(JB) - Este foi um ano, no
Brasil e no mundo, contra o homem. Esta Sexta Feira da Paixão, que lembra a morte de Cristo,
deveria ser consagrada a todos os flagelados, torturados e mortos, sob o signo
da ignomínia na história. Ano a ano, cresce a esperança de paz entre os
verdadeiros cristãos, e ano a ano, essa esperança se desfaz, diante da
brutalidade e da indiferença de uma sociedade devotada ao culto da violência.
Há poucos dias, um jogador de futebol que se
destacara como goleiro de popular clube do Rio, confirmou, no tribunal, que um
comparsa matara uma de suas eventuais amantes, esquartejara o corpo e atirara
as partes a cães famintos. A notícia foi lida com aparente indiferença. Nenhuma
das mais conhecidas personalidades públicas brasileiras manifestou sua
indignação contra crime tão hediondo. Durante o processo, em que se investigava
o desaparecimento da jovem, surgiram informações de sua vida irregular, como garota de programa e atriz de filmes
pornográficos, como se tal comportamento devesse ser punido com a morte.
O
horror a que essa jovem foi submetida, pelo fato de exigir do pai de seu filho
que assumisse a responsabilidade devida, não espantou ninguém. E a ignomínia do
expediente assumido pelos assassinos, de fazer com que os cães devorassem seus
restos, a fim de oculta-los, tampouco trouxe indignação a uma sociedade tão
preocupada com a sobrevivência de rãs e lagartos.
Confirma-se a previsão de grandes
pensadores do passado, de que a tecnologia, ao nos oferecer instrumentos
mágicos, nos devolveria à barbárie. Como estamos no Brasil, poucos se espantam
(embora em número bem maior do que ocorreu com a morte da “namorada” do
goleiro) com a escolha do “pastor” Marco Feliciano para presidir à Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O estranho religioso, que deveria
estar na cadeia pela ofensa feita à metade da população brasileira, negra e
mestiça, aferra-se ao cargo, com a protérvia de afirmar que só sai dali morto.
Flagrado em vídeo que o mostra em pleno
ato de estelionato, ao exigir de um fiel a senha de seu cartão de crédito, o
“pastor” não foi expelido da Comissão,
pela negligência ética e cumplicidade corporativa da Câmara. Ele e o seu partido, que se intitula
“cristão”, são uma blasfêmia e um insulto ao homem de Nazaré que nos dá a sua
mão na difícil travessia da vida. Se a Câmara guardar um mínimo de ética deve
ir além – e cassar o seu mandato. Vamos ver como agirá nesta segunda feira, que
lembra a Ressurreição.
Estamos perdendo a alma, no abismo
profundo do egoísmo – ou, na melhor teologia, no abismo do inferno. Esse é o
verdadeiro suicídio da Humanidade, que poucos percebem. Podemos refletir hoje,
à margem das homilias dos sacerdotes e da bela liturgia da paixão, sobre estes
dois tristes episódios de nosso país e nosso tempo, entre outros: o martírio de
uma mulher infeliz, que sonhou com a segurança e a riqueza para seu filho, e a
petulância de um falso religioso, impiedoso e hipócrita, misógino e racista, que
responde a processo por estelionato no STF, infelizmente eleito por cidadãos de
São Paulo - que se orgulha de ser o mais rico e mais civilizado dos estados
brasileiros.