A reação, entre alguns de seus companheiros, e na chamada base aliada do governo, demonstra que a proposta do senador Aécio Neves, de apoio da oposição à Presidente Dilma Roussef, em seus esforços para a governabilidade e moralização administrativa, não foi bem entendida, ou foi muito bem entendida, dependendo da boa fé ou da má fé de cada um. A preocupação do representante de Minas transcende ao cotidiano político, embora não o despreze. É certo que o ex-governador não pretende encerrar a sua carreira na Câmara Alta, mas atribuir sua atitude ao mero projeto pessoal é um erro, mais do que uma injustiça.
Ao contrário dos estereótipos, que caricaturam os mineiros como individualistas provincianos, eles são atentos às coisas do mundo. Não é por acaso que as idéias francesas estiveram na origem do movimento de Vila Rica, do mesmo modo que os inconfidentes se inspiraram na revolução da independência dos Estados Unidos.
São as coisas do mundo que nos aconselham a buscar, tanto quanto possível, a coesão interna. Há que se distinguir, embora seja difícil, o que é Estado e o que é governo. É inadmissível que se faça oposição ao Estado, e é necessário que se fiscalize o governo. Combater a corrupção é fortalecer o Estado, e assegurar o apoio necessário à chefe de governo, na missão que o destino lhe está confiando de disciplinar a administração pública, é dever de todas as pessoas honradas e dos políticos responsáveis. O saneamento da administração é indispensável para o cumprimento da política social do governo, que visa a libertar a população da miséria e promover a sua plena integração na vida econômica e cultural de nosso tempo, mediante o desenvolvimento econômico do país.
Por mais inconveniente seja a análise, está claro que começam a se definir, na política e na sociedade, dois campos bem identificados, e nessa divisão não interferem necessariamente as escolhas ideológicas, que permanecem subjacentes. De um lado se encontram as pessoas que não suportam mais tantos escândalos, e que se somam à Chefe de Estado.
Do outro, estão os interesses corporativos, partidários e não partidários, vinculados por uma espécie de omertà siciliana, que promovem e protegem o assalto ao bem comum. Ainda agora, a cidadania se encontra perplexa, diante da absolvição, pelos seus pares, de uma deputada, representante do Distrito Federal, mesmo diante de claríssima prova de corrupção passiva. Acobertada pelo voto secreto, maioria confortável negou a cassação de seu mandato, sob o argumento de que seus atos foram anteriores ao mandato. Não houve, no caso, qualquer pudor: feliz e orgulhosa do veredicto que a fez inocente, ela foi cumprimentada, entre outros colegas, pelo líder do PT na Câmara.
São tempos estranhos, os nossos. Tempos em que não há mais recato, tanto nos costumes sociais, quanto nos costumes políticos. Perdeu-se a cerimônia.
A constelação partidária que aí está será alterada, se não antes, logo depois das eleições municipais do ano que vem. Haverá a natural linha divisória não entre os partidos, mas no interior de cada um deles. Situação e oposição não serão as mesmas. Embora não possamos prever como se comporão os dois lados, a realidade tornará perempto, de uma ou de outra forma, o equivocado ditame do STF que dá aos partidos a propriedade sobre os mandatos eletivos.
Por outro lado, a inexorável marcha do tempo está impondo a renovação na liderança política brasileira. Há, entre as pessoas que se encontram na fase da boa maturidade, personalidades que revelam ter boa visão do processo político e social. São líderes como Aécio e Eduardo Campos que, embora herdeiros de antigos homens públicos, não têm por que renegar a ascendência. Seus avós,Miguel Arraes e Tancredo, embora tivessem divergências ocasionais, sempre serviram ao Brasil com o melhor de sua honra e de sua razão. E não há só eles, que são homens de centro-esquerda. Há, mesmo entre os conservadores, nomes novos, desvinculados dessa forma penumbrosa de fazer política.
Quando a senhora Dilma Roussef chegar ao fim de seu mandato – qualquer que venha a ser o processo de sua sucessão, ou de sua reeleição, se for o caso – não estarão com ela todos os que a cercaram na cerimônia de posse e no início de seu governo, e com ela estarão muitos dos que não a apoiaram nas eleições do ano passado. As circunstâncias mudam, o mundo envelhece e rejuvenesce, hoje mais rapidamente do que ontem, e as pessoas também mudam.
infelizmente, durante seus sete anos de mandato de governador, o sr Aecio fez um governo penumbroso nas Minas Geraes.
ResponderExcluirO discurso dele no Senado Federal é hipócrita.
Infelizmente.
Sabemos todos disto, afinal o estado das MG está cheio de desvios desmandos na coisa pública estadual. Só não são divulgados pela imprensa comprada.
Isto é diferente em que das piores práticas condenadas neste artigo-desabafo?
Forte abraço e muita saúde, prezado Santayanna.
Caríssimo.
ResponderExcluirBrilhante texto. Veio acompanhado da sua já reconhecida polidez. Porém não devo furtar-me em dizervo-te que em matéria de ascendência, Eduardo Campos, tem correspondido muito mais ao legado que recebeu do seu avô, do que o senhor Aécio Neves, ou seria Aécio Cunha? O estilo de vida pautado pelo hedonismo e deslumbramento pelo luxo do Leblon, não combina com o que sonhava Arraes e nem Tancredo, todos os dois nacionalistas, mas de certa forma conservadores. Em relação à Tancredo, conservador até demais. O diabo é que Aécio está mais para Epicuro do que para Tancredo.
Ruy Barbosa maciel- Governador Valadares MG
e
EMAIL PÚBLICO: carlopontty@gmail.com
Eu acho que há alhos, e há bugalhos. Aécio nunca praticou, contra Lula, a oposição canina do PSDB de São Paulo, nunca privatizou um prego em Minas Gerais, ao contrário do e Eduardo "mensalão" Azeredo, que quase desmontou o Estado, e, pelo contrário, transformou a CEMIG em uma das mais importantes distrbuidoras de energia elétrica da América Latina, concorrendo, e comprando, em muitos casos, as empresas estrangeiras do setor que aqui aportaram na época da tragédia neoliberal do governo FHC.
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