O Judiciário paralisou pela vigésima vez as obras
da usina de Belo Monte, no Pará, como tem feito freqüentemente, também, com Telles
Pires. Melhor seria que o Ministério Público instalasse uma representação no
local, para acompanhar todos os problemas, a tempo e a hora, e as soluções que
serão adotadas pelo consórcio, em várias questões, incluindo, como é o caso, a
construção de casas para a população reassentada. O que não pode ser é que obras dessas dimensões, com milhares de trabalhadores, sejam interrompidas a cada
vez que surja um problema. Depois, quando a obra triplica de preço, antes de
terminada, a culpa é da corrupção:
30 de out. de 2013
29 de out. de 2013
A POLÍCIA E O CONTROLE DA SOCIEDADE
(JB) - Patricia Acioli e Patricia Amiero. São esses dois nomes que
nos vêm, primeiro à lembrança, no momento em que tramita na Assembléia
Legislativa do Rio de Janeiro, lei que pretende modificar o código disciplinar
da Polícia Militar e dos Bombeiros, para tornar mais brandas a punição a
membros dessas corporações que cometam crimes e infrações disciplinares.
As duas Patrícias são nomes emblemáticos, porque, ao
contrário do que pensa quem acha que a PM só mata bandido, pertencem a uma
extensa lista de cidadãos comuns, trabalhadores, formados em universidade, de
classe média, que se tornaram vítimas da violência, no Rio de Janeiro, nos
últimos anos.
Ressalte-se sua condição social, não porque façamos alguma
distinção entre as vítimas do asfalto e as da periferia. Patrícia Acioli,
juíza, morreu porque investigava crimes de policiais bandidos. Patricia Amiero,
engenheira, porque cruzou com uma rádio-patrulha de madrugada, nas ruas do Rio
de Janeiro. Uma situação que ninguém enfrenta sem medo, mesmo aqueles que
acreditam – eventualmente - que a polícia tem o direito de matar sumariamente
suspeitos.
Com os controles e a legislação atual, segundo o Instituto de
Segurança Pública (ISP), órgão vinculado a Secretaria de Segurança do Estado do
Rio, mais de 10 mil pessoas foram mortas em confronto com a polícia entre 2001
e 2011. Na imensa maioria dos casos não há como provar que houve resistência, e
em mais de 500 deles, investigados em determinado período, só um chegou aos
tribunais.
Essa situação, que dá à PM do Rio de Janeiro o duvidoso
título de polícia que mais mata no mundo – e fez a OAB lançar a campanha
“Desaparecidos da Democracia - Pessoas reais, Vítimas invisíveis” - não
resolveu absolutamente nada do ponto de vista da segurança do cidadão. No mesmo
período, os crimes aumentaram brutalmente, e também a sensação de insegurança.
Se, com o mínimo de controle existente – feito com
corregedoria interna – e com investigações não divulgadas pela imprensa, maus
policiais se envolvem em estupros,
tortura, associação com o tráfico, extorsão, roubo, etc, o que eles não
farão, se, como propõe a nova lei:
- For atenuada a “hierarquia disciplinar”, com a
“flexibilização” das punições do dia a dia, como atrasos.
- For eliminada a regra que suspende o pagamento de salários
a PMS aposentados e reformados que pratiquem crimes.
- Se garantir o direito de opinião aos militares nas redes
sociais – permitindo o questionamento da autoridade pública, a apologia à
quebra de disciplina, etc.
A intenção, segundo os autores é “evitar que a tropa fique
desmotivada para agir”, também nas manifestações públicas, e dar mais liberdade
para a realização de suas funções.
Ora, o mau PM que mata
um juiz, um promotor, uma engenheira a caminho de casa e oculta seu cadáver,
também mata, covardemente, um sargento, um tenente, um capitão, um coronel de
quem estiver sob o comando ou que esteja tentando mantê-lo sob controle. O
desrespeito à lei não é condicional nem seletivo. Quando um policial atravessa a linha que o
separa da obediência – que deve, como agente do estado - a seus superiores, à
hierarquia, à sociedade, não existem limites ao que ele pode fazer quando
mergulha no crime e na marginalidade.
Como, já em princípio é letal, e armada, o que a polícia
necessita é de mais controle da sociedade e não o contrário.
O Rio e os outros estados carecem é de uma Polícia Militar
cada vez mais profissional e bem preparada, formada, com foco na cidadania, nas
melhores universidades, que aja como braço do Judiciário e sob o Império da
Lei.
Uma polícia em que o soldado obedeça a seus superiores, à
Constituição, e ao poder civil, que é conferido a quem de direito pelo voto
sagrado da maioria dos cidadãos.
Uma polícia que trabalhe mais com a inteligência e menos com
o cassetete.
Que use o TASER elétrico para imobilizar o suspeito e não
como instrumento de tortura.
Que aja com mais intuição e malícia – no bom sentido - do que
com um saco plástico e uma gominha no bolso, para asfixiar prisioneiros
desarmados.
Que trabalhe mais com câmeras ocultas, infiltração e
disfarce, do que com drogas e armas apreendidas, com numeração raspada, para
justificar a prisão arbitrária ou o auto de resistência seguido de morte.
Uma polícia inteligente, de bom nível, como é a maioria da
PMERJ, hoje, e não como alguns de seus membros e ex-membros envolvidos com a
milícia bandida que ocupa e extorque tantas comunidades e regiões do Rio de
Janeiro.
