(HD) - A notícia de que o Brasil
enviou para a reunião da cúpula de direitos humanos da ONU, na qual se tratou da espionagem norte-americana
da NSA, uma estagiária, não é lisonjeira para o nosso país, no momento em que enfrentamos
graves desafios no contexto das relações externas.
Compreende-se que a principal mensagem brasileira sobre o tema deverá ser dada pela
própria Presidente Dilma no seu discurso de abertura da Assembléia das Nações
Unidas.
Mas o Brasil - que patrocinou a convocação da reunião junto à
Alemanha e os países escandinavos - não poderia ter deixado de mandar um diplomata
de primeira linha ao encontro, principalmente quando a espionagem à própria
Presidente da República foi ali abordada por outros países, e estiveram presentes,
como foi citado na matéria, a alta comissária Navi Pillay e o Relator da ONU
para a Liberdade de Expressão, Frank de La Rue.
Com a decisão de postergar – sine die - sua visita de estado
aos EUA, que estava programada para outubro, o Brasil mandou ao mundo uma firme
mensagem de que a agressão sofrida à sua soberania é um tema prioritário para o
Governo e a Nação nesse momento.
Esperava-se, portanto – dentro e fora do país - que o governo aproveitasse toda e qualquer
oportunidade para marcar, na linha de frente, sua presença, e assumir um papel
preponderante nessa questão, no contexto internacional.
A diplomacia é uma atividade estratégica e emblemática, na
qual o simbolismo, a atitude e o gesto – como ficou demonstrado pela própria
suspensão da viagem – são muitas vezes mais importantes do que as palavras.
A constatação – por meio dos documentos revelados por Edward
Snowden – de que o primeiro escalão do governo brasileiro tem sido monitorado por
serviços de inteligência dos Estados Unidos – e que o Brasil é o país mais
espionado pelos norte-americanos – tem que ser tratada como uma grave e
imediata ameaça à segurança nacional.
É difícil, portanto – da mesma forma que ocorreu no
Congresso, com a criação da CPI da espionagem – acreditar que não exista,
ainda, no âmbito do executivo, uma força tarefa - com a presença do Ministério
da Defesa, da ABIN, do Ministério das Relações Exteriores - para analisar e acompanhar
essa questão e estabelecer e aplicar uma agenda comum de atuação, sob a orientação
direta da Presidência da República.
O compreensível foco na diplomacia presidencial – dada a
gravidade do assunto - não pode justificar o tipo de conduta que se viu em Genebra,
e muito menos permitir que o Brasil envie sinais contraditórios ou de ausência
de preparo ou organização à comunidade internacional neste momento.
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