A imprensa noticia que o Governo pretende mudar, mais
uma vez, o modelo de concessão dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e
de Confins, em Belo Horizonte, para atenuar o suposto “mau humor” de empresas
operadoras multinacionais, que não estariam aceitando associar-se
minoritariamente à Infraero para a administração dos negócios.
Para diminuir essa resistência, a idéia seria reservar
51% das ações para os estrangeiros, e 49% para Empresa Brasileira de
Administração Aeroportuária, embora com “golden share” que fizesse valer a
vontade do Estado, sempre que necessário. A primeira pergunta que se faz, é por
que, no caso dos aeroportos, se pretende seguir o modelo da telefonia, em que o
Estado banca, via BNDES, a maior parte do financiamento. Nesse modelo, os
estrangeiros entram com quase nada na expansão de infraestrutura e melhoria de
serviços, e gordas remessas de lucro são enviadas todos os anos para o
exterior, prejudicando o nosso balanço de pagamentos. É o que tem ocorrido, por
exemplo, com empréstimos de bilhões de reais para a Vivo (Telefónica) da
Espanha.
Não é possível que, com grandes empresas brasileiras
de engenharia pesada construindo aeroportos em países de primeiro mundo, como é
o caso de Miami, ou empresas de capital nacional administrando aeroportos fora
do país, exija-se, como condição necessária para a
modernização de nosso sistema aeroportuário, a
presença de empresas estrangeiras.
Existe a percepção de que, no futuro os serviços
prestados aos passageiros, e a própria expansão dos aeroportos, serão
financiados pela transformação de suas instalações em grandes complexos
comerciais, englobando shopping- centers, hotéis, e o serviço de transporte
terrestre de passageiros. O Brasil tem enfrentado problemas em seus aeroportos,
não por incompetência, mas porque o número de passageiros cresceu anualmente, a
um ritmo chinês de dois dígitos, na última década. Centenas de milhares de
pessoas que antes nunca haviam feito uma viagem aérea passaram a fazê-lo, com a
melhoria do poder aquisitivo da população.
Se a Infraero desenvolveu know-how ao longo do tempo na
operação de aeroportos, se o BNDES está entrando com a maior parte do dinheiro,
se temos algumas das maiores construtoras e administradoras de hotéis, centros
de negócios e shopping-centers do planeta, por que não reunir esse pessoal em
consórcios e deixá-los apresentar seus projetos? Temos uma engenharia que já
construiu rodovias e ferrovias no meio do deserto, no Oriente Médio; levantou a
maior usina hidrelétrica do mundo, em Itaipu, e é pioneira na perfuração de
poços de petróleo a profundidades nunca antes atingidas.
Supor que não temos
competência para administrar meia dúzia de aeroportos sem interferência
externa, é renunciar ao nosso desenvolvimento independente, e abandonar o
domínio do futuro.
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Um comentário:
Prezado Santayana,
No que tange à perfuração de poços de petróleo a grandes profundidades, tanto em terra quanto no mar, o trabalho tem sido feito, há quase vinte anos, por empresas estrangeiras. À Petrobras cabe apenas o projeto do poço. A perfuração já não é mais nossa há muito tempo.
Grato por sua atenção,
Marco Rocio
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