Sob regime especial de proteção de testemunhas – depondo, se
possível, com máscaras e aos cuidados da Polícia Federal - seria importante que
os deputados da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro ouvissem, além dos
parentes e amigos das vítimas citadas no início do texto, as policiais que
testemunharam, indiretamente, a tortura e morte de Amarildo de Souza, no
conteiner da UPP da Rocinha no dia 14 de julho - antes de votar esse projeto.
Elas pertencem à Corporação. E estão tão apavoradas quanto
qualquer cidadão que tivesse presenciado um crime de tortura seguida de
homicídio e fosse, em seguida, pressionado e ameaçado para esconder o que viu.
Cabe perguntar a elas – dignas policiais militares do Rio de
Janeiro – se concordariam que os envolvidos continuassem a receber seus
salários, ou em dar mais poder e liberdade de ação a esse tipo de “colegas”
para fazer seu “trabalho”.
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INTERNET: OBRIGAR A HOSPEDAR DADOS NO BRASIL NÃO VAI RESOLVER O PROBLEMA.
A medida é inócua, e podemos cair no ridículo. O governo não pode proibir um cidadão brasileiro de abrir conta no Google ou no Facebook se as empresas se recusarem a hospedar os dados no Brasil. Como publicamos outro dia, o problema é mais complexo, e passa por outro tipo de ação, o que inclui o marketing:
28 de out. de 2013
OS BEAGLES E OS LOBOS
(HD) - Desde que a vida surgiu, há mais de três bilhões de
anos, com as primeiras cadeias de aminoácidos, espécies usam espécies para
sobreviver. No início, extraía-se a energia necessária à vida da água, do calor
e da luz do sol. Depois - à medida que a evolução avançou - micróbios, peixes,
dinossauros, felinos e mamíferos passaram a extrair a energia que necessitavam
diretamente de outros seres vivos, vegetais e animais.
Quer se goste ou não, o homem é um fenômeno recentíssimo
nessa longa cadeia, e só surgiu e chegou até onde está agora, porque - assim
como outros predadores - não se deteve ou ficou constrangido na hora de matar
para se alimentar.
Por mais que afete aos que defendem e se preocupam com a
natureza, só podemos nos dar ao luxo, hoje, de sermos ecologistas, porque
conquistamos e domamos a Terra na disputa com outras espécies, e colocamos os
recursos do planeta a serviço da humanidade.
Da mesma forma que um bosquímano caça um lagarto no deserto
australiano, para sugar suas proteínas, um engenheiro represa um rio para gerar
a energia que vai salvar a vida de um paciente que precisa de um coração
artificial, a milhares de quilômetros dali, em uma cirurgia.
Há poucos dias, “ativistas” invadiram um laboratório e
“libertaram” – para depois abandonar alguns no meio da rua - dezenas de cães da
raça Beagle, que estavam sendo usados em uma pesquisa de cosméticos. E uma aula
de medicina da PUC de Campinas foi invadida e interrompida devido ao uso de
porcos – anestesiados - em um ensaio de traqueostomia.
Sem a pesquisa com o uso de animais não teríamos a transfusão
de sangue, os antibióticos, a diálise, o transplante de órgãos, as cirurgias
cardíacas, a quimioterapia e a maioria das grandes descobertas e avanços na
área médica dos últimos cem anos
O homem é o lobo do homem. Não nos preocupa o que se faz com
os animais – para salvar uma vida - mas o que se faz com outros homens. É
preferível que cientistas pratiquem com ratos e coelhos do que – como fazia
Mengele - com outros seres humanos.
Enquanto houver uma velhinha morrendo na rua, ou uma criança
chorando de dor por falta de remédio, há muito a fazer antes de libertar
cachorros.
Colocar um animal, qualquer que seja ele, no mesmo patamar de um ser humano é o primeiro passo para colocá-lo acima de um ser humano.
Estou com aqueles que matariam – sem infringir dor, se possível, e se não houvesse outra saída - o último cachorro para alimentar uma criança com fome. Qualquer que fosse ela, o lugar em que veio ao mundo, seu credo ou a cor de sua pele.
Colocar um animal, qualquer que seja ele, no mesmo patamar de um ser humano é o primeiro passo para colocá-lo acima de um ser humano.
Estou com aqueles que matariam – sem infringir dor, se possível, e se não houvesse outra saída - o último cachorro para alimentar uma criança com fome. Qualquer que fosse ela, o lugar em que veio ao mundo, seu credo ou a cor de sua pele.
Os nazistas amavam seus cães, e faziam exatamente o
contrário. Deixavam que eles atacassem, estraçalhassem e devorassem crianças, de três, quatro anos, que,
apavoradas, se desgarravam de seus pais, nos campos de extermínio, nas filas a caminho das câmaras de
gás.
O primeiro compromisso de todo ser humano tem que ser com a
própria espécie, a humanidade.
Para praticá-lo não é preciso hora, lugar, nem idade. Ele
anda meio esquecido. E se chama solidariedade. Este texto foi publicado também nos seguinte sites:
É PRECISO DAR AULAS DE GEOPOLÍTICA E PATRIOTISMO PARA O PESSOAL DE SEGURANÇA INTERNA E EXTERNA NO BRASIL
A notícia do Jornal Estado de São Paulo dizendo que um agente
da ABIN foi apanhado passando informações a um agente da CIA, apenas reforça o
que escrevemos outro dia, sobre o assunto. O problema é grave, e é cultural, vejam
os links:
27 de out. de 2013
OS ÚLTIMOS PÁRIAS DA TERRA
(JB) - Há alguns dias, o mundo acompanha, com atenção, o drama de duas meninas. Uma, chama-se Leonarda. A outra, Maria. Leonarda, de quinze anos, foi tirada à força de dentro de um ônibus, em uma excursão escolar, e expulsa da França, junto com sua família.
