(JB) - Se, amanhã, os terrestres vierem acolonizar Marte, como muitos sonham, o feito será, dentro das circunstâncias dotempo e da ciência, menos surpreendente do que foi o desembarque europeu naAmérica do Sul e a ocupação do espaço ainda desconhecido. Sabemos hoje muitomais do planeta vermelho do que os contemporâneos do Renascimento podiamconhecer da América do Sul. Na realidade, nem mesmo podiam ter certeza de que aquarta parte existisse.
Nãosó a conquista do território continental, mas a construção da consciência depátria - da plena identidade e da soberania de nossos povos - tem sido atopermanente de luta e de resistência, contra a natureza hostil e contra aopressão política.
Só há dois séculos, na esteira daRevolução Francesa, da Guerra de Independência dos Estados Unidos e das guerrasnapoleônicas, admitiram a nossa existência como povo, mas sob arrogante tutelae subordinação aos seus interesses. O pior é que as coisas continuam quase damesma forma. Querem-nos apenas como fornecedores de matérias primas. Ao usar ovocábulo commodities paradesignar nossos produtos primários, osneoliberais brasileiros engambelam-nos com a sonoridade britânica do termo,como antes os colonizadores nos engabelavam com os espelhos e miçangas.Continuamos exportando minérios e comprando máquinas; exportando soja e pagandoroyalties por tecnologia; exportando produtos de nossa singular biodiversidade,e importando medicamentos.
Se houvesse sido possível a exportaçãoda cana em seu estado natural, nãoteríamos construído aqui os primeiros engenhos açucareiros. Só depois daIndependência erigimos forjas para afundição econômica do ferro; até então foices e enxadas vinham da Europa, porvia de Portugal. A independência dos paises latino-americanos foi de interesseda Grã Bretanha, que substituiu Madri e Lisboa. A partir de então, Londres selivrou dos intermediários e passou a disputar, com os Estados Unidos, quecresciam, o nosso mercado, como fornecedor de matérias primas e compradorde produtos manufaturados.
É interessante notar que todas asvezes que as circunstâncias nos ajudavam, o cerco estrangeiro se fechava sobreo Brasil – e sobre os paises do continente. Nosso desenvolvimento industrial noSegundo Reinado - em que houve, para o bem e para o mal, a aliança da Coroa comMauá - foi tolhido pela ação britânica, contra a economia brasileira e com ocerco ao grande empreendedor, cuja presença política no continente incomodava ageopolítica imperialista.
ARepública, não obstante todos os seus avanços, propiciou, pelas dificuldades políticas de sua consolidação, oassédio britânico. As negociações draconianas da nossa dívida com a praça deLondres – o famoso funding loan é oexemplo da arrogância e voracidade dos banqueiros internacionais – favoreceram odesembarque de suas empresas no país, que, logo se associaram àsnorte-americanas.
Em 1922, em uma visão históricaequivocada, os tenentes se levantaramcontra a eleição do mineiro Artur Bernardes, a partir de cartas falsas, a eleatribuídas, e que ofendiam o marechal Hermes da Fonseca. Até hoje não sabemos,exatamente, a quê e a quem serviram os falsários, não obstante as versõesdivulgadas. Era um bom momento para o Brasil, e que se frustrou em parte, namedida em que o presidente teve que defender, a ferro e fogo, o seu mandato –não tendo, em razão disso, conseguido ampliar as medidas nacionalistas adotadascontra os interesses anglo-saxônicos, entre elas as de nosso desenvolvimentosiderúrgico.
Para não lembrar episódios menores nointervalo, o cerco a Getúlio, em seu segundo mandato, é nisso exemplar. Opresidente entendera, desde os anos 30, que não teríamos soberania sem quetivéssemos a energia necessária ao desenvolvimento da economia. Por isso,cuidou da Petrobrás e da Eletrobrás, como bases necessárias à economiaindustrial brasileira.
Os interesses estrangeiros – leia-se,norte-americanos – se mobilizaram, conforme documentos ianques indesmentíveis,com a ajuda dos meios de comunicação brasileiros, e políticos cooptados, a fim de acossar opresidente até a tragédia de 24 de agosto de 1954. Não satisfeitos, desde que otíbio governo de Café Filho não os garantira, tentaram novamente o golpe, em 11de novembro de 1955, mediante os seus cúmplices nacionais. Se impedissem a possede Juscelino, como queriam - e Lacerda vociferava em seus ataques ao mineiro -a primeira medida seria a revogação do monopólio estatal do petróleo.
A reação dos militares nacionalistas,chefiados por Lott, frustrou-lhes os planos, e Juscelino pôde, em seu qüinqüêniopresidir ao extraordinário salto do Brasil rumo ao futuro - enfrentando, aomesmo tempo os interesses estrangeiros e o derrotismo conformista de muitosbrasileiros. A vitória de Jânio e sua renúncia, meses depois, interromperamo processo de consolidação democrática. A facção pró-americana, de civis emilitares, que não queria o desenvolvimento autônomo do país, também açuladapor Lacerda e outros, iniciou o processo golpista, prontamente contido pelareação de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul. Diante daiminência da guerra civil, houve negociações que mudaram o sistema,implantando-se o parlamentarismo. Jango assumiu reduzido em seus poderesconstitucionais, outorgados pelas eleições livres, e era natural que a naçãolutasse para que ele os recuperasse, como os recuperou, com a vitória noreferendo popular.
O novo momento foi, mais uma vez, usado pelosnorte-americanos, com a desavergonhada intromissão em nossos assuntos internos,mediante o IBAD e outros instrumentos. O golpe de 1964 se fez contra o Brasil,e não em defesa da soi-disant democracia hemisférica contra Cuba e a UniãoSoviética. O que eles temiam, e continuam a temer, é a transformação de nossopaís em grande potência econômica, provida de conseqüente força militar, capazde garantir a sua presença política continental e sua soberania no mundo.
Estamos em momento similar, e emplena ascensão. Essa situação auspiciosa, é bom repetir até a exaustão,recomenda a todos os brasileiros, civis e militares, conscientes de seupertencimento à comunidade nacional, o máximo de prudência. É preciso fechar as nossas portas aos estrangeiros, interessados em retirar o seu butim de eventuais conflitos internos, como fazem no Iraque, no Afeganistão, na Líbia - e se preparam para fazer na Síria e no Irã.
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Um texto maravilhoso pra variar,é a história do Brasil que deveria ser contada nas escolas.
ResponderExcluirGoastaria de sua opiniao sobre o tema que tenho desenvolvido no site www.demopart.com.br E sobre a possibilidade do Brasil entrar em guerra
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