(HD)-A questão mais importante do poder é a
de sua legitimidade. Os governos tirânicos usam o argumento de que se legitimam
por si mesmos. Foi assim com o golpe de 1964, em seu primeiro ato: “a Revolução
se legitima a si mesma”. A idéia foi exposta por Goering, no Tribunal de
Nuremberg. Um procurador aliado inquiriu-o sobre a ousadia do regime, em violar
os princípios básicos da civilização ocidental, sem pensar nas conseqüências. Ele
respondeu que estavam criando uma nova ordem mundial, e a vitória militar a
legitimaria. Nada tinham a ver com o passado.
Todas as interpretações de fundo sobre a
atualidade brasileira (e mundial) confluem para identificar grave crise de legitimidade da representação
política. Os líderes perderam a confiança dos cidadãos, única fonte legítima de poder, de direito, nas
sociedades humanas.
As manifestações se repetem em todos os
países, com maior ou menor intensidade, não só contra a corrupção, mas também
contra a ineficiência dos governantes, incapazes de assegurar a justiça social.
Agindo como gangsters, os banqueiros invertem a razão: são eles que controlam
os governos.
Dois são os eixos sobre os quais se movem
as sociedades humanas: o contrato e a lealdade. O contrato político se realiza
no ato eleitoral: os cidadãos conferem mandatos temporários a alguns deles, a
fim de legislar ou administrar. Em troca, os eleitos assumem, tacitamente, o
dever de lealdade para com o Estado.
O Estado de Direito deve reger-se pelos
princípios imemoriais e éticos, de solidariedade nacional; pela Constituição e
pelas leis. Quando o mandatário não cumpre o contrato, deveria perder a
confiança do eleitor, e, assim, ter a
delegação cassada.
No
Brasil não conseguimos ainda criar um Estado de Direito realmente solidário.
Aqui, as nossas constituições têm sido alteradas pelas circunstâncias
conjunturais, sob a pressão dos interesses privados e corporativos.
As bancadas corporativas sobrepõem-se, no
Congresso Nacional, às partidárias. Os partidos já perderam o poder de fechar questão em votações de maior
responsabilidade, porque sabem como irão votar seus deputados, obedecendo aos
interesses das reais bancadas a que pertençam: dos banqueiros, do agronegócio, dos
industriais, das confissões religiosas. Isso explica muitas coisas.
Explicam, por exemplo, a absoluta
impossibilidade de se obter uma reforma política por via legislativa. E explicam
os oitenta e seis deputados federais que se negaram a votar moção de repúdio à
espionagem das nossas comunicações pelo telefone e pela internet, pelo governo
norte-americano.
Esses parlamentares podem estar atendendo à
visão de mundo de seus eleitores corporativos, que só pensam em seus negócios. Mas não são leais
com o Estado e a Nação.
Se
aceitam essa interferência abjeta em nossa soberania, podemos imaginar como se
comportariam diante de uma invasão estrangeira.
4 comentários:
Caríssimo Jornalista Mauro Santayana
Ainda hoje, lendo o livro O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro, a certa altura ele relata o relacionamento dos senhores de engenho do Nordeste com os invasores holandeses. Não pude deixar de fazer um paralelo entre a atitude de muitos daqueles senhores de engenho e a de muitos dos deputados. Submissão a interesses financeiros apátridas. Não vou me alongar pois o sr conhece a história melhor do que eu. Não mudou nada não é ?
Grande abraço!
Belo texto, como sempre, Mestre Santayana.
O quintacolunismo, a traição ao país, tem estado sempre presente na participação da direita em nossa história. Os interesses privados no congresso, por seu lado, ameaçam nossa ainda frágil democracia.
Parto sempre do simples, porém profundo, princípio: QUEM NÃO DEVE NÃO TEME!
Só os imbecis ou insanos não temem. Belo texto.
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