Maria, de quatro, foi encontrada, há alguns dias, em uma cidade no interior da Grécia, e retirada do casal com que estava por suspeita de rapto.
Leonarda é morena. Maria é loira.
A primeira nasceu na Itália, e foi criada na França. Mas está em Kosovo, país em que nunca viveu, porque seu pai é originário dali, da antiga Iugoslávia. Seu irmão, Daniel, nasceu em, Nápoles, mas mora na Ucrânia. Sua irmã, Erina, mora na França, mas nasceu também na Itália, assim como Maria, que tem 17, Rocky, de 12, Ronaldo, de 8, e Hassan, de 5 anos. Só a caçula, Medina, nasceu na França.
Maria, encontrada com uma família em Farsala, na Grécia, pode ser filha – descobriu-se agora, de um casal de búlgaros que vive em um gueto da cidade de Nikolaevo. O nome deles, curiosamente, é Rusev, quase como o da Presidente Dilma.
O casal Dibrani, pais de Leonarda, têm oito filhos. Os Rusev, pais de Maria, tem dez, e a mãe alega que teria cedido a filha a um casal na Grécia, quando morou no país, porque não tinha como dar-lhe de comer.
Mas como é isso, em que tempo estamos? De que continente falamos? Da Europa do Século XXI, que manda sondas ao espaço, e se orgulha de sua alta renda per capita e do seu Desenvolvimento Humano? Ou da Europa do passado, com suas enormes famílias, seus guetos, sua fome, e os milhões de miseráveis dos séculos XVIII e XIX?
Falamos, infelizmente, de agora. Na Europa de hoje, Leonarda e Maria não são duas meninas normais.Não têm passaporte, nem pátria, nem futuro. São ciganas. E em seu sangue carregam o destino dos últimos párias da terra.
É certo que há outros deserdados, perseguidos por questões políticas ou religiosas, ou por serem minorias em seu próprio território. Mas todos têm sua terra. A lembrança do país onde nasceram, a esperança de um dia ter um documento, de voltar a ser alguém.
Em uma Europa racista, cada vez mais xenófoba, e que não reconhece o direito de jus soli, mas, na maioria dos países, apenas o de jus sanguinis (quando não basta nascer em um determinado país para adquirir a nacionalidade), os ciganos vagam, como fizeram nos últimos mil anos, sem eira nem beira, ao sabor do estado de espírito de quem manda no país em que estejam, e não podem criar raízes, nem quando deixam de agir como nômades.
Até o final da Segunda Guerra Mundial, os ciganos compartilhavam seu destino com os judeus.
Com eles, eram expulsos, de um país para o outro. Com eles, foram espancados e roubados, desde que deixaram a índia, rumo ao Ocidente, há cerca de mil anos.
Em 1925, os roms passaram a sofrer, como os judeus, as restrições das Leis de Nuremberg para a Proteção Proteção do Sangue, que proibia o casamento entre alemães e "não-arianos".
Em 1937, a Lei de Cidadania Nacional relegou os ciganos e os judeus à condição de cidadãos de segunda classe. E Himmler emitiu decreto que chamou de "A luta contra a praga cigana", que solicitava que toda informação sobre ciganos fossem mandadas para o Escritório Central do Reich.
Se os judeus tiveram a Kristallnacht, com a quebra de centenas de negócios e a queima de Sinagogas, os roms tiveram a “semana de limpeza cigana” de 12 de junho e 18 de junho de 1938.
Se os judeus foram sistematicamente perseguidos e mortos, aos milhões, calcula-se que, nos campos de extermínio e nas mãos dos “einzatsgruppen”, principalmente na Europa do leste, morreram um milhão e quinhentos mil roms.
O primeiro teste do gás Zyklon B, usado pelos alemães nas câmaras de gás, foi feito com 250 crianças ciganas, em janeiro de 1940, no campo de concentração de Buchenwald.
Ao contrário dos hebreus, os ciganos, no entanto, nunca tiveram um Deus que lhes desse terra prometida.
Os judeus fundaram Israel.
Os roms continuam, sem pátria e sem destino, a ser discriminados, perseguidos e mortos – por doença e inanição.
O leitor preste atenção. Os meninos e as meninas ciganas são os únicas, na Europa, que vivem em guetos exclusivamente étnicos. Os dez irmãos de Maria Rusev dormem todas em um cômodo de chão batido em Nikolaev.
Nos subúrbios de Bucarest, de Sofia, de Budapest, ou nas fotos e vídeos da internet, é fácil reconhecer as crianças ciganas. São as únicas (como mostra a foto que mostra dois dos irmãos de Maria) que trazem a barriga inchada por causa dos vermes, e sempre, na mão – devido à fome – um pedaço de pão.
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25 de out. de 2013
AS LIÇÕES DE LIBRA
(JB) - A mobilização de várias organizações, e a greve dos
petroleiros, com a apresentação de dezenas de ações na justiça, não conseguiu
impedir que o Leilão de Libra fosse realizado, com a vitória de duas estatais
chinesas, duas multinacionais européias, e participação, em 40%, da Petrobras.
Obviamente, do ponto de vista do interesse nacional, o ideal
seria que o negócio tivesse ficado totalmente com a Petrobras, ou melhor, com
outra empresa, 100% estatal e brasileira (a PPSA não tem estrutura de
produção própria) que fosse encarregada
de operar exclusivamente essas reservas.
