(Hoje em Dia) - O governo argentino anunciou, na semana passada, que está
disposto a entregar uma lista que contempla o corte de tarifas de 90% dos
produtos que importa da União Europeia, no âmbito do acordo que está sendo
negociado entre a UE e o Mercosul. O Brasil já teria feito o mesmo e as
próximas reuniões entre os dois blocos se dariam em maio e junho deste ano.
Na base do morde-e-assopra, no entanto, ao mesmo tempo em que negocia conosco um
acordo de livre comércio, a Europa está dando início a processos contra o
Brasil na Organização Mundial do Comércio.
Cinicamente – são os primeiros a levantar a bandeira da
defesa da natureza amazônica – eles questionam os incentivos tributários dados
à Zona Franca de Manaus, uma opção alternativa de desenvolvimento não predatório
para a região.
E querem acabar com incentivos tributários e tarifas de
importação para eletrônicos, celulares e automóveis, que beneficiam, principalmente,
empresas europeias que operam em nosso país e daqui mandam, todos os anos, bilhões
de dólares em lucro para o território europeu.
Nos últimos dez anos, o Brasil teve 50 bilhões de dólares em
lucro no comércio com o Mercosul. A única esperança que tínhamos, residia, no
futuro, no estabelecimento, como fez a Alemanha, na Europa, ou os EUA, no continente
norte-americano, de um mercado cativo para “nossas” indústrias, capaz de
alavancar e sustentar nossa posição estratégica e geopolítica no mundo.
No lugar disso, estamos entregando aos outros um mercado de
mais de 400 milhões de pessoas, em acordo que deverá ser rapidamente assinado, mais
por razões políticas e eleitorais do que por conveniência ou defesa dos reais
interesses da Nação.
Não contente de estabelecer sobretaxas contra produtos
brasileiros e de subsidiar suas exportações de alimentos, destruindo e
sabotando nossos mercados lá fora, a União Europeia pretende deixar de ter que instalar
fábricas aqui dentro para produzir manufaturas, mesmo que seja para atender o
mercado brasileiro.
Eles querem regredir três séculos para um modelo mercantilista
que exige acesso completo a nossos
portos para suas exportações industriais, em troca de aumentar– teoricamente – a
importação de
nossos produtos agrícolas.
Com o baixo custo da energia paraguaia, o gás argentino e
boliviano, o petróleo brasileiro, venezuelano, equatoriano, as exportações
agrícolas e minerais, unidos e fechados, teríamos toda a condição de atrair e
gerar capitais e indústrias.
Se abrirmos em 90% nosso mercado para economias altamente
subsidiadas e desleais no comércio, estaremos, aí, sim, condenados ao
subdesenvolvimento.
A China, do alto de seus quase quatro trilhões de dólares em
reservas internacionais, e prestes a alcançar o posto de maior economia do
mundo, não tem acordos de livre comércio nem com a Europa nem com os Estados
Unidos.
E não parece ter a menor intenção de assina-los nos próximos
anos.
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