cidades – como foram os pilotos do Primeiro Grupo de Caça. Há, até hoje, quem faça reparos à nossa participação no grande conflito. Resumo de um livro em que os brasileiros são desdenhados, editado na Itália há algum tempo, está circulando na internet, “Il Brasile in guerra. La partecipazione de la Força Expedicionária Brasileira alla campagna d’Itália, 1944-45, de Andréa Giannasi.

Diz o autor que mais de dois terços dos recrutas foram dispensados com os primeiros exames médicos do Exército ainda no Brasil: eram portadores de verminose, alguns estavam tuberculosos e havia muitos sifilíticos. Isso era verdade entre nós, mas, pelo que sabemos, a sociedade da Itália Meridional de então não era mais saudável. O autor procura menosprezar a necessidade e a importância do Brasil no conflito, e – como muitos analistas – busca atribuir a participação a uma questão de vaidade nacional, que teria custado tantas perdas humanas ao país. Vamos admitir essa razão de natureza política e, em algum momento, de planejamento histórico. Se os aliados ganhassem a guerra, como esperávamos – e ocorreu – o Brasil emergeria do conflito em posição destacada no continente, e no mundo. Não se tratava de razão menor, e procurava afastar um grande risco: se os nazistas ganhassem o conflito, o Sul do Brasil se transformaria, com a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e parte da Bolívia, na desejada “Germânia Austral”, o mais obsessivo dos projetos de Hitler. Não nos esqueçamos do que ocorria nos estados meridionais, de poderosa presença alemã e italiana. Além dos representantes diplomáticos e consulares, havia, na região, os delegados do Partido Fascista italiano e do Partido Nacional-Socialista da Alemanha. Os dois governos financiavam centenas de escolas em que se ensinavam o alemão e o italiano. Em São Paulo era numerosa a presença japonesa. Era poderosa pressão interna para que nos juntássemos ao Eixo, contra os aliados. E havia ainda os integralistas de Plínio Salgado, e outros.

Havia razões não só morais, na reação ao racismo germânico, como de geopolítica, para ficar ao lado dos aliados ocidentais. A declaração de guerra, no entanto, só veio depois da agressão abjeta que sofremos, na costa de Sergipe, com o afundamento de navios nacionais. Tive o privilégio de examinar os documentos alemães do período, e o que mais me tocou foi o Diário de Guerra do submarino U-507 que exerceu, sob a ordem direta de Hitler, a “caça livre” às embarcações brasileiras no quadrado marítimo escolhido. O comandante Harro Schacht anotou em seu Tageskrieg que, ao emergir na área, avistou um veleiro precário (tratava-se de um pequeno saveiro), cujo “capitão” saudara, sorrindo, o submarino, acenando com seu chapéu de palha. Schacht não o poupou: como a caça fosse diminuta, não gastou com ela torpedo: mergulhou e soltou uma bomba de profundidade, emergindo em seguida. De acordo com suas ordens de guerra, não se dispôs a salvar nenhum dos náufragos.

A agressão da costa de Sergipe provocou irada reação do povo brasileiro. Propriedades de alemães e italianos foram destruídas e saqueadas. O povo foi às ruas para exigir a guerra aos atacantes. E foi a morte de mais de mil brasileiros nesses ataques que nos levou à imediata declaração de guerra e à preparação do corpo expedicionário que enviamos à Itália.

Os nossos combatentes foram de extraordinária bravura na Europa. Eles, em sua maioria mestiços e homens do campo, eram rapazes simples. Não tinham o porte atlético dos nibelungos nórdicos, embora também participassem da FEB brasileiros descendentes de alemães e italianos, como o Sargento Wolff, um dos mais bravos heróis de nossas tropas. E foram esses homens simples que, com a sagrada ira da vingança contra a agressão traiçoeira e a bravura nos olhos e na alma, tomaram Monte Castelo, depois de duas tentativas frustradas, com terríveis baixas de nosso lado e se fizeram ainda mais valentes na conquista de Montese. Esses mesmos combatentes, em poucos dias, capturaram dois generais, oitocentos oficiais e 14.700 soldados alemães, em suma, a inteira 148ª. Divisão da Wehrmacht.

O mesmo heroísmo tiveram os jovens pilotos da FAB, quase todos da pequena classe média brasileira. Eram rapazes que haviam adquirido seus brevês pilotando leves aviões de lona, ou que aprenderam a voar para participar da expedição à Itália. Vinte e dois deles tombaram durante as missões.

O editor Leo Christiano reeditou, recentemente, os 34 números de “O Cruzeiro do Sul”, jornal dos pracinhas na Itália. Em seu segundo número, de 7 de janeiro de 1945, o jornal publica crônica de Rubem Braga que deve ser relida sempre. Depois de narrar o dia a dia de duro sacrifício do soldado da FEB, em sua “toca de raposa”, em terreno congelado - buraco onde deviam situar-se para o combate - o grande cronista lembra o dever dos cidadãos brasileiros para com o pracinha sem nome:

“Vocês são responsáveis pelo país dele, para onde ele voltará. Vocês, e não ele, são responsáveis por uma vida de decência, de liberdade do homem, de justiça social verdadeira. Que o sacrifício dele não seja em vão”.

Quando o sentimento de pátria se encontra tão desprezado em nosso país, o apelo de Rubem Braga, nesse texto de há 66 anos, é pleno de atualidade. Mais ainda no que se refere à decência.

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30 de jul. de 2011

O RETORNO À TRIBO

Li, com pavor, o documento “A European Declaration of Independence – 2083”, assinado por Anders Behring Brejvik, o exterminador de adolescentes de Oslo. O texto, em seu todo, é incongruente, repetitivo e capenga. Mas em seu início, revela bom conhecimento histórico – sempre distorcido, é certo - e a leitura fundamental da filosofia política, sobretudo dos autores marxistas, com predileção pela Escola de Frankfurt, a que ele atribui a difusão do “marxismo cultural”. É difícil acreditar que Brejvik, aos 32 anos, dedicados, em sua maior parte à caçada, ao fisioculturismo e aos jogos eletrônicos, seja portador do conhecimento ali exposto.