Não podemos esquecer que a Petrobras – por obra e arte
sabe-se muito bem de quem - não é mais uma empresa totalmente nacional. Os
manifestantes que enfrentaram a polícia, nas ruas do Rio de Janeiro, ontem,
estavam – infelizmente - e muitos nem sabem disso, defendendo não a Petrobras
do “petróleo é nosso”, mas uma empresa que pertence, em mais de 40%, a capitais
privados nacionais e estrangeiros, que irão lucrar, e muito, com o petróleo de
Libra nos próximos anos.
De qualquer forma, a lei de partilha, da forma como foi
aprovada, praticamente impedia que a Petrobras ficasse com 100% do negócio. Além
disso, institucionalmente, a empresa tem sido sistematicamente sabotada, nos
últimos anos, pelo lobby internacional do petróleo. E cometeram-se, no Brasil,
diversos equívocos que a enfraqueceram empresarialmente, o mais grave deles, o incentivo
dado à venda de automóveis, sem que se tivesse assegurado, primeiro, fontes
alternativas – e, sobretudo nacionais – de combustível.
A questão geopolítica é, também, bastante delicada. O Brasil
lançou-se, com determinação e talento, à pesquisa de petróleo na zona de
projeção de nosso território no Atlântico Sul, antes de estar militarmente
preparado para defendê-la.
O embate entre certos segmentos da reserva das Forças Armadas
- principalmente aqueles que fazem lobby ou estão ligados a empresas de países
ocidentais – e militares nacionalistas que propugnam que se busque tecnologia
onde ela esteja disponível, como os BRICS, tem atrasado o efetivo rearme do
país, que, embora necessário, deve ser conduzido com cautela, para não provocar
nem atrair demasiadamente a atenção de
nossos adversários.
O mundo está mudando, e o Brasil com ele. Seria ideal se
pudéssemos simplesmente virar as costas para os países ocidentais - que sempre
exploraram nossas riquezas e tudo fizeram para tolher nosso desenvolvimento - e nos integrarmos, de uma
vez por todas, ao projeto BRICS, e a países como a China e a Índia, que estarão
entre os maiores mercados do mundo nas
próximas décadas.
Esse movimento de aproximação com os maiores países
emergentes – lógico e inevitável, do
ponto de vista histórico – terá que ser feito, no entanto, de forma paulatina e
ponderada. Parte da sociedade ainda acredita – por ingenuidade, interesse
próprio ou falta de brio, mesmo – que para sermos prósperos e felizes basta
integrarmo-nos e sujeitarmo-nos plenamente à Europa e aos Estados Unidos. E que
temos que abandonar toda veleidade de assumir um papel de importância no
contexto geopolítico global, mesmo sendo a sexta maior economia e o quinto
maior país do mundo em território e população.
É essa contradição e esse embate, que vivemos hoje, em vários
aspectos da vida nacional, incluindo a defesa e a exploração de petróleo. É
preciso explorar o petróleo do pré-sal e nos armar, para, se preciso for,
defendê-lo. Mas, nos dois casos, não
podemos esperar para fazê-lo nas condições ideais.
O resultado do Leilão de Libra reflete, estrategicamente, essa
contradição geopolítica. Mesmo que esse quadro não tenha sido ponderado para
efeito da negociação, ele sugere que se buscou uma solução feita, na medida,
para agradar a gregos e troianos. Sem deixar de mandar um recado aos norte-americanos.
Independente da questão de capital e de tecnologia – a da
Petrobras é superior à dos outros
participantes do consórcio – poderíamos dizer que:
a) Os chineses entraram porque, como
membros do BRICS, e parceiros antigos em outros projetos estratégicos, como o
CBERS, não poderiam ficar de fora.
b)Os franceses foram contemplados porque são também parceiros
estratégicos, no caso, na área bélica, por meio do PROSUB, na construção de nossos
submarinos convencionais e atômico.
c) Os anglo-holandeses da Shell – mais
os ingleses que os holandeses – entraram não só para reforçar a postura de que
o Brasil não estava fechando as portas ao “ocidente”, mas também para tapar a
boca de quem, no país e no exterior, dizia que o leilão estaria fadado ao
fracasso devido à ausência de capital privado.
O lobby internacional do petróleo, no entanto, não descansa.
Antes e depois do resultado do leilão, já podia ser lido em dezenas de jornais,
do Brasil e do exterior, que o modelo de partilha, do jeito que está, é insustentável
e terá que ser mudado.
Apesar da declaração do Ministro de Minas e Energia de que o
governo não pretende alterar nada – e da defesa dos resultados do leilão feita
pela Presidente da República na televisão – já se fala na pele do urso e as favas
se dão por contadas.
Os argumentos são de que não houve concorrência –
interessante, será que o “mercado” pretendia que o governo ficasse com mais
petróleo do que ficou? – que a Petrobras não tem escala para assumir os poços
que serão licitados no futuro – uma “consultoria” estrangeira disse que a
Petrobras já está com “as mãos cheias” com Libra, e as exigências de conteúdo
local.
Isso tudo quer dizer o seguinte: a guerra pelo petróleo
brasileiro não acaba com o leilão de Libra. Ela está apenas começando, e vai
ficar cada vez pior. Já que não podemos ter o ideal, fiquemos com o possível.
Os desafios para a Petrobras, daqui pra frente, serão tremendos, tanto do ponto
de vista institucional, quanto do operacional, na formação e contratação de mão
de obra, no gerenciamento de projetos, no endividamento, no conteúdo nacional.
É hora de cerrar fileiras em torno daquela que é – com todos
os seus problemas - a nossa maior empresa de petróleo.
