(JB)-O Brasil disputa com o
México a presidência da Organização Mundial do Comércio, com candidatura do
Embaixador Roberto Azevedo, em momento difícil: os Estados Unidos decidiram
buscar, no país vizinho (ao qual se encontra condenado viver geograficamente
unido) um aliado preferencial. Embora, aparentemente, um fato possa parecer
menor diante do outro, a viagem de Obama se estende à América Central, e não
deixa de ser um sinal de seu apoio ao nosso adversário, Hermínio Blanco, do PRI
- historicamente ligado a Carlos Salinas de Gortari, o mais corrupto dos
presidentes mexicanos do século 20. É bom lembrar que, ao deixar o governo de
seu país, em 1994, Gortari pretendia eleger-se presidente da mesma OMC.
A eleição para a OMC está marcada para o fim
deste mês, mas é provável que a decisão seja conhecida muito antes: conforme Keith
Rockwell, porta-voz da entidade, não se tratará de uma eleição propriamente
dita, mas, sim, de uma “seleção”.
É ainda mais estranha a
candidatura do México, uma vez que a sua participação no comércio internacional
se restringe aos Estados Unidos, de que passou a ser, a partir do Nafta, um
estado apêndice: oitenta por cento das exportações do país se dirigem ao
vizinho do Norte, assim como 40% das exportações dos Estados Unidos se fazem
para o México.
Não há motivos para o espanto: o México é uma vasta oficina de montagem
de produtos norte-americanos que, acabados, devem voltar às empresas ianques. O
trabalho dos mexicanos, mal remunerado, é reexportado ao resto do mundo. A mais-valia
clássica, produto dessa exploração, é incorporada aos produtos norte-americanos. Isso
explica o expressivo comércio bilateral.
Segundo artigo de Andrés
Peñalosa, divulgado nas últimas horas, Hermínio Blanco é candidato dos grandes banqueiros
e empresários mexicanos, que expressaram seu entusiasmado apoio em uma reunião
realizada em Acapulco, há poucos dias. A cidade é considerada capital do
narcotráfico no País, e Blanco chegou a ser acusado de “lavar” dinheiro das
drogas. Os seus promotores, junto à OMC, são ligados, pela vida inteira ao PRI, e, em
sua maioria, foram beneficiados por Gortari, que lhes entregou as grandes
estatais mexicanas.
Blanco conta com o apoio já
declarado dos Estados Unidos e da União Européia. O Brasil aposta no apoio de
alguns dos países asiáticos, dos Brics, de grande parte dos países africanos e
de seus vizinhos da América do Sul, embora seja provável que o bloco do
Pacífico (Colômbia, Peru e Chile) fique com o seu sócio mexicano, e com a Espanha,
patrocinadora dessa cunha divisionista em nosso continente.
A visita de Obama ao México, que se iniciou ontem, é
curiosamente vista com pessimismo pela
imprensa americana (a partir do New York Times), e com todo o entusiasmo
pró-ianque pelo El País, de Madri.
Os norte-americanos sabem que, desde a guerra
de Polk contra o país de 1846 a 1848, quando os mexicanos perderam quase a
metade de seu território, há um sentimento atávico de rejeição aos gringos. A expressão surgiu na própria
guerra, porque as tropas americanas avançavam cantando velha balada do folclore
britânico, em que se destacava o verso the
“green grass” grows o'er him so very, very high. E o povo mexicano sabe que os norte-americanos
querem transformar em jurídicas, as relações de comando norte-americano que já
existem de fato, ao propor o controle oficial, pelas suas agências repressivas,
do tráfico de drogas.
Ora, há indícios fortes de acordo secreto
entre o novo governo do PRI e os narcotraficantes: o Exército reduziu de 50.000
a 32.000 os efetivos empregados no combate ao comércio de drogas, e essa
redução ocorreu também entre os efetivos policiais. Obama, conforme o maior
jornal dos Estados Unidos, será bem recebido e obterá promessas, mas não se
espera que o projeto jurídico de ampliação do império sobre o México venha a concluir-se.
O Brasil vem atuando com prudência
diplomática na defesa da candidatura de Roberto Azevedo, a fim de não a
vincular aos países emergentes, mas sim de assegurar equilíbrio ao sistema
comercial do mundo. Não será fácil vencer os adversários, mas não se trata de
uma tarefa impossível.
Este texto foi publicado também nos seguinte sites:
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Fiquei sabendo neste momento da postagem deste comentário que Azevedo foi eleito. Agradeço-lhe por nos ter alertado, Mario.
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