Não parece provável que ele tenha sido o único redator do documento, a não ser nas instruções para a preparação de explosivos, a partir de substâncias fertilizantes, e para o uso de armas. Trata-se, pelo que se deduz, de um documento coletivo ou, pelo menos, redigido com a participação de algum teórico do racismo de extrema-direita. No conjunto, no entanto, o texto faz lembrar outros documentos dos nazistas e fascistas – como é o caso de Mein Kampf. Ele, equivocadamente, nomeia Lukacs entre os fundadores da Escola de Frankfurt. O pensador húngaro é autor de extraordinário ensaio sobre a insânia do nazismo, “Die Zerstörung der Vernunft” (A destruição da razão), publicado em 1954. Cita Erich Fromm, Horkheimer, Adorno e Marcuse, entre outros. O provável co-autor do texto deve ter lido as obras marxistas que cita.

Como todos os documentos dessa natureza, redigidos a partir de uma visão maniqueísta do mundo, o manifesto de Brejvik é capaz de apodrecer a razão de muitas pessoas, desprovidas dos postulados básicos do Humanismo. Daí o terrível paradoxo em ele se identificar como “fundamentalista cristão”. O cristianismo é o contrário do que ele prega. A mensagem do racismo é simples, e pode perverter os desavisados e, assim, a lógica histórica: todos os que são diferentes não pertencem à minha mesma natureza, logo, são inimigos que devo eliminar. O segundo momento do racismo, que tem raízes na pré-história, é o da ocupação de espaço. A idéia do “espaço vital”, como revelam os livros elementares de antropologia, vem da disputa do território de caça pelas tribos primitivas. O “espaço europeu”, na visão desses racistas herdeiros da confusão mental de Gobineau e outros, está invadido pelo Islã. Essa migração, como qualquer pessoa bem informada disso sabe, resulta não de um projeto de conquista – como poderia ter sido a dos muçulmanos que invadiram militarmente a Europa no século 8 – mas da exploração impiedosa pelos países europeus (e, mais recentemente, pelos Estados Unidos) dos recursos do Oriente Médio. Essa ânsia de saqueio do petróleo – e outros recursos - promoveu as guerras brutais contra os povos daquela região. É natural que busquem onde possam sobreviver.

O assassino de Oslo cita várias vezes o Brasil como exemplo do caos da miscigenação. Atribui, a essa promiscuidade “racial”, as desigualdades e a corrupção. Ele pode citar o seu próprio país como exemplo de coesão nacional e alguma igualdade social (da qual, como se sabe, estão excluídos os imigrantes), mas se esquece de que uma nação de grandes recursos naturais, de menos de cinco milhões de habitantes, equivalente a uma das capitais brasileiras, é quase tão fácil de governar como o rico Principado de Mônaco. E, ao contrário do que insinua o texto, não são os mestiços, pobres em sua maioria, os principais corruptos, mas, sim, a elite branca, que descende dos colonizadores europeus.

É um erro considerar o massacre de Oslo como ato isolado de um psicopata. A psicopatia de homens como Brejvik tem origem na patologia da injustiça da civilização contemporânea. Como apontou Melanie Philipps, do Daily Mall, “Brejvik talvez seja um psicopata desequilibrado, mas o que emerge agora de seu ato atroz é o delírio de uma cultura ocidental que perdeu a sua razão”.

Outra opinião importante, essa de um sociólogo norueguês, que se dedica ao estudo dos problemas da guerra e da paz, Johan Gulgag, é a de que “é fácil “psiquiatrizar” o ato de Brejvik, e não ver a gravidade das idéias” que devem ser combatidas agora e em todos os paises da Europa, antes que seja tarde.

A democracia não pode ser tolerante com os que proclamam o genocídio como ato político, e o assassinato em massa como virtude. Hitler não enganou ninguém. Quando havia ainda tempo de fechar-lhe o caminho, paises como a Grã Bretanha e da França foram cúmplices tolerantes da anexação da Áustria e dos Sudetos. Essa atitude promoveu a ereção dos fornos crematórios de Auschwitz e a morte, em combate e no massacre à população civil, de cerca de 50 milhões de seres humanos.

Como alguém lembrou, os muçulmanos de hoje são os judeus, os ciganos, os eslavos e os comunistas de ontem. E os judeus de Tel Aviv não são mais os que resistiram ao assalto ao Gueto de Varsóvia.


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OS MIMOS DA HIPOCRISIA

A imprensa tem repercutido o texto de um grupo de especialistas em política internacional do Conselho de Relações Internacionais de Nova Iorque, sobre o protagonismo do Brasil no grupo das potências emergentes. O documento aconselha aos “policy makers” norte-americanos que vejam o nosso país com outros olhos, e reconheçam a sua situação de ator global, e aproveitem sua emergência, como uma oportunidade para que os Estados Unidos trabalhem com o Brasil, no desenvolvimento de políticas complementares. O documento insta aos formuladores da política externa que apóiem decisivamente a postulação brasileira de integrar o Conselho de Segurança da ONU.

Devemos ver os elogios com prudência. É certo que, como resultado da conjuntura internacional, com as dificuldades econômicas dos Estados Unidos, provocadas pelos dos déficits brutais das aventuras bélicas, e os problemas da Comunidade Européia, agravados pelos desatinos dos grandes bancos, o Brasil passou a ser o destino de fortes investimentos. É preciso atentar para o fato de que a nova economia brasileira surgiu das políticas compensatórias do governo Lula: a injeção de poucos reais no orçamento miserável das famílias mais pobres do país iniciou o ciclo virtuoso do desenvolvimento, com mais consumo, mais produção, mais investimentos, mais empregos, mais educação e mais tecnologia.