A sorte está lançada. A partir de agora, os adversários do
Brasil, e da Petrobras, vão fazer de tudo para que ela se dê mal no pré-sal.
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24 de out. de 2013
A ARROGANTE - E RIDÍCULA - VISITA DOS VICE-REIS DA OCDE
(HD) - O Brasil recebeu, há dois dias, a visita do cavalheiro da foto, o Senhor Angel
Gurría, Secretário-Geral da OCDE, a Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico, que veio apresentar um “estudo” sobre o nosso país,
realizado a cada dois anos.
Há muito – desde, que pagou o que
devia ao FMI, pelo menos – o Brasil já deveria ter se recusado a receber esse tipo de
visita. Principalmente, quando se trata, como é o caso, de uma organização da
qual sequer toma parte.
O site da OCDE na internet diz que a missão da organização -
que abriga os países ditos “desenvolvidos” e alguns de seus alunos mais bem
comportados, como a Estônia, o México e o Chile – é “promover políticas de
melhora do bem-estar econômico e social em todo o mundo”.
A frase, em si mesma, soa contraditória. Primeiro, por que
não se sabe o que significa a expressão “bem-estar econômico". Uma economia
pode estar funcionando bem ou mal. Mas ela não pode sentir-se bem ou se
sentir-se mal. Um banqueiro pode sentir-se bem ou mal, mas o seu bem-estar nem
sempre – ou quase nunca, costumeiramente - estará ligado à segunda parte da
frase, ou ao “bem-estar” do cidadão comum.
A OCDE deixa bem claro de que lado está, quando se analisa o “estudo”
que preparou sobre o Brasil. O Sr. Angel Gurria e sua delegação vieram recomendar ao governo que diminua o papel dos
bancos públicos na economia, para estrangular a oferta de crédito e o
“bem-estar” econômico do país; que o Banco Central aumente, ainda mais os juros da SELIC; que o governo dê incentivos aos bancos privados (apenas um deles já lucrou 9 bilhões de reais neste
ano) para que possam investir mais em empréstimos de longo prazo; que se corte
o crédito obrigatório para setores como agricultura e a habitação; pediu maior responsabilidade
com a política fiscal, e rebaixou a projeção
de crescimento da OCDE para o Brasil, de 2.9%, para 2.5%, no ano que
vem.
“Façam o que eu digo, mas não o que eu faço” – este deveria ser
o verdadeiro slogan da OCDE. Ao vir ao Brasil
– incensado pelos “analistas” do mercado, trazendo, debaixo do braço, sua caixinha de recomendações, o Senhor Angel Gurria age como o roto falando daquele
a quem, por inveja, ele pretende atribuir fama de esfarrapado.
Durante a coletiva de imprensa, e na apresentação do “estudo”
da OCDE, que critica como fraco o crescimento do Brasil de 2.5% em 2013, teria
sido interessante se algum dos jornalistas presentes tivesse perguntado ao Sr.
Angel Gurria qual é o crescimento previsto para seu país, o México – também orgulhoso
membro da OCDE – neste ano, que será de menos da metade do nosso, ou apenas
1.2%.
Também teria sido igualmente importante, se alguém perguntasse porque a imensa maioria dos países da OCDE apresentam indicadores macroeconômicos piores do que os nossos.
E, finalmente, se é mera coincidência que os PIIGS – como são conhecidos Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, os países mais endividados e mal administrados do mundo, do ponto de vista econômico, façam, todos, parte dessa organização, que conta com apenas 34 nações.
E, finalmente, se é mera coincidência que os PIIGS – como são conhecidos Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, os países mais endividados e mal administrados do mundo, do ponto de vista econômico, façam, todos, parte dessa organização, que conta com apenas 34 nações.
Como vemos, seria melhor que a OCDE se dedicasse a cuidar de suas próprias dificuldades, em vez de querer meter-se a dar conselhos as outros.
Em um mundo que está em crise há 5 anos, o Brasil tem, naturalmente, seus problemas. Mas estamos dispensando lições de uma Europa quebrada e decadente, de um EUA, também membro da OCDE, que quase foi à bancarrota há uma semana - do qual somos o terceiro maior credor individual externo - e de seus ridículos prepostos no Terceiro Mundo.
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Em um mundo que está em crise há 5 anos, o Brasil tem, naturalmente, seus problemas. Mas estamos dispensando lições de uma Europa quebrada e decadente, de um EUA, também membro da OCDE, que quase foi à bancarrota há uma semana - do qual somos o terceiro maior credor individual externo - e de seus ridículos prepostos no Terceiro Mundo.
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23 de out. de 2013
A BIOMETRIA E O TOTALITARISMO
(HD) - É necessário refletir sobre Estado, Sistema e indivíduo, neste momento em que o TSE está implementando
- por simples Resolução – o Recadastramento Biométrico obrigatório da população
brasileira.
Bakunin nos recorda que, na maioria das vezes, a cada aumento
da autoridade do Estado, corresponde igual ou maior diminuição da liberdade do cidadão.
John Locke, na mesma linha, reflete que a finalidade da justiça – e da Lei –
não pode ser nunca a de abolir ou restringir a Liberdade, mas sim, de
fortalecê-la e aumentá-la.
E lembra que cada homem é proprietário de sua própria pessoa,
e, com relação a ela, a ninguém poderá ser dado o direito de estar acima dele.
Há que se tomar cuidado com a biometria.
Os nazistas a usavam para medir o crânio de ciganos e judeus,
Mengele arrancava os olhos de crianças gêmeas
para classificá-los pela cor da íris. Membros masculinos de prisioneiros
de campos de extermínio eram amputados e guardados em vidros, cheios de formol,
no “museu” de biologia racial de Munique.
