(HD) - Era uma vez um reino, que já tinha sido rico e poderoso, em
um passado distante. E, que, depois, pobre e miserável, foi governado por um
monstro feroz e sanguinário, por muito tempo.
Esse monstro havia derrotado o povo daquele reino em uma guerra
terrível. Anos depois, quando estava ficando velho, mandou que viesse de fora
do reino um príncipe, e o educou com esmero, para substituí-lo. Com o passar do
tempo, esse príncipe transformou-se em
um rei de opereta, que vivia à custa das arcas do reino, e sentia nostalgia do
poder de seus antepassados e das idéias que o monstro lhe havia ensinado.
Mas mais tempo passou, e o povo se esqueceu das lições que
havia aprendido na luta contra o monstro.
Com inveja dos povos vizinhos, muito mais ricos, o povo se
submeteu a eles, e, graças à ajuda alheia e a pesadas dívidas, todos compraram
muitas coisas e acharam que estavam igualmente ricos, e que, a partir daí,
seriam tratados como iguais pelos seus antigos senhores.
Passaram então, a tratar os povos mais pobres, como antes
eram tratados pelos mais ricos.
Desprezavam e expulsavam os estrangeiros, os mendigos e os
peregrinos. Com o dinheiro alheio, construíram suntuosas pontes e castelos, e o
Rei, de nariz em pé, viajava por selvas e desertos distantes, para caçar
elefantes.
Sua filha, a Princesa, conheceu um plebeu, que, como um sapo
encantado, praticamente transformou em príncipe, o que permitiu que ele fizesse
bons e duvidosos negócios nos mais altos círculos do reino.
Um dia, no entanto, a crise varreu, como um tufão, as paragens em que ficava o Reino. Um em cada
quatro de seus cidadãos ficou sem trabalho. Descobriu-se que o Tesouro devia quase
o dobro do que arrecadava em impostos para os reinos vizinhos; e muito mais
para os seus bancos; que cada aldeão ou cidadão devia ainda mais, em média, do
que poderia ganhar em um ano; e que alguns de seus homens mais ricos também eram
responsáveis por algumas das mais altas dívidas do mundo.
Embora muita gente acredite que certas estórias só ocorram em
suas próprias e encantadas terras, o reino de que falamos fica do outro lado do
oceano.
O monstro da história chamava-se Francisco Franco. O nome do Rei
é Juan Carlos. A Princesa é a Infanta Cristina, indiciada agora por delito
fiscal e lavagem de dinheiro, por um juiz espanhol. O plebeu, seu marido, chama-se Iñaki Undangarin
e foi acusado de corrupção e desvio de dinheiro público, no chamado caso Nóos.
Ex-jogador de handebol, transformado pelo casamento em Duque
de Palma de Mallorca, Undangarin já serviu a diversas empresas ibéricas, que
operam em vários países, incluindo certo “reino” tropical.
Um lugar no qual muita gente fica embasbacada, e se deixa
enganar pelas estórias – essas sim da Carochinha - contadas por malandros e oportunistas
de ternos finos e fala macia, principalmente quando eles vêm de fora.
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2 comentários:
Muito bom, obrigado
Muito bom .O texto fluiu como um livro de fadas, que infelizmente caiu na lama.
Obrigado
Abço
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