(HD)-Homem do campo, Hélio
Garcia é conhecido pelas metáforas rurais, a fim de explicar o complicado
universo da política. Em uma delas, desdenha o efeito dos comícios nas
campanhas eleitorais: “Hoje em dia,
ninguém mais faz comícios, nem mexe com gado gir”. Na verdade há ainda
criadores do gir. Mudanças genéticas melhoraram o desempenho desse animal,
tanto para a produção do leite, quanto para o abate. Quanto aos comícios, é
certo que os programas de televisão os substituem, mas apenas em parte. A presença física
dos candidatos e seu contato com o povo ainda decidem uma eleição.
Outra metáfora de Hélio, que pode
parecer ofensiva - mas não é, se analisada devidamente - é a de que campanha
eleitoral é como caminhão carregado de porcos. Enquanto ela não se desenvolve,
na fase dos preparativos, é como se fosse o caminhão cheio, antes de partir. Os
animais, inquietos, buscam espaços, mordem-se as orelhas e os rabos, grunhem e
gemem. No momento em que o caminhão começa a rodar, eles procuram ajeitar-se ao
movimento.
A política é a disputa dos espaços de poder.
E, como em política, só pode quem pode, e só se pode o que se pode, para obter
espaço é preciso conceder espaço. Os espaços se definem e se limitam mediante as
negociações. Política é conversa, é a busca dos acordos e entendimentos, tanto
na situação quanto na oposição; é a arte de ceder, para obter, seja no
atendimento às ambições pessoais de mando, seja nos programas de ação
ideológica.
A oposição está dividida, o que não
parece ser mau para os que defendem a reeleição da atual presidente da
República. Os partidários do ex-governador José Serra, entre eles o
ex-comunista Roberto Freire, e o atual governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, organizam novo partido político, com o propósito de disputar as
eleições do ano que vem.
Há
algumas dificuldades nesse projeto. Dificuldades legais, em primeiro lugar,
diante da legislação atual, que procura impedir o surgimento de novas siglas. E
dificuldades políticas, que não são menores.
Ao
contrário do que imaginam possível, Serra não será capaz de mobilizar, em torno
de seu nome, parcela expressiva dos eleitores oposicionistas de São Paulo. Nem Eduardo Campos empolga o Nordeste no
apoio à sua postulação.
Ali,
já começaram a surgir as primeiras dissidências. O candidato não conta com todos
os governadores eleitos pelo seu partido na região. A cisão mais notável é a do Ceará. Cid Gomes,
o governador, e seu irmão, Ciro, uma das mais fortes lideranças regionais,
e grande presença nacional, já se
opuseram às postulações do governador de Pernambuco. E não há sinal de
entusiasmo entre os outros.
O quadro estará mais nítido no segundo
semestre, ao se adensarem as candidaturas, a situação econômica definir-se, e o
caminhão, finalmente, começar a andar.
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