O objetivo era catalogar e separar – como se fosse possível
em compartimentos estanques - toda a herança genética humana estabelecida pelo
acaso, durante milhares de anos.
No mundo inteiro, as mentes mais lúcidas estão se perguntando
qual será o próximo passo, no controle do indivíduo pelo Sistema. Os governos
espionam nossas comunicações. Softwares de reconhecimento facial são usados
para reconhecer-nos na multidão. Sinais de celular são usados por drones para localizar, via
satélite, seus alvos, matando, no processo, dezenas de civis inocentes.
Quando o Estado nos obrigará a deixar que nos registrem o
fundo da pupila, ou recolherá o DNA de nossas bocas?
O que será feito desse banco de dados, quando
concluído? Há poucos meses, não fosse pronta intervenção da Ministra Cármen
Lúcia, dados pessoais de todos os eleitores brasileiros teriam sido
entregues, graciosamente, pelo TSE, ao
SERASA, instituição privada de controle de crédito.
O que irá ocorrer se a polícia pedir uma cópia desses
arquivos? O cidadão saberá que dados recolhidos para fazer seu novo título
poderão ser usados um dia contra ele? E se
formos invadidos por outro país, ou, por causa de uma tentativa de golpe,
voltarmos a mergulhar no autoritarismo?
Onde se esconderão nossos heróis, no futuro, se os
repressores puderem identificar qualquer um, em segundos, com um simples toque
do dedo de um suspeito, na passagem de uma barreira ou no meio de uma
manifestação?
Quantos inocentes não teriam sido capturados, antes de
conseguir escapar da Europa nazista, caso seus algozes tivessem acesso à
internet, a um scanner de dedo e a um banco de dados como esse?
A essência da democracia está na possibilidade de se resistir
ao Sistema quando o Sistema erra. Cada vez que tolhemos e aumentamos o controle
sobre o indivíduo, fazemos o mesmo com nossos filhos e netos, e com o destino
da liberdade, amanhã.
21 de out. de 2013
O PEIXE E O GATO - O ACORDO COM A UE E O FUTURO DO MUNDO.
(JB) - Pressionada pelos que procuram rotular seu governo como
intervencionista, e por reportagens como a que saiu anteontem na The Economist – acusando o Brasil de
protecionismo, a Presidente Dilma desvia os olhos do peixe e os coloca no gato.
Para responder aos adversários e à pressão do “establishment”
financeiro internacional - exercida via FMI, The Economist, The Wall Street
Journal, et caterva, como o El Pais - o governo pretende enviar a Bruxelas, na
próxima quinzena, os Ministros das
Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, e do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, Fernando Pimentel, para estabelecer cronograma definitivo para a negociação do
acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia.
Na semana passada, o Vice-Presidente da Comissão Européia, Antonio
Tajani, esteve no Brasil para discutir o assunto, e é compreensível que o Palácio
do Planalto queira mostrar resultados nessa questão, antes das eleições do ano
que vem.
Um acordo de livre comércio com a União Européia esvaziaria o
discurso de que o Brasil é protecionista e faria o mesmo com o Mercosul,
vilipendiado como o menino feio e mal educado, frente a alunos bem mais
“bonitinhos” e bem comportados, como o México e a Aliança do Pacífico, por
exemplo.
O que não pode ocorrer, no entanto – e é preciso que se
atente a isso - é que uma decisão dessa natureza seja tomada a toque de caixa, porque
se está prestando mais atenção ao gato – no caso, os adversários - do que ao
peixe – nosso mercado e interesses nacionais.
A questão, como sempre ocorre, entre grandes nações e grupos
de países, é mais de natureza geopolítica, do que meramente econômica.
Em primeiro lugar, para decidir o melhor caminho, é preciso
não aceitar, a priori, a alegação de que o Brasil é um país protecionista.
Protecionistas são os Estados Unidos, a Europa, o Canadá.
Tão protecionistas que já os derrotamos várias vezes em contendas
internacionais – inclusive na Organização Mundial do Comércio – como nos casos
do algodão, do suco de laranja, do frango congelado, ou dos subsídios à fabricação
de aviões, por exemplo.
O Brasil tem direito a ter política industrial, o que é
diferente.
Temos tanto direito de exigir conteúdo nacional nas compras
da Petrobras, por exemplo, quanto tem os EUA de exigir da Embraer a construção
de uma fábrica de aviões nos Estados Unidos, com participação minoritária da
empresa brasileira em associação com um sócio local – como condição, sine qua
non, para vender aviões de guerra Super-Tucanos para a Força Aérea dos EUA.
Condição, aliás, à qual está sujeita qualquer empresa que
queira vender e fornecer – mesmo que apenas parafusos – para o governo norte-americano.
O segundo argumento para se assinar, rapidamente, um tratado
com a UE, seria a iminência da assinatura de um Acordo de Livre Comércio entre
a Europa e os EUA, que criaria o maior bloco comercial do mundo.
A conclusão das negociações entre o Mercosul e os europeus –
dizem os defensores da tese – permitiria que o Brasil entrasse, no futuro, no
mercado EU-EUA, evitando que ficássemos isolados.
A pressa, nesse caso, também não se justifica, O acordo de
livre comércio entre a Europa e os Estados Unidos recém começou a ser negociado
em julho, há uma série de atritos – a França, por exemplo, quer deixar a
indústria cultural de fora – e a revelação da espionagem da NSA, também contra
alvos europeus, esfriou consideravelmente o entusiasmo inicial com a proposta.
