(Hoje em Dia) - Fechadas as contas de janeiro, o Brasil teve, no primeiro mês do ano, um
déficit de 4 bilhões de dólares – o maior da história - na balança comercial.
Boa parte dele veio do aumento das importações de máquinas de uso
doméstico (eletrônicos e eletrodomésticos), móveis, vestuário, objetos de
decoração, produtos alimentícios, automóveis de passageiros, bebidas e tabaco.
O brasileiro continua consumindo cada vez mais, mas o dinheiro gasto
pela população, no lugar de ficar por aqui, está viajando para outros países,
no bolso de importadores nacionais e estrangeiros, e na mala dos turistas
brasileiros que gastaram, no ano passado, com viagens e quinquilharias, mais de
25 bilhões de dólares no exterior.
Esses produtos poderiam estar sendo fabricados aqui - gerando mais
empregos, renda e poupança - se houvesse um pouco de consciência do consumidor,
na hora de escolher a origem do que adquire. Ou uma política industrial digna
desse nome, voltada para a criação de marcas nacionais fortes, e não apenas
para estimular o consumo de produtos importados ou produzidos aqui por empresas
de fora, que acabam prejudicando também as contas nacionais, remetendo dezenas
de bilhões de dólares em remessas de lucro para o exterior.
Como não dá para reinventar a roda, e desenvolver, do zero, grandes
empresas brasileiras de bens de consumo - já desistimos de ver nascer e crescer
uma marca nacional de automóveis e as que tínhamos de eletrônicos e linha
branca se desnacionalizaram nos anos 1990 - talvez fosse conveniente que o
BNDES parasse de emprestar dinheiro a multinacionais - até mesmo do setor de
serviços – e aplicássemos recursos em um programa voltado para diminuir essa
sangria.
Como quase a totalidade de peças e bens de consumo que importamos vem da
China - que, embora não nos compre manufaturados, foi a única que nos brindou,
entre as nações industrializadas, com um superávit de quase 10 bilhões de
dólares no ano passado – é à fábrica do mundo, por excelência, que deveríamos
nos associar se quisermos queimar etapas na substituição de importações.
A queda da produção industrial verificada em dezembro e o avanço da
desindustrialização exigem a criação de fábricas brasileiras que possam atender
à demanda surgida nos últimos anos.
O país precisa, na área de consumo, de solução semelhante à que deu
origem à figura da Empresa Estratégica de Defesa em 2012. Poderiam ter acesso a
financiamento público e impostos diferenciados empresas com, no mínimo, 60% de
controle acionário nacional, que fabricassem aqui, com, no mínimo, 60% de
conteúdo local.
E, no contexto desse programa de
substituição de importações, joint ventures poderiam ser estabelecidas a partir
da realização de rodadas de negócios reunindo empresas brasileiras e
chinesas, sob os auspícios e a iniciativa do próprio BNDES e do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Caro Mauro,
ResponderExcluirEm primeiro lugar quero registrar minha admiração pelo senhor. Costumo ler seus artigos com frequência e de modo geral me sinto representado em suas ideias e argumentos.
Gostaria, porém, de fazer uma observação em relação a esse texto. Em muitos casos, o consumidor brasileiro faz compras no exterior não por falta de consciência, mas devido aos preços abusivos praticados no mercado doméstico, fator ao qual podemos agregar a baixa qualidade dos produtos oferecidos.
Forte abraço,
Rodrigo Morais
Um abraço, Rodrigo.
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