(RB) - O Banco
Itaú-BBVA promoveu, em São
Paulo , um encontro dos dirigentes das 500 maiores empresas da
América Latina – as que faturam mais de
100 milhões de dólares por ano - com os senhores Tony Blair, Bill Clinton e
Fernando Henrique Cardoso.
"Eles
estiveram à frente de grandes potências mundiais e fizeram escolhas que mudaram
a história. Agora eles vão ajudar a escrever novos capítulos” – diz o anúncio
publicado nos jornais. Tudo isso faz
lembrar o iconoclasta Karl Kraus, que se dedicou, a vida inteira, a destruir os
mitos de seu tempo. Um de seus ensaios, de 1918, tem o título de “Os últimos
dias da Humanidade”.
É até estranho que Clinton faça
parte da trinca. É certo que continuou no uso alternado dos bombardeios e das
ameaças ao Iraque, de seu antecessor, o primeiro Bush, mas na administração
interna, tendo bons assessores econômicos, como Joseph Stiglitz (nos primeiros
dois anos), seu governo não foi exatamente igual ao de Blair.
Embora usando da mesma
linguagem, e propondo medidas democráticas (como a abolição da Câmara dos
Lordes e sua transformação em Senado, a ser eleito pelo voto), Blair, como Thatcher,
foi parceiro incondicional do governo
norte-americano, também em matéria de política internacional - principalmente
depois da eleição do segundo Bush. Tal como Bush Jr. ele enganou o mundo sobre o Iraque e as armas de
destruição em massa, levando os soldados ingleses a morrer por uma mentira. Sua
atuação interna foi de demolição da política social do trabalhismo britânico,
que vinha desde a criação do Labour Party, em 1906. Deixou o seu país arrasado
pelo desemprego, pelo sucateamento da saúde pública, pela desesperança.
Mas, dos três, quem mais merece
a homenagem dos banqueiros e das 500 maiores empresas da América Latina é
realmente Fernando Henrique Cardoso. O BBA foi fundado em 1988, numa associação
de Fernão Bracher e Antonio Beltrán com o Banco Credistanstalt, de Viena, para
operar no mercado de capitais. Em seguida, com a eleição de Collor e o início
de seu programa de privatizações, o BBA se tornou a única instituição
financeira a coordenar a participação de bancos estrangeiros no plano de
privatização das empresas estatais no
Brasil. No governo FHC teve situação
privilegiada.
Os três grandes líderes do século,
conforme a convocação do encontro, foram responsáveis, cada um deles de uma
forma diferente, pela maior contrarrevolução social da História, ao impor o ultraliberalismo
ao mundo, conforme a decisão do Clube de Bilderberg. O plano – de que ainda não
desistiram – é o de uma ditadura mundial, a ser exercida pelos homens mais
ricos do planeta, por intermédio dos governos dos países ricos e com o retorno
dos povos periféricos ao estatuto colonial.
O sistema financeiro mundial,
instrumento do projeto, está sendo julgado pela opinião pública, desde que
muitos de seus crimes ficaram conhecidos. O Goldman Sachs, o Barclay’s, o HSBC
e outros, da mesma dimensão, foram apanhados na manipulação de taxas básicas (a
Libor), na especulação no mercado de derivativos e na prática do crime de lavagem de dinheiro do
narcotráfico.
Enquanto Blair, Clinton e Fernando
Henrique falam para os ricos, é dever dos trabalhadores exigir, do Congresso –
como no caso da Ficha Limpa - legislação rigorosa de controle do sistema, proibindo que bancos de depósitos operem como os
de investimentos; que atuem nos paraísos fiscais, que funcionem sem controle contábil rigoroso das autoridades
nacionais.
Os governos europeus, para salvar seus
banqueiros larápios, estão eliminando empregos, reduzindo os serviços de
educação, de saúde e segurança. E se os trabalhadores brasileiros não
mantiverem sua vigilância, essa nova onda em defesa dos ricos chegará até aqui.
O encontro de São Paulo é um aviso do que nos espera.
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