(JB) - Desde sua fundação, com o tratado de Assunção, em
1991, o Mercosul- Mercado Comum do
Sul, tem sido vilipendiado e atacado pelos inimigos da integração
sul-americana.
Primeiro, por ter sido um dos fatores que mais contribuíram
para a derrocada da ALCA – Área de Livre Comércio das Américas - que pretendia
que os países latino-americanos abrissem totalmente seu mercado aos Estados
Unidos.
Se isso tivesse ocorrido, o Brasil estaria, hoje, na situação
em que está o México, que cresceu no ano passado menos da metade do que o
fizemos; que se considera um “player” global quando 90% de suas exportações vão
para o Canadá e os EUA; que apenas maquia peças de terceiros com destino ao
outro lado da fronteira e que, apesar de “exportar” mais que o Brasil, tem
históricos déficits em seu comércio exterior, porque o salário de seus
trabalhadores custa tão pouco que não basta para agregar valor às mercadorias que
envia para outros países.
A baixa proporção do comércio exterior no PIB brasileiro, e no
PIB do Mercosul, como um todo, deriva
da aposta que por aqui foi feita, de se investir, prioritariamente, em nossa
própria gente.
Os carros que fabricamos no Brasil não são feitos para serem
vendidos aos norte-americanos, embora tenhamos exportado mais de 500.000
automóveis no ano passado. Um trabalhador brasileiro de linha de montagem pode comprar
carros fabricados no Brasil. Os trabalhadores mexicanos de “maquiladoras” não
compram os carros que fabricam. Compram carros usados dos EUA e Canadá, até
porque no México – ao contrário do Brasil - não há lei alguma que proíba isso.
É importante pensar na diferença entre a situação mexicana e
a brasileira, hoje, porque uma das principais linhas de ataque contra o Mercosul se baseia na sua comparação com
a Aliança do Pacífico, uma pseudo-organização criada com o
beneplácito e o interesse norte-americano e espanhol, para incentivar a divisão
dos países sul-americanos, e sabotar a expansão e consolidação do Mercosul em
nossa região.
No Brasil, costuma-se comparar os índices de crescimento da
economia com os de países como o Peru e Chile, esquecendo-se que sua economia é
infinitamente menor e menos complexa, e que fatores como a variação do preço do
cobre bastam para alterar o PIB para cima ou para baixo, como é o caso do
Chile, por exemplo.
Além disso, os defensores da Aliança do Pacífico como grupo capaz de “enterrar” econômica e
politicamente o Mercosul, se esquecem
que a maioria dos membros da AP, Colômbia, Peru e Chile, já são estados
associados ao Mercado Comum do Sul, pertencendo, portanto,
mesmo que não ainda na qualidade de membros plenos, à organização.
O Mercosul, assim como a UNASUL, com o Conselho de Defesa da América do Sul, se
insere no projeto maior de aumentar, pela integração, o poder econômico,
político e militar da América do Sul, com relação a outros países, blocos, e
regiões do mundo.
É nesse contexto, de integrarmos nossos mercados internos,
capacidade produtiva, e inserção geopolítica no Século XXI, que se coloca a
decisão, anunciada ontem pelo governo uruguaio, de enviar, para aprovação pelo
parlamento, projeto assegurando residência automática a cidadãos nascidos em
outros países do Mercosul.
Talvez, hoje, o país mais civilizado da América Latina, o
Uruguai, para além da qualidade de vida da sua população - que se reflete em
seus índices de saúde, expectativa de vida e educação - tem tomado corajosas
decisões nos últimos tempos, dando
exemplo e abrindo caminho para a quebra de paradigmas que mantêm muitos de
nossos países atados a um conservadorismo obscurantista e limitador.
Embora o Governo Mujica esteja sendo ousado – o projeto
oferece residência automática não apenas aos membros plenos, mas também aos
estados associados do Mercosul – o que talvez venha a dificultar a aprovação da
proposta, a ideia é interessante e revolucionária.
Com 200 dos 275 milhões de habitantes e 2.6 dos 3.6 trilhões
de dólares do PIB do bloco, o Brasil não deve temer a abertura das fronteiras internas
do Mercosul. Na semana passada, Bill
Gates previu que por volta de 2035 todos os países do mundo serão relativamente
ricos. Isso também irá ocorrer na América do Sul, principalmente se os recursos
de seus países mais pobres - como os minérios do Peru, o gás da Bolívia, a
eletricidade do Paraguai, o petróleo, do Equador – forem utilizados para a
redução da desigualdade e a melhora da qualidade de vida de seus habitantes.
Poderíamos, de qualquer forma, começar oferecendo
reciprocidade ao Uruguai, dando residência automática a seus cidadãos, caso as
mesmas condições forem aprovadas para cidadãos brasileiros se instalarem naquele
país.
A proposta uruguaia é histórica. E pode ser o primeiro passo
para a união efetiva da América do Sul.
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