Os elogios diplomáticos e o forte afluxo de capitais externos nos estimulam à auto-estima, mas reclamam reflexões profundas, aconselhadas pela boa cautela. Um país se torna mais vulnerável aos seus competidores quando se encontra em ascensão, como é o nosso caso. Isso nos obriga a buscar defender a nossa autonomia, e criar instrumentos de dissuasão, diante das possíveis ameaças externas. Assim, é necessário modernizar e equipar devidamente as forças armadas. Por melhores sejam as nossas relações com os vizinhos mais próximos, devemos atentar para o fato de que são conhecidos na História os atos de provocação engendrados por terceiros, a fim de promover a cizânia entre os povos irmãos.

Temos, nestes últimos tempos, sido pacientes no diálogo com os paises aparentemente mais débeis, e firmes nas negociações com os mais poderosos, sem arrogância, mas sem submissão. É este o caminho a seguir. Nunca tivemos ambições expansionistas. Isso não nos inibe de expor as nossas idéias e sugestões sobre o convívio internacional.

Os cidadãos se empenham hoje no apoio às iniciativas de combate ao peculato e à corrupção tanto na administração pública quanto na estrutura do poder legislativo e do poder judiciário. Essa postura é necessária, a fim de assegurar a nova visão que os estrangeiros têm de nosso país. Um povo que não se respeita, não merece o respeito dos outros. Quando muito recebe, e com ironia, os mimos da hipocrisia.


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OS ASSALTANTES DA CONSCIÊNCIA

Muitos cometemos o engano de atribuir a Goebbels a idéia da manipulação das massas pela propaganda política. Antes que o ministro de Hitler cunhasse expressões fortes, como Deutschland, erwacht!, Edward Bernays começava a construir a sua excitante teoria sobre o tema.

Bernays, nascido em Viena, trazia a forte influência de Freud: era seu duplo sobrinho. Sua mãe foi irmã do pai da psicanálise, e seu pai, irmão da mulher do grande cientista. Na realidade, Bernays teve poucas relações pessoais com o tio. Com um ano de idade transferiu-se de Viena para Nova Iorque, acompanhando seus pais judeus. Depois de ter feito um curso de agronomia, dedicou-se muito cedo a uma profissão que inventou, a de Relações Públicas, expressão que considerava mais apropriada do que “propaganda”. Combinando os estudos do tio sobre a mente e os estudos de Gustave Le Bon e outros, sobre a psicologia das massas, Bernays desenvolveu sua teoria sobre a necessidade de manipular as massas, na sociedade industrial que florescia nos Estados Unidos e no mundo. O texto que se segue é ilustrativo de sua conclusão:

“ A consciente e inteligente manipulação dos hábitos e das opiniões das massas é um importante elemento na sociedade democrática. Os que manipulam esse mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível, o verdadeiro poder dirigente de nosso país. Nós somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos formados, nossas idéias sugeridas amplamente por homens dos quais nunca ouvimos falar. Este é o resultado lógico de como a nossa “sociedade democrática” é organizada. Vasto número de seres humanos deve cooperar, desta maneira acomodada, se eles têm que conviver em sociedade. Em quase todos os atos de nossa vida diária, seja na esfera política ou nos negócios, em nossa conduta social ou em nosso pensamento ético, somos dominados por um relativamente pequeno número de pessoas. Elas entendem os processos mentais e os modelos das massas. E são essas pessoas que puxam os cordões com os quais controlam a mente pública”.

Bernays entendeu que essa manipulação só é possível mediante os meios de comunicação. Ao abrir a primeira agência de comunicação em Nova Iorque, em 1913 – aos 22 anos – ele tratou de convencer os homens de negócios que o controle do mercado e o prestígio das empresas estavam “nas notícias”, e não nos anúncios. Foi assim que inventou o famoso press release. Coube-lhe também criar “eventos”, que se tornariam notícias. Patrocinou uma parada em Nova Iorque na qual, pela primeira vez, mulheres eram vistas fumando. Contratou dezenas de jovens bonitas, que desfilaram com suas longas piteiras – e abriu o mercado do cigarro para o consumo feminino. Dele também foi a idéia de que, no cinema, o cigarro tivesse, como teve, presença permanente – e criou a “merchandising”. É provável que ele mesmo nunca tenha fumado – morreu aos 103 anos, em 1995.

A prevalência dos interesses comerciais nos jornais e, em seguida, nos meios eletrônicos, tornou-se comum, depois de Bernays, que se dedicou também à propaganda política. Foi consultor de Woodrow Wilson, na Primeira Guerra Mundial, e de Roosevelt, durante o “New Deal”. É difícil que Goebbels não tivesse conhecido seus trabalhos.

A técnica de manipulação das massas é simples, sobretudo quando se conhecem os mecanismos da mente, os famosos instintos de manada, aos quais também ele e outros teóricos se referem. O “instinto de manada” foi manipulado magistralmente pelos nazistas e, também ali, a serviço do capitalismo. Krupp e Schacht tiveram tanta importância quanto Hitler. Mas, se sem Hitler poderia ter havido o nazismo, o sistema seria impensável sem Goebbels. E Goebbels, ao que tudo indica, valeu-se de Bernays, Le Bon e outros da mesma época e de idéias similares.

