(Revista do Brasil) - Em todos os encontros internacionais, entre eles o de Cartagena de Índias, no mês passado, o Brasil vem reafirmando a independência em suas relações externas – depois da vergonhosa capitulação ocorrida durante o governo dos dois Fernandos, Collor e Cardoso. Política externa soberana não significa o jogo retórico de declarações agressivas, mas a exposição clara de uma atitude serena, e firme.As relações entre os Estados nacionais são semelhantes às que se dão entre os vizinhos. O ideal é a amizade solidária, mas sem perder de vista o direito de cada uma das famílias a viver de acordo com suas ideias, suas regras próprias de conduta, e seus interesses privados. É assim que as visitas são recebidas em espaço próprio, com a família reunida, e a conversa gira em torno dos interesses gerais. Nenhum visitante honrado dirá aos donos da casa como governar a sua família. Nas relações internacionais essa conduta era conhecida, até tempos recentes, como o princípio da autodeterminação dos povos e de não ingerência em seus assuntos internos.O ideal nas relações externas é o da universalidade. Devemos manter o diálogo diplomático com todos os países do mundo, mesmo que a sua política interna nos desagrade. Enquanto eles não prejudicarem os nossos interesses nem ofenderem a dignidade de nosso povo, não há por que cortar os contatos nem impedir os negócios de vantagens recíprocas. Essa universalidade, no entanto, não nos impede de ter laços mais fortes com um ou outro país, de manter alianças políticas e comerciais com determinadas nações ou conjuntos de nações. A política de alianças internacionais é tão antiga quanto as comunidades autônomas. Elas já existiam nas tribos pré-históricas, e sempre se fazem para a defesa ou para a conquista. Entre outras alianças de povos primitivos, que o Brasil conheceu de perto, temos a Confederação dos Tamoios – a tentativa, frustrada, da retomada, pelos índios brasileiros, de sua soberania sobre o território, com a expulsão dos portugueses. O erro político dos Tamoios foi buscar a aliança com os franceses, e não ampliar a confederação com outras nações autóctones – o que significaria apenas a troca de amos.De qualquer forma, os Tamoios – em tupi, os donos antigos do território – tiveram como resultado o abandono posterior da escravidão dos nativos.O Brasil, naturalmente, está se compondo com a China, a Rússia, a Índia e a África do Sul, em aliança conhecida como Brics. Não é uma formação de caráter ideológico nem militar, mas organização de interesse econômico e de defesa da soberania de cada um deles. Como em todas as alianças, nessa incorrem riscos, mesmo porque o peso econômico e militar de seus membros é desigual.Corre-se, entre outros riscos, o de deixarmos em segundo plano a aliança prioritária, com os nossos vizinhos da América do Sul. É preciso romper os tabus, que nos perseguem há mais de um século, e acelerar os entendimentos entre os que vivemos lado a lado e temos origem histórica comum. Mas – e essa tem sido a postura do governo, desde Lula – levamos em conta que o Brasil pode ter inimigos, mas não deseja ser inimigo de ninguém. Daí a correta posição da presidenta da República: defesa da economia nacional é uma coisa, protecionismo é outra.É certo, no entanto, que, em alguns momentos, as duas ideias se justapõem. Entre a acusação de protecionismo e a de entreguismo, é preferível a primeira. Foi com o protecionismo de sua marinha mercante – assumida por Cromwell, em 1651, com o primeiro dos Navigation Acts – que a Inglaterra se tornou a grande potência imperial do século seguinte.Um país das dimensões do Brasil necessita do comércio internacional, mas a sua imensa potencialidade está dentro das próprias fronteiras. Está em seu povo, que deve ser protegido contra qualquer forma de domínio estrangeiro.
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