(JB) - Getúlio Vargas, que, além
de seu reconhecido patriotismo, se
associou ao exercício do poder executivo como nenhum outro governante
brasileiro, via seus auxiliares com ceticismo sábio. Raramente os elogiava, a
não ser em situações pontuais, se isso era de
interesse político ou administrativo. Sua máxima é conhecida: todo ministério é um ministério de
experiência. Os ministros serviam, enquanto bem serviam ao país, em seu
critério de chefe. Quando não serviam, individualmente ou em bloco,
substituía-os, sem grandes dramas, a não ser para alguns dos dispensados. Como
se sabe, o poder é como o amor: dele ninguém se liberta sem algum sofrimento.
Ninguém consegue governar só, nem
mesmo os déspotas mais audazes. Nos sistemas democráticos, ou que assim se
identificam, os chefes governam com facções políticas. Essas facções – e sempre
foi assim – poucas vezes se formam a partir de escolhas ideológicas sinceras.
Organizam-se a partir de razões objetivas, como os interesses econômicos e
corporativos, e de sentimentos subjetivos, como os da amizade e do carisma de
seus líderes.
Há, no entanto, os casos, freqüentes na
História, de psicopatia política. Alguns gravíssimos, como os de Nero,
Calígula, Hitler e Franco; outros ridículos, além de criminosos, como os de
Mussolini, Berlusconi, Salazar e os vizinhos Somoza, Pinochet, Stroessner e
Trujillo. Isso sem falar em nossa própria realidade, com Médici, Collor e Jânio Quadros. Mas, nem
mesmo Filippo Maria Visconti - o cruel Duque de Milão, tirano em estado puro, como o definiu Elias Cannetti - governava só.
Ele, que exerceu o poder de 1412
a 1447, para manter o ducado íntegro, dependeu de seu chefe militar Francesco
Sforza, de quem fez genro e sucessor.
Os historiadores e analistas das causas
e razões do poder se dividem na dúvida permanente: governar é ciência ou arte? Mesmo os chefes mais intuitivos
dependem de um mínimo de conhecimento para o exercício do poder. Os governantes
devem saber mandar. Tancredo recomendava aos seus auxiliares pensar antes de
dar uma ordem. Deveriam estar certos de que ela seria cumprida, ou seja, de
que o subordinado teria condições de executar bem a missão. Saber mandar é
saber escolher – mas nem sempre o chefe de governo tem a possibilidade de
nomear a pessoa certa para os cargos. Daí o conselho de Vargas: todo ministro
vive uma situação precária em seu cargo, uma vez que são demissíveis ad-nutum.
Discutir, nesse momento de nossa
estação histórica, o desconforto da presidente da República em negociar com um
parlamento eclético e, em grande parcela, alheio aos interesses do povo
brasileiro, é ocioso. Ela só pode administrar a circunstância que seus antecessores lhe legaram. E isso, queiram
ou não os seus opositores atropelados pela realidade, ela vem fazendo com
êxito, dentro dos limites do possível.
Muitos contestam a substituição de
tantos ministros que, acusados de corrupção, não puderam, ou não quiseram,
defender-se convincentemente dos erros que lhes atribuíam. Esquecem-se de que,
mesmo com os escolhos de uma coligação política quase teratológica, ela
construiu o governo mediante as consultas com suas bases parlamentares e
líderes políticos aptos a recomendar os titulares do Ministério. Tratava-se,
como todos os outros, de um ministério de experiência. Nas últimas semanas,
antes da reforma recomendada pelo calendário eleitoral, ela pôde reunir
informações e confrontá-las com as razões de Estado e suas próprias razões, a
fim de reorganizar o Ministério. Que será, sempre como recomenda a inteligência
política, de experiência, passível de ser substituído, no todo ou em parte, e
em qualquer momento, de acordo com as circunstâncias.
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Um comentário:
Como educador, me preocupa Mercadante na pasta da Educação, pois para acredito que não vai desenvolver, pois não é sua área.
wwwsabereducar.blogspot.com
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