Naquela época publiquei artigo na Gazeta Mercantil, em que fazia a necessária distinção entre os dinossauros – uma espécie limpa, sólida, quase toda vegetariana – e os murídeos: camundongos, ratos e ratazanas.
É difícil entender como pessoas adultas, detentoras de títulos acadêmicos, alguns deles respeitáveis, puderam fazer análise tão grosseira do processo histórico. Mas eles sabiam o que estavam fazendo. Os economistas, sociólogos e políticos que se alinharam ao movimento neoliberal – excetuados os realmente parvos e inocentes úteis – fizeram das torções lógicas um meio de enriquecimento rápido.
Aproveitando-se dos equívocos e da corrupção ideológica dos quadros dirigentes dos países socialistas – que vinham de muito antes – os líderes euro-norte-americanos quiseram muito mais do que tinham, e resolveram recuperar a posição de seus antecessores durante o período de acumulação acelerada do capitalismo do século 19. Era o retorno ao velho liberalismo da exploração desapiedada dos trabalhadores, que havia provocado a reação dos movimentos operários em quase toda a Europa em 1848 (e animaram Marx e Engels a publicar seu Manifesto Comunista) e, logo depois, a epopéia rebelde da Comuna de Paris, com o martírio de milhares de trabalhadores franceses.
Embora a capitulação do Estado se tenha iniciado com Reagan e Thatcher, no início dos oitenta, o sinal para o assalto em arrastão veio com a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989 – coincidindo com a vitória de Collor nas eleições brasileiras. Não se contentaram os vitoriosos em assaltar os cofres públicos e em exercer a prodigalidade em benefício de seus associados do mercado financeiro. A arrogância e a insolência, nas manifestações de desprezo para com os pobres, que, a seu juízo, deviam ser excluídos da sociedade econômica, roçavam a abjeção. Em reunião realizada então na Califórnia, cogitou-se, pura e simplesmente, de se eliminarem quatro quintos da população mundial, sob o argumento de que as máquinas poderiam facilmente substituir os proletários, para que os 20% restantes pudessem usufruir de todos recursos naturais do planeta.
Os intelectuais humanistas – e mesmo os não tão humanistas, mas dotados de pensamento lógico-crítico – alertaram que isso seria impossível e que a moda neoliberal, com a globalização exacerbada da economia, conduziria ao malogro. E as coisas se complicaram, logo nos primeiros anos, com a ascensão descontrolada dos administradores profissionais – os chamados executivos, que, não pertencendo às famílias dos acionistas tradicionais, nem aos velhos quadros das empresas, atuavam com o espírito de assaltantes. Ao mesmo tempo, os bancos passaram a controlar o capital dos grandes conglomerados industriais.
Os “executivos”, dissociados do espírito e da cultura das empresas produtivas, só pensavam em enriquecer-se rapidamente, mediante as fraudes. É de estarrecer ouvir homens como George Soros, Klaus Schwab e outros, outrora defensores ferozes da liberdade do mercado financeiro e dos instrumentos da pirataria, como os paraísos fiscais, pregar a reforma do sistema e denunciar a exacerbada desigualdade social no mundo como uma das causas da crise atual do capitalismo.
Isso sem falar nos falsos repentiti nacionais que, em suas “análises” econômicas e políticas, nos grandes meios de comunicação, começam a identificar a desigualdade excessiva como séria ameaça ao capitalismo, ou seja, aos lucros. Quando se trata de jornalistas econômicos e políticos, a ignorância costuma ser companheira do oportunismo. Da mesma maneira que louvavam as privatizações e a “reengenharia” das empresas que “enxugavam” as folhas de pagamento, colocando os trabalhadores na rua, e aplaudiam os arrochos fiscais, em detrimento dos serviços essenciais do Estado, como a saúde, a educação e a segurança, sem falar na previdência, admitem agora os excessos do capitalismo neoliberal e financeiro, e aceitam a intervenção do Estado, para salvar o sistema.
Disso tudo nós sabíamos, e anunciamos o desastre que viria. Mas foi preciso que dezenas de milhares morressem nas guerras do Oriente Médio, na Eurásia, e na África, e que certos banqueiros fossem para a cadeia, como Madoff, e que o desemprego assolasse os países ricos, para que esses senhores vissem o óbvio. Na Espanha há hoje um milhão e meio de famílias nas quais todos os seus membros estão desempregados.
Não nos enganemos. Eles pretendem apenas ganhar tempo e voltar a impedir que o Estado volte ao seu papel histórico. Mas o momento é importante para que os cidadãos se mobilizem, e aproveitem esse recuo estratégico do sistema, a fim de recuperar para o Estado a direção das sociedades nacionais, e reocupar, com o povo, os parlamentos e o poder executivo, ali onde os banqueiros continuam mandando.
