(JB) - A imprensa internacional, citando a AEB – Associação de
Comércio Exterior do Brasil, destaca a “preocupação” de nossos homens de
negócio, com a provável queda das vendas, neste ano, para a Argentina e a
Venezuela.
Tem razão os nossos exportadores.
A Argentina e a Venezuela, vilipendiados, nos últimos anos,
por determinados setores da mídia e do empresariado, são mercados tradicionais
para nossos manufaturados, e apesar de seus problemas, as únicas nações com
quem temos tido expressivos superávits, nos últimos meses, além da China.
Com a Europa e os Estados Unidos, tão incensados por esses
mesmos setores da mídia e do empresariado, o déficit aumentou em mais de 100%
no ano passado, e com certeza tende a se acelerar mais daqui em diante, se
negociarmos em condição de fraqueza – obedecendo apenas a pressões externas e
internas – o “acordo” que está sendo costurado entre o Mercosul – leia-se
Brasil, em um primeiro momento - e a União Europeia.
Não satisfeitos em levar daqui, todos os anos, bilhões de
dólares e de euros em remessas de lucro, os europeus – e os EUA, que querem
pressionar no sentido de obter acordo semelhante – pretendem continuar vendendo
cada vez mais ao nosso país e comprar cada vez menos, deteriorando as relações
de troca e o preço de nossas mercadorias, para reduzir-nos, se assim o
permitirmos, à mera colônia exportadora de matérias-primas que éramos até o
início do século XX.
Sofremos, ao longo das últimas décadas, o efeito do protecionismo
dos países do “primeiro mundo”, em casos como o do aço, do suco de laranja, do
frango congelado, do algodão, da carne bovina, e até mesmo do subsídio à
fabricação e exportação de aviões, e não foram poucas as vezes que tivemos de
enfrentá-los, devido a isso, nos foros internacionais.
Como não contamos, como é o caso do México, com baixíssimos
salários e o mercado norte-americano do outro lado da fronteira, para
dedicar-nos à maquiagem de produtos de terceiros – o que, ao contrário do que
se pensa, não gera superávit para os mexicanos - pouco nos resta a fazer a não
ser investir na busca de mercados “próprios” para nossos manufaturados, como é
o caso da África, da Ásia e da América do Sul.
A necessidade de dólares, principalmente por parte de nações
com baixas reservas internacionais, como a Argentina e a Venezuela, tende a
dificultar a expansão da venda de produtos brasileiros nesses países nos
próximos anos.
Ou tomamos alguma providência, imediata, para preservar os
empregos e a renda que auferimos com as exportações para o Mercosul, ou corremos
o risco de perder milhões de clientes para outras regiões e países do mundo, especialmente aqueles que, como a
China, possuem trilhões de dólares em reservas e podem subsidiar e financiar
fortemente suas exportações.
Um dos primeiros passos seria reconhecer que eles disporão de
cada vez menos dólares no futuro, e voltar a considerar o uso, já aventado
antes, de moeda local em nossas trocas comerciais com os vizinhos.
Considerando-se a inflação galopante em pesos e bolívares,
piorada pela desvalorização, o câmbio negro e o uso de dólares como reserva de
valor, como preservar o poder de compra dessas moedas?
Trabalhando, talvez, com títulos denominados em moeda
norte-americana, que pudessem ser utilizados para compra e venda de mercadorias
e serviços com base na cotação do dólar na moeda do país de emissão do título,
no dia de seu resgate pelo detentor.
Um “mercosul”, por exemplo, valeria o equivalente a 1000
dólares em reais, pesos, bolívares, sucres, etc, ao preço do dia em que fosse
trocado ou convertido, para pagamento de serviços, transações comerciais ou
investimento.
Esse tipo de sistema permitiria:
- Que a Venezuela e outros países, principalmente a
Argentina, diminuíssem suas barreiras à entrada de produtos brasileiros, e, ao
mesmo tempo, suas crescentes importações de países de fora do Mercosul, como o
México ou a China.
- Que se multiplicassem o turismo dentro do bloco, com a
diminuição da saída de pessoas – inclusive brasileiros – para outras regiões do
mundo e, consequentemente, do gasto em dólares com viagens internacionais.
- Que aumentasse a compra de imóveis, para turismo ou
investimento, por cidadãos do Mercosul, nos diferentes países-membros.
- Que se multiplicassem os investimentos em serviços, na
indústria e na agricultura, evitando a imobilização de dólares e facilitando a
repatriação do capital e do lucro, na própria moeda do país de origem do
investimento.
- Que se criasse, no mercado internacional, um mercado para
esses títulos, com a sua troca por dólares, melhorando o acesso a moeda
norte-americana por alguns desses países.
Para quem estiver ouvindo o canto das cassandras e achar que
é loucura investir em países do Mercosul nos próximos anos, ou confiar em uma
moeda como o peso argentino, lembramos que a Gerdau, o maior grupo siderúrgico
das Américas, acaba de anunciar, esta semana, a construção de uma nova usina siderúrgica
na Argentina, com recursos próprios e créditos públicos em moeda local,
capacidade de 650 mil toneladas de aço, e o equivalente a quase 200 milhões de
dólares em investimentos.
Este texto foi publicado também nos seguintes sites:
http://dicalinks.com/o-dolar-e-o-mercosul/
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