A propósito do “instinto de manada” vale a pena lembrar a definição do fascismo por Ortega y Gasset: um rebanho de ovelhas acovardadas, juntas umas às outras pêlo com pêlo, vigiadas por cães e submissas ao cajado do pastor. Essa manipulação das massas é o mais forte instrumento de dominação dos povos pelas oligarquias financeiras. Ela anestesia as pessoas - mediante a alienação - ao invadir a mente de cada uma delas, com os produtos tóxicos do entretenimento dirigido e das comunicações deformadas. É o que ocorre, com a demonização dos imigrantes “extracomunitários” nos países europeus, mas, sobretudo, dos procedentes dos países islâmicos. Acossados pela crise econômica, nada melhor do que encontrar um “bode expiatório”- como foram os judeus para Hitler, depois da derrota na Primeira Guerra - e, desesperadamente, organizar nova cruzada para a definitiva conquista da energia que se encontra sob as areias do Oriente Médio. Se essa conquista se fizer, há outras no horizonte, como a dos metais dos Andes e dos imensos recursos amazônicos. Não nos esqueçamos da “missão divina” de que se atribuía Bush para a invasão do Iraque – aprovada com entusiasmo pelo Congresso.

É preciso envenenar a mente dos homens, como envenenada foi a inteligência do assassino de Oslo – e desmoralizar, tanto quanto possível, as instituições do Estado Democrático – sempre a serviço dos donos do dinheiro. Quem conhece os jornais e as emissoras de televisão de Murdoch sabem que não há melhor exemplo de prática das idéias de Bernays e Goebbels do que a sua imensa empresa.

São esses mesmos instrumentos manipuladores que construíram o Partido Republicano americano e hoje incitam seus membros a impedir a taxação dos ricos para resolver o problema do endividamento do país, trazido pelas guerras, e a exigir os cortes nos gastos sociais, como os da saúde e da educação. Essa mesma manipulação produziu Quisling, o traidor norueguês a serviço de Hitler durante a guerra, e agora partejou o matador de Oslo.


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24 de jul. de 2011

POLÍTICA É CONVERSA

Exercer o poder é seduzir na democracia e atemorizar no despotismo. Os tiranos governam com o terror, mas os verdadeiros líderes conquistam o coração das pessoas. O maior político brasileiro do século 20 (e, provavelmente, de toda a história nacional) foi Getúlio Vargas. Ele tinha o prazer quase glandular de conversar com seus adversários e de conquistá-los. Não deixou de fazê-lo nem mesmo durante o Estado Novo, embora com mais cuidado e discrição.

Vargas recebia regularmente os parlamentares que o quisessem ver, em dias certos, e pela ordem de chegada ao gabinete. Dava a mesma atenção a todos, anotando suas reivindicações. Em suma, negociava, com seu sorriso conhecido, suas frases amáveis, sua insuperável simpatia pessoal.

Assim como os líderes têm o prazer de seduzir, os liderados gostam de ser seduzidos. O poder confere aura quase divina aos que o exercem. O contato pessoal e a conversa são indispensáveis aos governantes, em todas as esferas do Estado. Os monarcas tinham um dia especial, em que recebiam o preito dos súditos. Havia, naturalmente, seleção rigorosa para o acesso ao paço, mas era rito de renovação do contrato entre o soberano e a sociedade.

Ainda que os líderes partidários tivessem influência na administração republicana, os presidentes não os ouviam, necessariamente, na formação dos ministérios. A escolha, em rigorosa obediência à Constituição, era do arbítrio pessoal do Chefe de Governo. Muito antes de Getúlio, Afonso Pena (presidente entre 1906 e 1909), exporia, em conhecida carta a Rui Barbosa, a sua fórmula, para explicar a juventude de seus auxiliares:

“Na distribuição das pastas não me preocupei com a política, pois essa direção me cabe, segundo as boas normas do regime. Os ministros executarão meu pensamento. Quem faz a política sou eu”.

Um dos efeitos danosos do regime militar que sofremos foi o da nítida separação entre o povo e o poder. O mais autoritário dos presidentes militares, Garrastazu Médici, valeu-se de sua condição de torcedor de futebol para criar falso vínculo com o povo, mas se tratou de artifício demagógico que não teve conseqüências de ordem política.

Há, no Brasil – e para o benefício dos dirigentes – superestimação do poder dos partidos e da obediência a que devem sujeitar-se os que se elegem sob suas legendas. O nosso sistema constitucional não estabelece o mandato imperativo, ainda que os novos legisladores nacionais, ou, seja, os juízes do STF, tenham aprovado a esdrúxula norma de que os mandatos não pertencem aos seus titulares (que receberam os votos nominais populares), mas, sim, a seus partidos, que, em sua maioria, nada significam em matéria de programas e de doutrinas. Não havendo mandato imperativo, os dirigentes partidários não podem impor a seus parlamentares o apoio ou o não apoio a medidas propostas pelo Poder Executivo. Conforme a máxima magistral de Burke, o grande homem de estado britânico, ao eleger-se, o parlamentar só deve fidelidade à Nação e à sua consciência.

Sendo assim, a Presidente Dilma Roussef pode, se quiser, conversar pessoalmente com os parlamentares mais respeitados e ouvidos – das duas Casas do Congresso – e construir, diretamente, o apoio político necessário a seu governo.

Ela deve estar sentindo a forte aprovação popular aos seus esforços pela moralização da administração do Estado. É uma tarefa difícil e penosa, mas necessária. Em 1930, diante da visível erosão da República, com o abuso da Comissão de Verificação de Poderes que cassava, in limine, os mandatos de parlamentares independentes, e não lhes permitia a posse nos cargos para os quais haviam sido eleitos, as atas eleitorais fraudadas nas eleições majoritárias, e o autoritarismo de Washington Luís, ao impor o nome de Júlio Prestes como seu sucessor, o governador de Minas, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, cunhou a frase forte:

“Façamos a revolução, antes que o povo a faça”. E a Revolução se fez, em outubro daquele ano, com o entusiasmo do povo.

Dilma poderá promover a moralização do Estado. O povo que foi às ruas – nas memoráveis campanhas de 1984, pelas eleições diretas e em 1992, contra a corrupção – pode bem a elas voltar, a fim de garantir à Presidente o seu apoio na tarefa de devolver o Estado à Nação.