Por causa do escândalo revelado por Snowden, a França ameaçou
suspender as negociações, depois aceitou a sugestão alemã de continuar com os
encontros e exigir esclarecimentos dos norte-americanos. A Comissária de
Assuntos Europeus, Cecilia Malmstroem, em carta à Secretária norte-americana de
segurança interna, afirmou:
"Vivemos
um momento delicado em nossas relações com os Estados Unidos. A confiança mútua
foi seriamente erodida e espero que os EUA façam tudo o que estiver ao seu
alcance para restaurá-la".
Finalmente,
duas considerações: o Mercosul, com todos os seus defeitos, não pode ser
comparado com a Aliança do Pacífico. Ela é uma ilusão, na qual o maior sócio, o
México, tem 90% de seu comércio internacional com outro grupo, o NAFTA ( 80%
com os Estados Unidos).
Nem o
Mercosul vai tão mal, nem a Aliança do Pacífico é a oitava maravilha da qual
estão falando. O Brasil, por exemplo, vai crescer este ano 2,5% enquanto o
México crescerá menos da metade, 1,2%. Com nosso país recebendo cinco vezes
mais Investimentos Estrangeiros Diretos – 65 bilhões de dólares contra 12
bilhões de dólares – do que o México no ano passado.
Finalmente,
antes de fazer um casamento com a Europa, de papel passado e tudo, cabe
analisar o futuro do mundo.
A UE –
principalmente por causa das crises recorrentes e do acelerado processo de
envelhecimento de sua população, terá, no futuro, cada vez menos consumidores.
A diminuição
do seu mercado interno e a concorrência com os Estados Unidos não nos daria qualquer
chance na exportação de manufaturados.
Na agricultura,
continuaríamos reféns de seus subsídios e barreiras. Abriríamos, em troca, nossas
fronteiras, para que eles colocassem aqui
bens industriais e manufaturas que não teriam como vender dentro da zona
do euro.
A China e
a Índia, por outro lado – para ficar só nos BRICS - estão agregando dezenas de
milhões de consumidores à sua economia todos os anos. Pequim abandona
paulatinamente sua dependência dos mercados externos, para, do alto de seus
quase 4 trilhões de dólares em reservas – dedicar-se, cada vez mais, ao
desenvolvimento de seu mercado interno.
Qual será,
então, o melhor caminho para o Mercosul ?
Atrelar-se
a um mercado envelhecido de 880 milhões de habitantes que consomem cada vez
menos e que crescerá a uma média de menos de 1% este ano – ou a um mercado de
3, 4 bilhões de habitantes, que crescerá a uma média de mais de 6% em 2013, que
tem fome de todo o tipo de produto e agrega dezenas de milhões de consumidores
a cada ano?
Um
caminho pode até não excluir obrigatoriamente o outro, mas é melhor pensar
primeiro no peixe, e menos no que o gato quer que façamos, na hora de escolher qual
será o nosso lugar e o nosso destino nos próximos anos.
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19 de out. de 2013
O INFERNO, NA PRIMAVERA.
(HD) - Quem planta vento, colhe tempestade. A máxima popular - que alguns atribuem a antigo provérbio bíblico - se ajusta, como uma luva, ao continente europeu, sitiado, no Mediterrâneo, por milhares de refugiados da série de conflitos que se convencionou chamar de “Primavera Árabe”.
A intenção da UE e dos EUA, ao incentivar o “vamos para a
rua” nos países árabes, era destruir a coesão interna – se possível promovendo
sua divisão geográfica - de países que, historicamente, se opunham à dominação
ocidental naquela região do mundo.
No plano político, esse objetivo já foi quase alcançado. E na
economia, a situação beira a catástrofe. Nesta semana, o banco inglês HSBC,
publicou relatório afirmando que a Primavera Árabe vai custar a países como o
Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Jordânia, Líbano e Bahrein, entre 2011 e 2014,
800 bilhões de dólares, mais uma redução potencial em seu PIB da ordem de 35%.
No plano cultural e no religioso, abriram-se feridas que
talvez não cicatrizem nunca. Na última semana de setembro, realizou-se, em
Bkerke, no Líbano, a reunião do Conselho de Patriarcas Católicos do Oriente.
A reunião contou com a presença de Gregoire III Laham,
representante dos católicos gregos, de Luis Rafael Sako, patriarca caldeu, de
Ignacio Yusef Yunan, representante dos siríacos-católicos, de Narciso Pedros
XIX e de um grande número de bispos.
No final do encontro, em seu pronunciamento, o Patriarca
Maronita Monsenhor Bechara Rai, não mediu as palavras: “O Oriente Médio -
afirmou Rai, que vai se encontrar com o Papa Francisco em novembro – precisa,
nesse momento, dos ensinamentos de Cristo, do evangelho da paz, da verdade, da
fraternidade e da Justiça.”
“Construímos, nos últimos 2.000 anos, com nossos irmãos
muçulmanos, uma única civilização e uma identidade comum, que a política
internacional tem feito de tudo para destruir e sabotar. A Primavera Árabe transformou-se, em pouco mais de dois anos,
em um inferno de matança e destruição.”
Um inferno que estende suas conseqüências para todos os
aspectos da vida humana e obriga à quebra de padrões de identidade psicológica
e herança antropológica da população mais atingida.
Ainda ontem, na Síria – em uma decisão que lembra o massacre,
pela fome, dos habitantes do Ghetto de Varsóvia - um grupo de ulemás e líderes
religiosos, foi obrigado a emitir um edital islâmico autorizando os habitantes
muçulmanos dos subúrbios do sul de Damasco a abater e comer animais impuros.
