A imprensa do mundo inteiro repercutiu, na semana passada, principalmente nos países de língua espanhola, o fato de que o Brasil, com base em informações do FMI e do Centro de Investigações de Economia e Negócios, de Londres, acaba de ultrapassar a Inglaterra como a sexta economia do mundo.
A maioria dos leitores e comentaristas dos países ditos de “primeiro mundo“, e, infelizmente, muitos brasileiros, mediante a internet, preferiram, no entanto, minimizar a importância do fato, e ridicularizar o nosso povo, lembrando que somos um país corrompido, que estamos cheios de favelas e meninos de rua, que só vamos sustentar essa posição enquanto a China comprar nossas matérias-primas, ou seja, usando meias verdades - como a de que temos território e população maiores do que o Reino Unido - para compor uma grande mentira.
Talvez para isso tenha contribuído a afirmação, feita pelo Ministro Mantega, há alguns dias, provavelmente por modéstia, de que, “mesmo assim, o Brasil ainda vai levar 20 anos para alcançar os índices de qualidade de vida dos países da Europa.”
Mesmo reconhecendo que ainda é preciso fazer, no Brasil consideráveis avanços no campo social, não posso dizer que o Ministro, e os leitores da imprensa européia e alguns, de nosso país, não tenham incorrido, talvez involuntariamente, em alguns equívocos.
O primeiro deles foi dar a impressão de que partiam da premissa de que indicadores como IDH, qualidade de vida e renda per capita estão destinados a andar sempre adiante e nunca para trás, ou a permanecer imutáveis – em um século de acentuada transformação da situação geopolítica mundial.
O segundo foi não perceber que a prosperidade européia não é tão forte, nem definitiva, quanto parece, porque a qualidade de vida que seus povos tiveram nos últimos tempos não foi fruto apenas de sua capacitação técnica ou competitividade, mas, também e principalmente, da exploração de outros povos, mediante o trabalho escravo, e o controle de seus mercados e recursos naturais. Além disso eles sempre amenizaram suas dificuldades econômicas (e evitaram as revoluções sociais) , com o incentivo à emigração de milhões de desempregados para os Estados Unidos e as nações da América Latina.
A qualidade de vida dos países dos BRICS pode ser baixa, embora todos eles venham fazendo, nos últimos anos, gigantesco esforço para superar essa tragédia, com a melhoria da educação e da pesquisa, na China e na Índia, ou a inserção, via criação de empregos e distribuição de renda, de milhões de pessoas no mercado de consumo, como é o caso do Brasil.
Mas essa relativa prosperidade, conquistada a duras penas nos últimos anos, não advém da exploração do tráfico de drogas – como ocorreu com a Inglaterra, que fez guerra para obter o “direito comercial” de traficar com o ópio na China. Nem do roubo de ouro, prata, pedras preciosas e outras riquezas de terceiras nações, mediante o velho e o atual colonialismo.
Ela é fruto de uma visão mais inteligente, justa e solidária do processo econômico, baseada, como diz o Presidente Lula, na máxima de que “nada é mais barato e dá mais retorno do que investir em pobre”.
A ascensão da China, da Índia, da Rússia, do Brasil, da Índia, nos próximos anos, com o acúmulo de reservas internacionais e a aquisição do controle das grandes empresas das antigas metrópoles, está retirando da Europa a mais valia com que a sua elite contava para viver na flauta, em condições muito superiores às do resto do mundo.
Hoje, essas mesmas elites, além de fazer guerras, como as movidas contra os países árabes, a fim de garantir o controle das matérias primas, exploram com mais avidez o seu próprio povo, cujos protestos contra o corte dos gastos sociais com a saúde, educação e previdência, são reprimidos com violência.
Os países europeus já enfrentam uma forte queda em seu IDH. Na Inglaterra, milhares de famílias, segundo The Guardian, estão entre comer e morar na rua, ou pagar os aluguéis e passar fome. Enquanto estiverem tentando resolver o seu problema com o receituário neoliberal – do qual estamos nos livrando – seus índices de desenvolvimento humano terão declínio acelerado. Por outro lado, se conseguirmos nos livrar das emendas entreguistas à Constituição, ditadas por Washington e impostas pelo governo FHC, continuaremos crescendo, diminuindo a nossa dívida pública interna e externa e reduzindo os nossos juros, que estão entre os maiores do mundo, e os nossos patamares de bem-estar se elevarão, com a ascensão dos pobres a uma vida digna, como já está ocorrendo em muitas regiões. E se a América Latina seguir o nosso ânimo, o equilíbrio entre a qualidade de vida de nossos países e a dos países da Europa provavelmente ocorra antes do que Mantega imagina - e muitíssimo mais cedo do que os europeus desejariam que fosse.
A foto acima se refere - infelizmente - a um link que afirma que mais de 120.000 crianças passaram o Natal de 2011 na rua, ou em condições sub-humanas na Inglaterra:
http://www.parentingclan.com/entry/around-120000-kids-will-wake-up-homeless-this-christmas/
Excelente visão. Mudou meu ponto de vista.
ResponderExcluirObrigado, e um abraço, Antonio.
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