(HD) - Houve um tempo, o do Renascimento, em
que os principados italianos faziam da política uma obra de arte, como constatou o historiador Jacob Burckhardt em
seu livro sobre a Civilização do Renascimento na Itália. Violentos uns,
astutos, outros, sábios alguns mais, aos príncipes italianos não faltava
inteligência na escolha de seus conselheiros militares e políticos. A esses,
confiavam as táticas e estratégias, na condução do poder interno e na defesa
dos interesses externos. Eram homens que só se dedicavam a mandar e, mandando,
conservar o poder. Um dos segredos da sobrevivência de tais estados era a
autonomia de cada um deles, assegurada com a astúcia e com a força, posto que
viviam em estado permanente de guerra.
A Itália
viveu dias gloriosos na unificação da Península, há um século e meio, na
repetição da aliança entre guerreiros e pensadores políticos (Garibaldi com a
espada, Cavour e Mazzini com as letras). As vicissitudes históricas posteriores,
entre elas uma monarquia tão ambiciosa quanto débil, levaram o estado unitário
a capengar, desde o surgimento do fascismo, com Mussolini, até os nossos dias.
Garibaldi, ao partir de Roma para a
campanha do Norte, disse aos membros do parlamento provisório, que nada podia
prometer, senão “muito trabalho, sangue, suor e lágrimas”. A frase foi plagiada mais tarde por Theodore
Roosevelt e passou a história como sendo de Churchill, que a repetiu em seu
mais famoso discurso.
Croce, ao resumir o fascismo italiano,
disse que Mussolini fora um palhaço que o Rei Vittorio Emmanuele III levara a
sério. Ele, o mais lúcido pensador italiano daquele tempo, foi convidado pelos
norte-americanos a chefiar um governo de transição, e sabiamente recusou,
conforme seu diário político, datado de 25 de fevereiro de 1944. Talvez , como
Ortega y Gasset, pensasse que o mal dos tempos modernos está em que os que
pensam, ou acham que pensam - como Mário Monti - querem mandar, e os que
mandam, querem pensar.
Os
partidos de centro-esquerda, com Bersani, nem
a coligação de direita de Berlusconi, conseguiram maioria, necessária ao
sistema parlamentaristam para governar. Um cômico de televisão, Beppe Grillo,
com linguagem populista, tirou do centro-esquerda os votos que lhe dariam a
maioria. Espera-se que ele os devolva, aceitando uma aliança com Bersani.
Mussolini se apoiara na Alemanha de Hitler; o
atual presidente da Itália, Giorgio Napolitano, comunista “pentito”, vai “consultar” Ângela Merkel, a fim de buscar
uma solução para a crise.
De qualquer forma, à esquerda e à
direita, o povo italiano disse um não rotundo à política – exigida pelos
banqueiros - de arrocho contra os trabalhadores, com o apoio da ditadora
econômica do continente, a germaníssima Merkel. Seu candidato explícito, Mário
Monti, funcionário do Goldman Sachs, obteve escassos 10% dos votos.
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3 comentários:
Discordo às vezes de seu posicionamento mas nem por isso o admiro menos. Como nos fazem falta mais pensadores de sua envergadura!
Zapper
Amigo, discordar, é muitas vezes, preciso, fique sempre à vontade para externar sua opinião, obrigado e um abraço.
Se a culpa de tudo é da monarquia como é que em quase 70 anos os republicanos maravilhosos não resolveram os problemas da Itália. Na republica italiana o presidente não é escolhido pelo povo é o primeiro ministro é um tecnocrata escolhido arbitrariamente pelo presidente. Os republicanos só enxergam aquilo que lhes convém e quando convém.
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