(JB) - A OCDE – Organização para o Comércio e o Desenvolvimento
Econômico, divulgou um relatório, na última terça-feira, classificando o México
e o Chile, ambos formalmente sócios da “Aliança do Pacífico”, como os dois
países com maior desigualdade do grupo.
Até aí, nada a estranhar, a OCDE reúne países teoricamente
desenvolvidos, que exibem dados sociais - remanescentes do período anterior à
crise economia – melhores do que a da maioria dos países latino-americanos, mas
eles tem se deteriorado rapidamente nos últimos anos.
A dívida explodiu entre os 34 membros da OCDE, principalmente
os PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda e Espanha). E o desemprego aumentou para um
total de 48 milhões de pessoas, 15 milhões a mais do que em 2007, alcançando em
alguns lugares, como a própria Espanha, taxas próximas a 30%.
O Chile – costumeiramente apresentado como um “milagre”
latino-americano, que muitos atribuem a Pinochet – consegue ser ainda mais
desigual que o México.
Mas o México perde para o Chile em renda. A sua é a menor da
OCDE, e uma das mais baixas entre os países latino-americanos.
O país de Zapata, também cantado pela mídia como “exemplo”
para o continente, tem, segundo estatística do FMI de 2012, renda menor que a do Chile, Uruguai, Brasil,
Argentina e Venezuela.
E o pior, no lugar de crescer, ela tem diminuído nos últimos
três anos. Isso, considerando-se que o México não conta com uma legislação
trabalhista ou uma rede de proteção social, ou programas de renda mínima, que
possam garantir um mínimo de dignidade para a população.
Na nação dos tacos e da tequila – o que explica parte de seu
“sucesso” manufatureiro na montagem e maquiagem, com peças de terceiros, de
produtos destinados aos Estados Unidos - sequer existe seguro-desemprego.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, quase 60%
dos empregos no México são informais, contra 28% na Argentina, 34% no Brasil,
45% na Colômbia, e 45% no Peru. E quatro em cada dez cidadãos mexicanos não
conseguem dinheiro para pagar uma cesta básica a cada 30 dias.
Como faziam os meios de comunicação espanhóis, que achavam
que a Espanha estava uma maravilha, quando na verdade, já estava sendo engolida
pela crise, os jornais mexicanos se gabam do país ter entrado para o NAFTA, o
acordo que os uniu, economicamente, ao Canadá e aos Estados Unidos, e de terem
assinado, com outros países, dezenas de
acordos bilaterais de livre comércio.
Mas não falam dos déficits históricos em sua balança
comercial, que sua renda per capita está praticamente estagnada há mais de duas
décadas, e que seu poder de compra tem caído, no lugar de aumentar, nos últimos anos.
O problema da fome, do abastecimento e da inflação de
alimentos também é muito grave no membro mais pobre do NAFTA.
Muita gente acha que o Brasil tem que parar de mandar
alimentos para a Venezuela, mas não sabe que o governo mexicano está ultimando
a compra, em nosso país, em caráter emergencial, de 300.000 toneladas de
frango, para impedir que o preço das proteínas exploda, e que falte comida nos
supermercados.
Muitos mexicanos também acreditam na balela de que o México é
grande exportador de manufaturas, enquanto o
Brasil só exporta commodities - esquecendo-se que somos o terceiro maior
fabricante e vendedor global de aviões.
O fato de que sejamos o maior exportador mundial de suco de
laranja, café, açúcar, carnes, - além de primeiro em minério de ferro e o
segundo em etanol - e de que tenhamos triplicado nossa safra de grãos nos
últimos 12 anos e estejamos a ponto de ultrapassar os EUA como o maior
exportador de soja do mundo, só quer dizer uma coisa: soubemos dar mais valor à
segurança alimentar do que outros países latino-americanos, e hoje temos comida
para abastecer nossa mesa, e para vender para o resto do mundo.
Na hora de ler os jornais, ouvir o rádio, ou ver os
noticiários de televisão, ao ouvir falar das ”reformas” e de supostos avanços
mexicanos com relação ao Brasil - quando eles cresceram a metade do nosso PIB
no último ano – é bom ficar com o pé atrás e colocar as barbas de molho.
Não podemos comer gato por lebre, e seguir os passos dos
mexicanos, que venderam a alma ao diabo, ao se agregar – como pouco mais que
escravos e camareiros – ao sistema econômico norte-americano.
Ao nos oferecer acordos semelhantes, como a UE está fazendo
agora - e os EUA tentarão fazer logo em seguida – os países “ocidentais” não
vão abrir seus mercados para nossas manufaturas – pelo contrário, eles têm
reduzido suas compras e aumentado as vendas para cá nos últimos anos. Irão
apenas tomar, implacavelmente, das nossas indústrias, o mercado sul-americano.
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