(HD) - Depois de marchas e contramarchas, a Presidente Dilma Roussef
resolveu postergar a visita de Estado que faria aos Estados Unidos, no dia 23
do mês que vem.
Mesmo considerando-se a repercussão alcançada pela medida,
tomada sob a natural indignação suscitada, no Brasil e no governo, pela
espionagem cibernética norte-americana - e a desenvolta presença de agentes norte-americanos no Brasil - essa
pode não ter sido a solução mais
adequada para responder ao insulto.
Quando se trata de uma relação madura, entre dois estados do
mesmo nível, o melhor é ir até lá, encarar o interlocutor diretamente, e dizer
tudo o que tinha a ser dito, não apenas a Obama e ao governo dos EUA, mas à
comunidade internacional.
Deixando de ir, Dilma Roussef abriu mão de um palanque único
- com cobertura assegurada pela imprensa
mundial – que poderia ter utilizado para passar a mensagem do Brasil neste momento, não apenas com relação à
espionagem dos EUA, mas também a questões como a Síria, por exemplo.
Isso poderá ser feito na reunião da ONU em Nova Iorque, mas
talvez tivesse maior repercussão, se suas declarações fossem dadas sob o teto
de Obama, nos jardins da Casa Branca.
De toda forma, os últimos fatos mostram que os EUA não têm a
menor intenção de mudar a sua política com relação ao Brasil, e que, pretendem,
pelo contrário, aprofundar sua atitude de antagonismo e beligerância com
relação ao nosso país.
A nomeação, para o cargo de embaixadora em Brasília, de
Liliana Ayalde - no lugar de Thomas Shannon, chamado de volta a Washington para
trabalhar como assessor de John Kerry - deixa claras as intenções do governo
Obama.
Formada em artes e em saúde pública nos EUA, Liliana
Ayalde trabalhou para a USAID na
Colômbia e foi responsável pela área de Cuba, América Central e Caribe do
Departamento de Estado.
Se envolveu com a polêmica
instalação de bases dos EUA na Colômbia, e com a “cooperação” do Comando
Sul dos Estados Unidos em ações “humanitárias” no Paraguai, onde repassava
“doações” norte-americanas a organizações de segurança de combate ao “tráfico
de drogas” e à “corrupção”.
Em março de 2010, Ayalde organizou uma reunião na embaixada
dos EUA em Assunção. Do encontro, participaram militares americanos, militares
paraguaios da ativa, membros da oposição e o então vice-presidente paraguaio
Federico Franco.
O tema era a abertura de um processo contra o Presidente
Fernando Lugo no Congresso, para tirá-lo do poder.
Acusada pelo então Ministro da Defesa do Paraguai de interferência
na política interna paraguaia, Ayalde negou que tivesse essa intenção.
Menos de dois anos depois Lugo seria processado e substituído
por Federico Franco, por meio de um golpe branco em Assunção.
Da “doação” de dinheiro à realização de convênios da DEA e da
CIA com autoridades brasileiras – como os denunciados pela Folha esta semana -
à interferência em assuntos internos, o currículo da sra Ayalde fala por si só,
na hora de avaliar sua nova missão no Brasil. É melhor pensar nisso, antes de
conceder-lhe o agreement.
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