A passeata convocada para São Paulo, , por algumas das principais entidades sindicais do país, e o propósito, anunciado pelo governo, de desonerar a folha de pagamento de alguns setores industriais não nos remetem a Marx e a seus discípulos, mas nos fazem retornar a Platão. No mais político de seus Diálogos, o deGórgias, ele reconstitui — ou cria — discussão entre Sócrates, Górgias, Querefonte, Polo e Calicles. Sócrates vence, e convence, ao afirmar que a melhor forma de viver é a de praticar a justiça, além de todas as outras virtudes, e arrasa seu oponente, ao completar que de nada vale a argumentação de Calicles de que o Estado existe, e deve existir, em favor dos poderosos — e contra os débeis.

O jovem e rico contendor do filósofo chega a citar Píndaro, em seu verso conhecido, segundo o qual a força faz o direito. A isso se opõe Sócrates, reclamando o papel do Estado como garantidor da justiça, mediante as leis. Enfim, o Estado só é legítimo quando protege os débeis.

É interessante a posição de certos empresários, ao reclamar contra os direitos trabalhistas. Quando a economia vai mal, eles se queixam, e argumentam que a flexibilização das leis do trabalho favorece o aumento do nível de emprego; quando a economia vai bem, o que ocorre agora, alegam que não conseguem competir com a importação de bens industriais, a não ser com o sacrifício dos trabalhadores.

Ora, para alguns patrões, nada melhor do que uma sociedade econômica sem salários, e é o que buscam, na automação, a cada dia maior, dos processos industriais. Ainda agora, uma empresa de Taiwan anuncia a produção de 1 milhão de robôs para a indústria da China. Bem argumentam os que consideram a sociedade industrial contemporânea a mais injusta de quantas houve na História.

Como não pode haver produção sem consumo, nem consumo sem salários, o aumento da desigualdade leva a crises econômicas profundas, como mostram os exemplos de 1929 aos nossos dias.

As medidas anunciadas ontem pelo governo em seu conjunto são necessárias. A preferência pela compra de produtos e serviços nacionais pelo Estado é boa providência, e melhor seria se, como produtos nacionais, só fossem considerados os procedentes de firmas realmente brasileiras, e não dentro da latitude imposta pelas emendas constitucionais do governo neoliberal de Fernando Henrique.

Hoje, qualquer empresa, de capital externo, constituída no Brasil, ou adquirida de brasileiros, é considerada nacional. É um bom começo, embora parcela importante do que economizarmos com a redução das importações venha a ser consumida na remessa de lucros ao exterior pelas multinacionais. Esse primeiro passo, ao que parece, será seguido de outros. Conforme disse Mantega, é preciso proteger os produtores brasileiros contra os aventureiros que vêm de fora.

Apesar de tudo isso, os reais produtores, que são os que trabalham no pátio das fábricas, buscam, como é de seu direito, e de justiça, negociar com ganho real os acordos anuais de salários. Lutam também pela redução da jornada de trabalho, pelo fim do fator previdenciário, e pela regulamentação da terceirização, esse instrumento impiedoso de compra e venda da força e inteligência do trabalho — com lucros espantosos. Daí, a passeata anunciada para hoje em São Paulo.

O mundo vive momento novo, dentro da velha injustiça que, pelo que vemos, já era objeto das especulações de Platão. Como a injustiça é o resultado da insensatez, os congressistas norte-americanos não foram assistidos da razão, ao debitar aos pobres a espantosa dívida do país. Não foram os pobres que gastaram as centenas de bilhões de dólares nas aventuras militares do Oriente Médio, que se somam às cifras inimagináveis consumidas em outras expedições de saqueio pelo mundo afora.

E por falar em aventuras militares, convém ler com atenção o artigo do almirante Mário César Flores, ontem publicado em O Estado de S. Paulo sobre a pouca percepção que os brasileiros têm da importância e necessidade de forças apropriadas para a defesa da soberania nacional. As Forças Armadas devem ser suficientemente poderosas a fim de dissuadir eventuais agressores à nossa soberania geográfica e política.

Não asseguramos saúde de qualidade, e não cuidamos bem dos homens aos quais incumbe a defesa do país

Não temos cuidado de erguer e solidificar os pilares de nossa liberdade e segurança no mundo. A educação elementar é desdenhada. Proliferam, graças ao liberalismo oficial, universidades privadas sem qualidade autorizadas a explorar o sonho dos pobres. Não conseguimos assegurar saúde pública universal de qualidade, e não cuidamos bem dos homens aos quais incumbe a defesa do país.

E uma boa notícia. Ao assegurar a liberdade de trabalho para os músicos, contra a filiação compulsória à Ordem dos Músicos do Brasil, o STF dá mais um passo contra a praga do corporativismo, em favor da plena liberdade de trabalho e de expressão cultural dos cidadãos, conforme os princípios basilares da democracia republicana.



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O MONOPÓLIO E A LIBERDADE

Imaginemos, já que a isso não nos impedem, o que seria da França de 1789 a 1793, se os mais de duzentos jornais que circularam em Paris pertencessem a um só homem. Se esse homem fosse girondino, a revolução seria paralisada e contida; se fosse jacobino, nada a moderaria, em sua incontida fúria durante o Terror. Ampliemos essa hipótese, e imaginemos que todos os meios de comunicação do mundo pertençam, em um futuro qualquer, a uma única empresa. Como todos sabem, o acionista majoritário de qualquer empresa tem mais poder em seu universo de mando, do que o chefe de estado democrático, dependente de dois outros poderes em vigilância permanente.

Pensemos agora no Sr. Rupert Murdoch e seus duzentos veículos de comunicação na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, com interesses também poderosos na América Latina e na Ásia. Há 58 anos, Murdoch era herdeiro de um pequeno jornal em Adelaide, na Austrália. Pouco a pouco foi expandindo a sua rede no país e, quando pôde chegou à Grã Bretanha e aos Estados Unidos. Como todas as grandes empresas de comunicação, o seu império tem uma ideologia e, nos países em que atua, seu partido e homens públicos de sua confiança. Murdoch sabe que, nos tempos modernos, os partidos já perderam seus princípios ideológicos, e que tanto os conservadores como os trabalhistas, na Grã Bretanha, quanto os republicanos nos Estados Unidos, são separados por frágeis artifícios retóricos.