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaImprimir.cfm?coluna_id=5430
http://www.vermelho.org.br/ma/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=174311
http://nogueirajr.blogspot.com/2012/01/vinganca-dos-dinossauros.html
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/clipping-do-dia-517
http://contextolivre.blogspot.com/2012/01/vinganca-dos-dinossauros.html
http://www.opensanti.com/2012/01/mauro-santayana-vinganca-dos.html
http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com/2012/01/vinganca-dos-dinossauros-por-mauro.html
http://www.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=11536
http://fichacorrida.wordpress.com/2012/02/11/a-vale-dos-dinossauros/
http://bloganacletoboaventura.blogspot.com/2012/01/politica-economia-sociedade.html
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=0bc10d8a74dbafbf242e30433e83aa56&cod=9361
6 comentários:
Charles Darwin, em sua obra "The Descent of Man", denuncia a "inferioridade" racial dos irlandeses. Homem de seu tempo, Darwin produziu uma justificativa pseudo-científica para um incofessável programa social e político, o programa eugênico da elite britânica.
O livro "The Next Million Years", de autoria de Charles Galton-Darwin, publicado na década de 1950, é uma violenta defesa do elitismo biológico.
Os irmãos Huxley - Aldous e, sobretudo, Julian -, que têm ligações familiares profundas com a família Galton-Darwin, produziram, cada um a sua forma, veladas (por vezes, claras) defesas do mesmo sistema abjeto de dominação defendido pelos Darwins.
Documento fundamental para a compreensão dessa mentalidade é "Unesco, its purpose and philosophy", de autoria de Julian Huxley. Ali o biólogo se refere à eugenia afirmando ser necessário, nas próximas décadas, tornar pensável (thinkable) o que então (1946) era impensável - transformar em política global o ideal da eugenia.
O financiamento para experimentos com o controle forçado da natalidade - tocados inclusive no Brasil - viriam de outras famílias ricas. Destacam-se nesse empreendimento as fundações Rockefeller e Ford.
O ideal eugênico, longe de ser criação teutônica, é produto das altas castas britânicas e americanas. Trata-se de uma cosmovisão, de uma religião. "Eugenics is the self-direction of human evolution" - aí está o credo fundante da religião destes "ricos" senhores. Nada menos do que a titularidade da criação da vida é a meta.
Instituições como o Cold Spring Harbor Laboratory, a British Eugenics Society (dirigida, durante alguns anos, por John Maynard Keynes) e o Eugenics Record Office comprovam o pedigree anglo-americano da cosmovisão eugênica.
Existem muitos livros, além das fontes básicas (Francis Galton, Charles Darwin, Charles Galton-Darwin, Julian Huxley) sobre o assunto. Um dos menos "alternativos", para quem quer começar seu estudo, é "War Against the Weak", do jornalista Edwin Black.
Hoje, ao lermos artigos de bioéticos ingleses defendendo ideias como ectogênese e transgenderismo, ou ao sermos "maravilhados" pelo movimento transhumanista (que agora se chama "H+" e cujo divulgadores-pop são, entre outros, Ray Kurzweil e Michio Kaku), devemos ter presente, de forma muita clara, as origens do culto pseudo-científico que embasa e justifica tais empreemendimentos. Trata-se de um projeto de dominação da vida biológica e de mecanização da vida humana.
-----------
Não é, creio, dessa sociedade que o Brasil quer participar. Não é essa a civilização que queremos ajudar a gestar com a contribuição do nosso acorde.
Precisamos superar quaisquer ímpetos da correção política e pesquisar, a fundo e sem preconceitos, a origem e a mecânica das estratégias de dominação social, ideológica, psicológica, tecnológica e bioquímica que se escondem atrás do véus da ciência, da tecnologia, do progresso, da "modernização" e da "pacificação das relações humanas".
Precisamos de homens com espinha dorsal e integridade, que não tenham medo e/ou vergonha de estudar o que realmente importa: a exploração, pelas elites globais, internacionalistas apátridas, da fragilidade dos povos ditos "atrasados". Atrás dos nomes dos bancos que todos acusam existem seres humanos. São seres humanos que se beneficiam da distribuição de dividendos. São seres humanos que pensam, planejam e agem. As instituições que criam são apenas instrumentos. Precisamos compreender os objetivos, as finalidades.
Estamos no meio de um violento processo de privatiação, em escala global, do poder. Uma vez privatizado, esse poder será utilizado para a realização das concepções apriorísticas, devaneios e sonhos tecnocráticos que povoam a mente desses nobres senhores, que afirmarão estarem agindo em nome e a serviço de Deus.
Que Ele nos ajude.
Muito bom! Já compartilhei no facebook.
Obrigado, aos dois, ao Anônimo pelo excelente comentário, e à Isabel Lustosa pelo elogio e pelo apoio.
Abraços.
Mauro, faço questão de te deixar este link, lembrando de um grande amigo teu:
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-guarania-saudade-de-mario-palmerio
Um abraço,
do seu admirador
Joel Palma.
Muito bom, estou postando no blog Educom, imaginando o quanto isso tudo deveria ser do conhecimento dos leitores
Obrigado, Joel, pela lembrança do grande Mário Palmério, e obrigado também ao pessoal do EDUCOM pela divulgação do texto.
Postar um comentário