25 de abr. de 2013

UM SANTO PARA OS POBRES


(HD)-Um bom sinal: o novo papa determinou o desbloqueio do processo de beatificação – passo prévio à canonização – de Dom Oscar Arnulfo Romero, o arcebispo de El Salvador, assassinado pela ditadura militar.  O processo, iniciado em 1997, 17 anos depois da morte do arcebispo, repousava nos arquivos do Vaticano. Segundo a Cúria, era preciso saber se a execução fora martírio em defesa da fé, ou provocada por sua militância política.
               El Salvador, desde o ano anterior, estava sob uma junta militar implacável, com esquadrões da morte que eliminavam a esmo, em todo o país.              Dom Romero, com todo o seu prestígio, buscava a paz. Diante da escalada do terror, fez um apaixonado apelo aos militares, conclamando-os a  não  assassinar os jovens. O apelo foi sua sentença de morte.
             Em pleno governo Carter,  que apoiava a repressão com agentes da CIA e conselheiros militares, além de mercenários e armas, pagos com fundos secretos, Dom Romero rezava a missa na capela de um centro hospitalar de tratamento de cancerosos, quando um sicário o matou, em 24 de março de 1980.
             Era o segundo ano do polonês Wojtyla no papado, empenhado em apoiar o sindicato anticomunista Solidarinost, com dinheiro do Banco Ambrosiano, como instrumento para a derrubada do governo da Polônia. Não tomou conhecimento do martírio do arcebispo.
           Em 1990, já com a situação de El Salvador mais ou menos normalizada, seus bispos encaminharam ao Vaticano o pedido de canonização de Dom Romero.  Ratzinger, ao suceder João Paulo II, manteve o mesmo comportamento, o de fazer de conta que o processo não existia.
              João Paulo II, que bloqueara o processo em favor de D. Oscar, com a desculpa do provável envolvimento político do arcebispo, não hesitou em fazer do fundador da Opus Dei, e parceiro de Franco no regime brutal da Espanha, José Maria Escrivá de Balaguer, santo da Igreja, 27 anos apenas depois de sua morte.
             O papa Francisco, que procura salvar a Igreja, buscando conciliar suas correntes internas, dá, assim, mais um passo em direção à teologia dos pobres, que vem sendo sufocada na América Latina a partir da morte de João 23. Durante o pontificado de Paulo 6º, a ação contra o grupo de vanguarda foi mais contida, mas com a eleição do papa polonês – filho de um oficial do Exército – a ordem foi  amordaçar os teólogos libertários, como ocorreu a Leonardo Boff, e a muitos outros, condenados ao “obsequioso silêncio”. Alguns resistiram, com sacrifícios, à onda conservadora, como Dom Pedro Casaldaliga, e Dom Paulo Arns.
            A beatificação de Dom Oscar significará o reconhecimento tácito de que os que foram perseguidos pelo Vaticano, nestas últimas décadas, estavam a serviço da Fé, porque estavam a serviço dos pobres e dos oprimidos, como esteve Jesus. 

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:


Um comentário:

João de Deus "Netto" disse...

A droga é insistir na bobagem de "santos", onde até o mundo outrora analfabeto, principalmente, a América Latina já dá sinais de reação à influência da teologia milenar da miséria, do /generalíssimo/coronelismo e da boçalidade como forma de mante a linha de montagem dos inúteis bonecos milagreiros. Tá lá em Gênesis e no personagem do Charlton Heston detonando o bezerro de ouro que todo o mundo cristão miserável assitiu, adorou e não conseguiu entense que droga foi aquele gesto...Era muuito cabresto, analfabetismo e depend~encia total de esmolas.