Foi assim que, depois de apoiar os governos de Thatcher e Major, na Inglaterra, somou-se a Blair e a Gordon Brown, e, agora, seus jornais estão na retaguarda de David Cameron. Nos Estados Unidos, no entanto, Murdoch ainda não “digeriu” Obama. Continua fiel aos republicanos de Reagan e dos dois Bushes.

Os jornais de Murdoch que lhe dão mais lucro e leitores são papéis de sarjeta, mas financiam os prestige papers, dos quais se vale para, em linguagem mais séria e elegante, sustentar posições políticas conservadoras. A fim de manter tiragens elevadas, ele aprimorou a técnica dos blood papers famosos, britânicos e não britânicos – como o Bild Zeitung, de Hamburgo, o mais notável dos tablóides da direita alemã. O Bild é tablóide na linguagem e, no formato é tradicional, broadsheet. A linguagem dos tablóides, como a de certos programas populares de televisão, é a mais adequada para o proselitismo político das massas. Os jornalões que possui servem para conferir-lhe o simulacro de respeitabilidade.

A tablodização da política é o grande escopo dos jornais e das emissoras de televisão controladas pelo Sr. Rupert Murdoch, que não é personagem vulgar, como Berlusconi, mas homem de excelente formação universitária em Oxford. Ele, que começou a vida aos 21 anos, editando o jornal da família, sabe muito bem o que determinar aos editores de sua imensa rede de tablóides: é preciso atrair os leitores com um jornalismo policial ágil e de suspense, com a continuidade nervosa das matérias, como nos filmes de Hitchcok. Para isso, todos os meios parecem adequados, entre eles o conluio abjeto entre os chefes de redação e os policiais, como os dirigentes da Scotland Yard, o uso de delatores, detetives e informantes, mediante pagamento e a interceptação telefônica. Convém lembrar a atuação canalha da Scotland Yard no caso do brasileiro Jean Charles (também vítima do News of the World, segundo se informa).

A revelação de que o jornal agiu de forma tão criminosa no caso de Milly Dowler – o que faz seus responsáveis cúmplices de Levi Bellfield, o serial killer que assassinou a menina de 13 anos – só ocorreu recentemente. E foi encontrado morto o jornalista Sean Hoare, que denunciou a prática de escutas ilegais e manipulação eletrônica dos telefones pela redação do jornal de Murdoch. É uma macabra coincidência, se coincidência for – e mesmo as coincidências têm raízes na realidade.

O escândalo está abalando a velha Inglaterra, e o primeiro ministro conservador David Cameron não conseguiu dizer coisa com coisa em seu comparecimento à Câmara dos Comuns. Sua resposta aos parlamentares da oposição foi pífia. Aos quarenta e cinco anos, o primeiro ministro está longe, muito longe, de homens que ocuparam, no passado, o mesmo cargo. Era bem diferente e distante dos dois jovens Pitt que ocuparam o mesmo cargo no século 18: o “velho”, pai, aos 44 anos, e o “jovem”, filho, aos 24 – ambos gigantes da política, como foi também Churchill no século passado. Foram lamentáveis diante da História os argumentos de Cameron, em pouco diferentes da mediocridade oratória de Thatcher e Major e dos mentirosos Blair e Brown.

O problema é que muitos europeus advogam a extinção da liberdade de imprensa, a fim de impedir crimes como os dos jornais de Murdoch. O problema é outro: é o da concentração dos meios de comunicação em empresas capitalistas que não oferecem informações e opiniões divergentes, mas, sim, vendem escândalos e chantageiam os políticos, além de servirem a projetos ideológicos totalitários.

A liberdade de expressão para todos é necessária. O monopólio da propriedade dos meios de comunicação é nocivo. Uma serve aos homens; a outra serve à tirania e à injustiça.


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22 de jul. de 2011

MEMÓRIA DE JANGO

Não tive ainda a oportunidade de ler o livro do professor Jorge Ferreira sobre o Presidente João Goulart, mas a simples evocação do grande brasileiro me conduz a algumas lembranças pessoais de um homem solidário com seu povo e que conquistava todos os que o conheciam.

Em 1953, logo depois de nomeado Ministro do Trabalho, Jango visitou Belo Horizonte. Fui encarregado pelo Diário de Minas, onde trabalhava, de acompanhá-lo, em seus contatos oficiais e com os líderes sindicais mineiros. Jango vestia um terno branco, de linho irlandês

S120 (para os que ainda se lembram daquele tempo). Em determinado momento alguém lhe fez um pedido, ele não encontrou caneta nem papel em seus bolsos e apelou para o jovem repórter que se encontrava ao lado. Ofereci o que tinha, uma folha de papel e uma caneta Sheaffers, de tinta azul. Por uma dessas imprevisíveis fatalidades, a caneta começou a soltar a tinta, sujando as mãos do Ministro. Jango, em ato contínuo, limpou suas mãos no próprio paletó, até então imaculadamente limpo. Fiquei constrangido, e ele me disse que não me incomodasse - continuaria usando a caneta – e retirou do bolso um lenço, passando a usá-lo para limpar os dedos, a cada vez que escrevia.

Em 1975, estive em Buenos Aires para redigir um livro sobre a Argentina. Visitei o escritório comercial de Jango, instalado no centro da cidade. Conversamos sobre os dois países e a situação política. O presidente se lembrou do nosso exílio em Montevidéu - quando nos vimos algumas poucas vezes – de Belo Horizonte e de minha caneta esbodegada.

