(Jornal do Brasil) - Depois de pedir licença de seu mandato, o Deputado André
Vargas renunciou à Primeira Vice-Presidência da Câmara dos Deputados, após instauração de processo no Conselho de ética da
Casa, para apurar denúncias contra ele, a propósito de suas relações com o
doleiro Alberto Youssef, detido pela Polícia Federal em uma operação que
investiga lavagem de dinheiro.
O envolvimento de André Vargas com o doleiro teria vindo à
tona a partir do pedido de “empréstimo”,
feito pelo deputado, de um jatinho, para viajar de férias a Youssef.
Nos últimos tempos, já houve casos de quem viajasse em avião
público por questões estéticas; de quem pegasse carona em aeronaves destinadas
a atendimento médico; de quem tivesse a própria aeronave apreendida com substâncias
proibidas.
Há grandes e pequenos escândalos, e episódios que são vistos,
por alguns, como “pecadilhos”, que atingem, infelizmente, de forma
indiscriminada, partidos das mais variadas legendas, tendências e orientação
política.
Embora quase todo mundo tenha um lado, e nem sempre os fatos
sejam abordados com o rigor, a honestidade e a isonomia que merecem – há
assuntos que são rapidamente julgados
enquanto outros passam anos sem ser sequer investigados - a verdade é que leis
como a da “ficha limpa” e a do voto aberto para o julgamento e a cassação de
parlamentares já deveriam ter sido vistas, por todos, como sinal de alerta e mudança nos riscos e cuidados da vida pública.
Para gregos e troianos da odisseia política brasileira, talvez
nunca seja demais lembrar a frase atribuída por Plutarco a certo prócer romano,
ao repudiar sua mulher, filha de Quintus
Pompeius Rufus: “à mulher de César, não basta ser honesta, é preciso
parecer honesta”.
Embora a expressão, para alguns, coloque as aparências na
frente da verdade, ela reflete a necessidade do rito; da manutenção de regras
básicas de convívio e de respeito entre pares e por seus eleitores; e até por
si mesmos, no exercício da atividade pública, no sentido de que todos deveriam se
dedicar ao objetivo de mantê-la, sempre que possível fosse, ao abrigo de
qualquer suspeita.
Ao colocar seu comportamento em dúvida, estendendo o opróbio
e a desconfiança da população sobre a atividade política e a instituição de que
toma parte, o homem público não macula apenas a si mesmo.
Ele agride e arrasta na lama a imagem da Democracia que, como
à mulher de César, não deveria bastar que fosse – majoritariamente - honesta,
mas também que assim transparecesse aos olhos da Nação.
Há lugares, como o Uruguai, em que o Presidente anda de
fusca.
No Brasil, escancarar o convívio, até em festas e redes
sociais, com bicheiros, lobistas e doleiros, está ficando mais comum, nos
últimos anos, do que o prosaico gesto de passar pelo check-in e embarcar em um
avião de carreira.
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