(Carta Maior) - Nos
últimos tempos, virou moda no Brasil, e em alguns países da América Latina,
fazer comparações entre o nosso país e o México, no que se refere ao desempenho
econômico. Elas escoram as críticas que a imprensa econômica internacional faz
a um suposto aumento do “intervencionismo” do Governo brasileiro na economia.
Parte disso deriva do fim da farra dos bancos e especuladores
estrangeiros no Brasil, que aqui ganhavam gigantescas fortunas da noite para o
dia, graças ao tripé : maiores juros do mundo; valorização da bolsa e do
câmbio, que foi, de quase 100% com relação ao dólar nos últimos dez anos.
O outro motivo para essa campanha é manter, de forma permanente, o
máximo de pressão midiática contra o governo, dentro e fora do Brasil. O
objetivo é obrigar o país a provar que não é a Argentina, a Venezuela, nem a
Bolívia, e que aceita a receita neoliberal. Assim se explicam medidas que vão
do financiamento público a multinacionais como a Vivo, a abertura, via
concessões do setor de infraestrutura para grupos internacionais, com aportes
do Tesouro e 35 anos de prazo e liberdade para a remessa de lucros para o
exterior. Enfim, que o Estado não está intervindo na economia.
Como na história do lobo e do cordeiro, no entanto, quanto mais
atenção o governo dá a isso, mais a pressão aumenta. É o que explica, por
exemplo, o fato de nas últimas semanas o nosso risco-país ter ultrapassado o do
México que tem sido citado como principal exemplo de que o Brasil não está
“fazendo bem o seu dever de casa”, segundo a pauta das agências de
classificação de risco, do Wall Street Journal e dos “analistas” do mercado.
Nessa campanha, tipo gota d´água em pedra dura tanto bate até que
fura, o fato de o México ter crescido três e meio por cento contra apenas 0,9%
do Brasil no ano passado é o mais lembrado, mas não é o único. O México também
seria mais “moderno”, mais “competitivo”, e mais “aberto” ao mundo, em
contraponto com o Brasil e o “Mercosul”, símbolos de “atraso e protecionismo”
na América Latina.
Antes que essas mentiras se cristalizem como verdade na mente dos
mais ingênuos, é preciso esclarecer alguns pontos. Embora o México tenha
crescido mais que o Brasil nos últimos dois anos, o Brasil cresceu quase o
dobro do México nos últimos dez anos, justamente no Governo Lula, e tem mais
potencial do que o México para assim continuar no futuro, segundo afirmou,
nesta semana, em entrevista, para citar um nome ao gosto do mercado, o economista
Jim O´Neill, o “inventor” do BRICS.
Embora o comércio exterior do México equivalha a quase 50% do PIB,
oitenta por cento de suas exportações vão para um único destino, os Estados
Unidos. O Brasil exporta, em partes mais ou menos iguais, para a China, os EUA,
a União Europeia, a América Latina, e o resto do mundo.
Outro mito difundido é o de que o México seria um grande
exportador de manufaturas enquanto o Brasil é um grande exportador de
matérias-primas. Nem uma coisa nem outra. O México monta peças recebidas de
terceiros e as manda para os Estados Unidos, enquanto o Brasil é, por exemplo,
o terceiro maior exportador de aviões do mundo, vendendo para os EUA, principal
cliente do México, até aeronaves de guerra, como ocorreu há uma semana.
A abertura indiscriminada da economia mexicana também parece não
ter produzido muita coisa em termos de inovação. Comparando-se o número de
patentes concedidas no mercado internacional, em 2010, o México conseguiu
registrar 198, contra 481 do Brasil.
A alardeada “competitividade” do México reside em seus baixos
salários. O valor do salário mínimo no Brasil mais do que dobrou, com relação
ao dólar, nos últimos 10 anos, enquanto no México esse valor vem diminuindo. A
produtividade do trabalhador brasileiro é quase o dobro da produtividade do
trabalhador mexicano, que, entre os 34 países da OCDE, ocupa o penúltimo lugar.
O valor de uma hora de trabalho no Brasil era de quase sete
dólares em 2011, contra menos de cinco dólares do trabalhador mexicano no mesmo
ano, segundo estatística do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos.
Finalmente, a outra falsa afirmação é a de que o México esteja se
transformando no “queridinho” dos mercados, enquanto o Brasil – que, com 388
bilhões de dólares em reservas, é o terceiro maior credor individual externo
dos Estados Unidos, depois da China e do Japão – seria o pato feio da economia internacional
por causa da atuação do governo.
Embora a bolsa mexicana – muitíssimo menor que a Bovespa – tenha
se valorizado mais no último ano, o Investimento Externo Direto, aquele
realmente produtivo, caiu 31% no México em 2012, para pouco mais de 12 bilhões
de dólares, enquanto o IED no Brasil foi de cinco vezes mais, ou 65 bilhões de
dólares no ano passado, ou o terceiro maior do mundo.
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