Tu me deves um terno de linho irlandês, lembrou para o meu desconforto, e sorriu. Como eu estivesse em companhia de Wania, minha mulher, cujo sofrimento nos meses que se seguiram ao golpe ele conhecia, bateu-me afetuosamente no ombro, enquanto a olhava, e disse: - Se os militares te fazem a vida impossível, vem com tua família. Na estância haverá um lugar para todos, e não faltará uma ovelha para carnear.

Foi a última vez que o vi. Fiquei preocupado porque ele mantinha sempre à mão comprimidos de trinitrina: sofria de cardiopatia, e o remédio, poderoso, serviria para, em caso de urgência, dilatar os vasos até o socorro médico. No ano seguinte, em dezembro de 1976, quatro meses depois de Juscelino, Jango morreria no exílio. Cinco meses mais tarde, em maio de 1977, seria a vez de Lacerda. Tancredo duvidava daquela coincidência: em menos de um ano, os três morreriam, a seu ver, de forma estranha. Segundo informações posteriores, um agente, a serviço da Operação Condor, teria trocado o vasodilatador por outra droga, o que teria matado JANGO em sua estância argentina.

Jango não escolhera seu destino. Filho de rico estancieiro, ao aproximar-se de Vargas, comoveu-se com a vida austera e discreta do ex-presidente, confinado em sua fazenda do sul. Não era um intelectual, como Lacerda, nem um visionário, como foi Juscelino, com os quais tentou a famosa Frente Ampla contra a ditadura. Aprendera, com Getúlio, a respeitar os trabalhadores e dava real importância às organizações sindicais, como contraponto às sólidas e poderosas instituições patronais.

Em 1954, ao cobrir os fatos que se seguiram à morte de Vargas, vi quando Jango – que morava em um hotel de Copacabana – chegou ao Catete, tirou do bolso um documento e leu em silêncio, o rosto tenso. Provavelmente se tratava de cópia da carta-testamento que Getúlio lhe entregara antes de terminar a reunião ministerial, da noite anterior, com a observação de que se tratava de um assunto a ser resolvido no dia seguinte – como se soube depois. Essa foto ilustrou, se não me falha a memória, a matéria que redigi sobre os fatos, e foi publicada na edição de 26 de agosto do Diário de Minas.

Ele estava desolado, como o filho que perde o pai, o viajante que perde o caminho. Mas, no dia seguinte, logo depois do sepultamento de Getúlio, em São Borja, reuniu-se a Oswaldo Aranha e a Tancredo Neves. Os três avaliaram a situação e concluíram que era necessário colocar nas ruas uma candidatura presidencial, a fim de coibir o golpe antinacional que estava em marcha, sob o governo frouxo e cooptado de Café Filho. Ali se decidiu que a candidatura de Juscelino – um dos favoritos de Vargas – fosse lançada em seguida.

Jango tinha uma visão de Estado que continua válida até hoje. Se ele houvesse conseguido realizar as reformas de base – principalmente a agrária e a bancária – o Brasil teria chegado a seu futuro mais cedo. Os trabalhadores do campo escapariam das brutais condições impostas pelo latifúndio, aumentaria a produção de alimentos e, como ocorreu em outros países, seria ampliado o mercado interno para a indústria nacional. A reforma bancária colocaria ordem no sistema financeiro­ – providência a cada dia mais necessária, aqui e em todas as partes. O golpe de 1964 atrasou o processo de construção nacional, que só foi retomado com Itamar, para em seguida frustrar-se durante oito anos, e ser retomado por Lula, com sua política social que libertou milhões de brasileiros da miséria. Jango, estancieiro rico, que chegara à política pela solidariedade pessoal para com Vargas, tornou-se, pelos seus atos, corajosos e patrióticos, um homem de seu povo.


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O TITANIC E O MAR DE ICEBERGS

O ministro das Finanças da Itália, Giulio Tremonti, advertiu que “a Europa pode afundar, como o Titanic”. Desde a crise norte-americana que os observadores anunciam o desastre. Entre as várias causas está a ilusão de que é possível unificar a Europa, a partir da economia. Enquanto todos os países se encontravam mais ou menos na mesma situação, foi possível estabelecer a Comunidade do Carvão e do Aço e, pouco a pouco, criar os mecanismos de integração.

O Tratado de Roma foi assinado por países que se encontravam mais ou menos na mesma situação: Alemanha, França, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. Ao ampliar-se a comunidade, com a adesão de países periféricos, começaram a surgir os problemas de convivência. Os que chegavam, chegavam com mais necessidades. Os estadistas europeus atuaram com grande sensibilidade, acossados pela memória das guerras continentais, principalmente a de 1914 a 1918 e a de 1939 a 1945.

A criação do euro, em 1998 (entrando em circulação em 1º de janeiro do ano seguinte) culminou o processo de integração, mas ficaram, e astutamente, fora da moeda única a Inglaterra e outros países. Ora, tratava-se de uma sociedade em que havia ricos e havia pobres. Não era possível que, em um passe de mágica, países de economia relativamente débil — como Espanha e Portugal, que ao integrar-se ainda não se haviam recuperado das ditaduras de direita — pudessem andar no mesmo passo.

Os países ricos os favoreceram com financiamentos, alguns, como para certas obras de infraestrutura, a fundo perdido. Mas todas essas medidas não eliminavam as dificuldades da adoção de uma moeda única em economias tão desiguais. Embora a União Europeia pudesse aconselhar determinadas providências de ordem tributária e de política social, a autonomia política impedia, e é bom que assim seja, uma ação comum ditada pelos mais fortes.

A situação vinha sendo administrada, bem ou mal, até que a queda do Muro de Berlim estimulou os centros mundiais do poder financeiro a deixarem os seus cuidados retóricos e decretarem, com insolência, a prevalência do mercado contra o estado. Com a cumplicidade dos governantes (e, no capítulo, estivemos muito mal), caíram as fronteiras alfandegárias, desnacionalizou-se a indústria dos países periféricos e se privatizaram as empresas públicas.

