(Carta Maior) - A reunião do G-20, em Moscou,
encerrada ontem, terminou com vagas promessas, da parte dos Estados Unidos e da
Europa, de homologar finalmente o acordo, fechado informalmente em 2010, que daria mais poder aos emergentes
no Fundo Monetário Internacional.
Não é segredo que as quotas dessa
instituição, com direito a voto, não correspondem mais, há muito tempo, à
realidade econômica mundial. Com a reforma, muitos países europeus, com sua
importância econômica reduzida nos últimos anos, veriam minguar suas quotas e
seu poder de voto. Tendo crescido mais rapidamente neste início de século, os
países emergentes, à frente deles os
BRICS, assumiriam o seu direito e a sua responsabilidade na direção das
finanças mundiais.
Os países ocidentais, liderados por
Washington e Berlim, no entanto, não querem diminuir seus poderes nas grandes
instituições internacionais, sobretudo as financeiras.
Os controladores da economia globalizada
atuam junto ao Congresso dos Estados Unidos e contam com o apoio da maioria
republicana a que se somam muitos democratas, a fim de impedir que a China se
torne o terceiro país mais importante do Fundo, ou que o Brasil venha a
avançar, até alcançar, no futuro, uma posição condizente com a sua condição de
sexta maior economia do planeta.
Com a dívida interna líquida de 35% do
PIB; débitos externos que correspondem a menos
de 15% do que produz todos os anos; 378 bilhões de dólares em reservas
internacionais; sendo o terceiro maior credor individual externo dos Estados
Unidos, depois da China e do Japão e credor do próprio FMI, o Brasil não aceita
mais ser tratado no mesmo patamar de países de peso geográfico, demográfico e
econômico menor, e dados macroeconômicos piores do que os nossos.
Esse assunto também será tratado em
Brasília, nesta semana, em Brasília, durante a visita do Primeiro-Ministro da
Federação Russa, Dmitri Medvedev.
Os russos, como os chineses e indianos,
parceiros do Brasil no BRICS, estão também
perdendo a paciência com os países do ocidente econômico, diante da
desproporção entre o que esse grupo de países representa, em termos globais,
como território, população e economia, e a sua posição nos organismos multilaterais internacionais.
Embora sofra uma campanha de sabotagem
contínua por parte da imprensa “ocidental”, o BRICS está cada vez mais vivo,
trabalhando unido, como demonstram, por exemplo, as reuniões sobre segurança e
saúde realizadas há menos de um mês em Nova Delhi.
No encontro com Medvedev, Dilma deverá tratar
do apoio russo – já quase acertado - para a eleição do brasileiro Roberto
Azevedo à Direção Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os dois
deverão também ajustar as propostas que Rússia e Brasil levarão à Quinta Cúpula
Presidencial dos BRICS, na África do Sul, em março.
Nesse encontro, os países membros
deverão tratar da constituição de seu próprio Banco de Desenvolvimento. E, provavelmente,
de instituição que poderia concorrer com
o FMI, a fim de atender às necessidades
de países emergentes e em desenvolvimento.
No
passado, o G-7 ignorou o G-20, e hoje,
como grupo, é uma ficção geoestratégica e institucional. Ao se negarem a
reformar o FMI, os Estados Unidos e a
Europa podem estar condenando-o à
caquexia. Os emergentes, com os BRICs à frente, podem ser o núcleo de nova
realidade econômica mundial.
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