3 de out. de 2012

O JAPÃO, O BRASIL E ANGRA III


        Mesmo traumatizado pelos ataques apocalípticos de Hiroxima e Nagasáki, quando, pela única vez na História – e esperamos que seja realmente a única – a fissão nuclear foi usada como arma de guerra, o Japão do pós-guerra viu-se obrigado, durante várias décadas, a valer-se da energia elétrica produzida por usinas atômicas. Sem fontes de energia fóssil – e esta foi uma das causas de seu conflito com os Estados Unidos – o Japão teve de valer-se de reatores a fim de garantir a reconstrução do país e o desenvolvimento de sua indústria.
       O tsunami de 11 de março de 2011, no entanto, mudou a situação. Nesse dia, 15 minutos depois de um terremoto perto da costa do Japão,  onda de 14 metros ultrapassou o dique de contenção da usina atômica de Fukushima. Todas as instalações,  incluídos os geradores responsáveis pelo resfriamento dos reatores, foram inundadas. Os reatores se superaqueceram, enquanto a destruição parcial dos edifícios e a radiação dificultavam a chegada de equipes de reparo.
        Houve a fusão parcial do núcleo nos reatores 1, 2 e 3 e diversos surgiram focos de incêndio em toda a planta.  Uma área de 20 a 50 quilômetros da usina ficou contaminada, a utilização de água potável pela população teve que ser suspensa devido à radiação e milhares de pessoas podem ter tido a sua saúde afetada, de forma definitiva, pelo resto da vida. Como resposta às falhas detectadas na resposta ao acidente, o governo japonês criou uma nova agência de segurança atômica, e, nesta semana, aprovou o plano para eliminar definitivamente o uso da energia nuclear até o ano de 2030, desativando, paulatinamente,  todas  as usinas do país.
           Abandonar o uso da energia nuclear é um processo complexo e caro, que custará bilhões e bilhões de dólares ao Japão, mas o país não é o único a  fazê-lo. A Alemanha  tomou a mesma decisão, de fechar todas as suas usinas até o ano de 2022, em maio de 2011, logo depois do acidente com a usina nuclear japonesa. Enquanto a Alemanha e o Japão, países cuja capacidade tecnológica ninguém contesta, decidem que a única saída para não correr risco com a energia atômica é abandonar o seu uso, aqui no Brasil, prossegue a construção  da Usina de Angra III. em alguns círculos científicos, a nova usina já está sendo apelidada de Fukushima II. Segundo especialistas, ela está situada no lugar errado, foi mal projetada, com tecnologia antiquada, de muitos anos atrás, antes da queda das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001 -  e do próprio acidente com a usina de Fukushima,  que, como a usina brasileira, se erguia à beira-mar.
          Construir Angra, com a mesma tecnologia obsoleta, não vai fazer o país avançar nesse campo. Não podemos continuar insistindo  em uma solução suja, cara e perigosa,  quando os países mais avançados  estão prestes a descobrir a energia limpa e duradoura da fusão nuclear.

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