Os centros de decisão se transferiram dos gabinetes presidenciais e dos parlamentos para os encontros, discretos uns e ostensivos outros, dos grandes financistas que controlam o dinheiro do mundo. Ocorre que ética e lógica caminham juntas, como filhas da razão. Quando uma se ausenta, a outra desaparece. A voracidade do capital, ao violar a ética, perde a lógica. Foi assim que o mercado dos derivativos se tornou o buraco negro das finanças mundiais: criou-se um capital fictício, que alimentou os grandes especuladores e levou milhões à miséria.

Os governos, sem embargo da clareza do problema, em lugar de deixarem que os banqueiros paguem pelos excessos de suas ambições, tratam de salvá-los, em nome da estabilidade. Como alguém tem que pagar a conta, pagam os de sempre, isto é, os pobres e os não ricos. Pagam com a redução dos serviços sociais, de saúde, educação e segurança, e pagam com o desemprego.

A alguns ministros italianos de Berlusconi faltam credenciais da honra, mas a metáfora do Titanic é válida. Ocorre que a Europa não tem pela frente um só iceberg. Ela navega em mar pejado dessas montanhas de gelo. Os Estados Unidos estão encalhados no saguão do Capitólio, à espera que o nível de endividamento se eleve, para sua salvação; a China começa a desconfiar de que seu extraordinário crescimento lhe trará pesadas dificuldades no convívio internacional: seus fabulosos créditos no mundo podem esfarinhar-se na catástrofe que se espera. Todos os países passam pela mesma inquietude. A saída é fácil, se houver a decisão política de tirar a moeda das mãos dos banqueiros e, com isso, expulsá-los do poder ilegítimo que exercem no mundo.

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19 de jul. de 2011

PERIGOS DO RETROCESSO

Há algumas atitudes do governo que começam a preocupar os setores mais sensatos da intelectualidade e dos meios sindicais brasileiros. É notória a pressão que vem sofrendo a presidente Dilma Rousseff para que se desvie de seu projeto de combater as desigualdades, internas e entre as nações. Como sempre, querem que o governo governe “para o mercado”, e não para o povo. Foi importante, e politicamente natural, que as organizações populares dessem todo o seu apoio ao presidente Lula, e aceitassem alguns sacrifícios, em nome da estabilidade governamental.

Os sindicatos admitiram que o governo convocasse grandes empresários nacionais a fim de constituir um conselho – extraconstitucional – para assessorar a administração, no qual os trabalhadores não tinham peso equivalente. Da mesma forma, eles admitiram alianças para que o presidente da República pudesse dispor de maioria no Congresso Nacional. Mas, agora, é importante que os trabalhadores e os jovens exerçam sua vigilância e se manifestem, porque, sob o disfarce do entendimento nacional, as mesmas forças entreguistas de sempre voltam a se articular para a retomada do processo de privatizações.

Essa mobilização reúne a grande imprensa, banqueiros e empresários associados a multinacionais e agências de governos estrangeiros. O objetivo é impedir o cumprimento do grande projeto nacional de desenvolvimento soberano, iniciado por Vargas, continuado por Juscelino e, façamos justiça, mantido pelo general Geisel. As mesmas forças que criaram e nutriram, enquanto puderam, o governo entreguista de Collor e o de Fernando Henrique, aproveitando-se do silêncio das forças populares, avançam agora sobre o governo Dilma Rousseff.

São inquietantes os sinais. O governo parece ter recuado da necessária reconstrução da Telebrás. Qualquer pessoa de bom senso sabe que as chamadas vantagens da privatização da telefonia constituem uma falácia. O desenvolvimento da tecnologia das comunicações eletrônicas (para o qual contribuímos, com as pesquisas avançadas, feitas por engenheiros brasileiros, como o BINA e o cartão indutivo) possibilitou a redução dos custos dos aparelhos e dos sistemas operacionais, com imensos lucros para as empresas, fossem elas estatais, fossem privadas. O que fez com que os celulares se tornassem tão baratos não foi a privatização, foi a tecnologia. Na China, onde todas as grandes empresas estão sob o controle do Estado, há tantos celulares como no Brasil – e fabricados lá mesmo. Enquanto isso, aqui, graças à excelência do nosso processo de privatização, estamos pagando as mais altas tarifas de telefonia celular e de banda larga do mundo, de acordo com o PPP, índice de Paridade de Poder de Compra, segundo pesquisa da UIT, União Internacional das Telecomunicações, realizada em 159 países.

O sistema Telebrás, mantido sob controle público, seria hoje um dos maiores conglomerados do mundo e estaria ajudando nossos vizinhos a desenvolver os próprios projetos. Os grandes lucros auferidos pelas empresas estrangeiras – hoje enviados para o exterior – estariam promovendo o desenvolvimento tecnológico nacional e criando mais empregos entre nós. Além da grossa corrupção que houve nas privatizações, o negócio, do ponto de vista da economia nacional, foi um desastre. Iniciamos o processo no governo FHC com uma dívida pública de US$ 60 bilhões e o encerramos com mais de US$ 700 bilhões.

É preciso que os trabalhadores e estudantes tenham consciência de que lutar contra as novas privatizações não é ir contra o projeto de governo da presidenta Dilma, mas sim em seu apoio. Argumentam alguns que a urgência reclama a privatização de certas obras e serviços. Juscelino foi acossado pela mesma urgência, que foi a de contrair o tempo, realizando em cinco anos o que levaria 50. Uma tática de JK foi criar grupos executivos, independentes da burocracia governamental e das pressões políticas. Vários desses grupos foram dirigidos por engenheiros militares, como o da implantação da indústria automobilística, sob a chefia do almirante Lúcio Meira. É preciso reagir, enquanto ainda há tempo.


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