Em certas versões do Corão é proibido comer animais que se
alimentem de impurezas, como os burros, ou outros, associados ao demônio, que –
como os cães e os gatos – possuam caninos.
"Autorizamos isto – afirma o comunicado publicado na internet
– como um apelo para chamar a atenção do mundo para a terrível situação que
estamos vivendo, e tentar evitar que nossos fiéis, por obediência às leis de
Alá, venham a morrer de fome."
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16 de out. de 2013
OS FANTASMAS DE LAMPEDUSA E A CONSCIÊNCIA EUROPÉIA
(JB) - Berço
de antigas civilizações, o Mar Mediterrâneo abriu suas águas, por dezenas de
séculos, para receber, em ventre frio e escuro, os corpos de milhares de seres
humanos.
Mar de vida,
morte e sonho, Ulisses, na voz de Homero, singrou suas águas. E tampando os
ouvidos, para não escutar o canto das sereias, aportou em imaginárias ilhas,
fugindo de Cíclope e Calipso, para enfrentar, a remo e vela, os ventos de
Poseidon em fúria.
Por Troia,
Cartago, nas Guerras Púnicas ou do Peloponeso, mil frotas cavalgaram suas
ondas, pejadas de armas e guerreiros. E, no seu leito descansam, se não os
tiver roído o tempo, comerciantes fenícios e venezianos, guerreiros atenienses
e espartanos, os pálios e as espadas de legionários romanos, escudos e
capacetes cartagineses, navegantes persas, cavaleiros cruzados, califas e
sultões.
Os mortos do
Mediterrâneo descansam sobre seu destino.
Suas mortes
podem não ter sido justas, mas, obedeciam ao fado das guerras e do comércio, à
trajetória do dardo ou da flecha que subitamente atinge o combatente, ao
torpedo disparado pelo submarino, à asa, perfurada por tiros de artilharia, de
um bombardeio que mergulha no mar a caminho da África do Norte, ao sabre que os
olhos vêem na mão do inimigo e à dor do imediato corte.
De certa
forma, elas obedeciam a uma lógica.
Mas não há
lógica ou utilidade nas mortes que estão ocorrendo nestes dias, dos meninos e
meninas que se afogam, em frente à costa italiana, na tentativa de chegar a
solo europeu, depois de atravessar o Mediterrâneo.
Há anos,
centenas de pessoas têm morrido dessa forma. No dia 3 de outubro, um naufrágio
na ilha italiana de Lampedusa deixou ao menos 339 mortos – quando cerca de 500
imigrantes vindos da Eritreia e da Somália tentavam chegar à Itália. Oito dias
depois, uma embarcação com 250 imigrantes africanos virou na mesma região e 50
pessoas morreram.
Que crime
cometeram esses meninos e meninas? Nos seus barcos eles não levavam o ouro da
Fenicia, nem lanças e escudos, nem mesmo comida, nem seda ou veludo, a não ser
a sua roupa, seus pais e suas mães, sua pobre e corajosa esperança de quem foge
da guerra e da miséria.
Mas, mesmo
assim, a Europa os teme. A Europa teme a cor de sua pele, o idioma em que exprimem
suas idéias e suas emoções, os deuses para quem oram, seus hábitos e sua
cultura, sua indigência, sua humanidade, sua fome.
Se, antes,
lutavam entre si, os europeus hoje, estão unidos e coesos, no combate a um
inimigo comum: o imigrante.
O imigrante
de qualquer lugar do mundo, mas, principalmente, o imigrante da África Negra e
do Oriente Médio.
Barcos de
países mediterrâneos, como os da Grécia, Espanha e Itália, patrulham as costas
do sul do continente. Quando apanhados em alto mar, em embarcações frágeis e
improvisadas, por sua conta e risco, mais náufragos que navegantes, os
imigrantes são devolvidos aos países de origem.
Antes, a
imigração era, principalmente, econômica.
Agora, a ela se somam as guerras e os
deslocamentos forçados. São milhões de pessoas, tentando fugir de um continente
devastado por conflitos hipocritamente iniciados por iniciativa e incentivo da
própria Europa e dos Estados Unidos.
O Brasil
está fazendo sua parte, abrindo nosso território para a chegada de centenas de
refugiados sírios, como já o fizemos com milhares de haitianos e
clandestinos escapados da África Negra
que chegam a nossos portos de navio.
A Itália
lançou uma operação militar “humanitária”, para acelerar o recolhimento de
imigrantes que estiverem navegando em situação de risco junto às suas costas,
mas irá manter sua rigorosíssima lei de veto à imigração, feita para proibir e
limitar a chegada de estrangeiros.
Como a
mulher, amarga e estéril, que odeia
crianças, a Europa envelhece fechada em seus males e crises, consumida
pela decadência e a maldição de ter cada vez menos filhos.
Mas prefere
que o futuro morra, junto com uma criança árabe, no meio do mar, a aceitar a
seiva que poderia renovar seu destino.
Sepultados
pela água e o sal do Mediterrâneo, recolhidos, assepticamente, nas praias
italianas, ou enterrados, junto com seus pais, em cemitérios improvisados da
Sicília – ao imigrante, vivo ou morto, só se toca com luvas de borracha - a
meio caminho entre a miséria e o terror e um impossível futuro a eles arrebatado
pela morte - os fantasmas dos meninos e meninas de Lampedusa poderiam
assombrar, com sua lembrança, a consciência européia.
Se a Europa
tivesse consciência.
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