(JB) - Há um axioma da oratória
política norte-americana, o de que os discursos de despedida são sempre mais
importantes do que os de início de mandato, mesmo quando se trata de reeleição.
Os dois melhores discursos de despedida, como projetos políticos para a nação,
foram os de Washington, no início da República, e de Eisenhower, em 1961.
Washington aconselha o seu povo a não
intrometer-se nas guerras européias, e a aproveitar-se, ao máximo, do comércio
pacífico com o mundo. Eisenhower adverte contra o “complexo industrial militar”
que, depois de sua saída, assenhoreou-se do poder nos Estados Unidos.
Washington e Eisenhower, como chefes militares vitoriosos dos dois grandes
conflitos internacionais do povo americano, a Guerra da Independência e a
2ª.Guerra Mundial, sabiam o que são as guerras.
Há, sem embargo, presidentes que, ao
morrer durante o período de governo, não deixam as advertências do adeus. Foi o
que ocorreu a dois dos mais importantes líderes do país: Abraham Lincoln e
Franklin Roosevelt. Os discursos inaugurais, que complementam o juramento
constitucional conhecido, trazem a esperança e o compromisso do empossado; os
de adeus revelam suas frustrações, ao lado das reflexões sobre as dificuldades
da nação e as vicissitudes e limites do poder.
O que teria dito Lincoln, se, não fosse seu
assassinato, e houvesse chegado ao fim
de seu segundo mandato, com a nação reunificada depois dos imensos sacrifícios
da Guerra Civil? Naturalmente ele teria retornado a seu pensamento clássico, de
união nacional, da igualdade entre todos os americanos, entre eles os negros.
Mas não deixaria de advertir contra os perigos de uma nova divisão interior que
seria, na ordem de suas idéias conhecidas, a única forma de destruição do país.
Embora não se referisse diretamente
a isso, as idéias e a ação de Lincoln sempre foram contra o imperialismo e o
expansionismo. Assim, ele se opôs à guerra do Presidente Polk contra o México,
exigindo que o chefe de governo provasse, sem nenhuma dúvida, a afirmação de
que o território “invadido” pelas tropas do país vizinho era território
americano, o que justificaria a guerra como sendo de defesa. Polk foi obrigado
a admitir que se tratava de “território
em disputa”.
Podemos também especular sobre o
que diria Franklin Roosevelt, se, reeleito, como foi em 1944, chegasse ao fim
de seu mandato, quatro anos depois. É provável que ele não tivesse, diante da
União Soviética, a mesma postura bélica de Truman. Como são os homens que fazem a História, talvez o mundo houvesse
tomado rumo diferente.
O discurso de Obama é cheio de emoção, com o
apelo à unidade nacional, a fim de que se enfrentem, com coragem e êxito, os
grandes desafios, entre eles, o da ameaça climática. Traz a mensagem de que, em
seu segundo mandato, e com o apoio necessário dos adversários, cumprirá o que não pôde cumprir até agora.
Por enquanto, são apenas palavras, palavras
e palavras. Só saberemos o que ele realmente pensa, hoje, e o que realmente
enfrenta na Casa Branca, quando chegar o seu momento do farewell address.
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Não adianta falar uma coisa e fazer outra.
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