18 de jun. de 2014

A ESTRADA PARA BAGDÁ


(Jornal do Brasil) - Enquanto o mundo acompanha os jogos da Copa 2014, disputada no Brasil, as agências internacionais informam, em despachos urgentes, que rebeldes islâmicos sunitas se encontram há apenas algumas dezenas de quilômetros da capital iraquiana.

Há poucos dias, combatentes do EIIL - Estado Islâmico do Iraque e do Levante, capturaram Tikrit e Mossul, no norte do país, e em rápido avanço, tomaram em seguida Raqqa, Tal Afar, Suleiman Beg e Falluja. Ontem pela manhã, eles  cercavam Baquba, que, se cair também em suas maõs, lhes dará acesso à estrada que, ao longo de 60 quilômetros, os separa dos subúrbios de Bagdá.

Surpreendidos e desnorteados pela rapidez dos acontecimentos, os EUA, como já ocorreu antes, quando tiveram que abandonar, ás pressas, o Vietnam e a Somália, anunciaram o envio de 275 soldados para “proteger” seu corpo diplomático - quando na verdade eles podem estar indo para lá para organizar e cobrir sua retirada - no que pode ser o capítulo final de uma enorme tragédia que teve início com duas farsas: a do não comprovado envolvimento do regime de Saddam Hussein com os até hoje também não esclarecidos ataques de 11 de setembro de 2002; e a mentira sobre a existência, no Iraque, de “armas de destruição em massa” que nunca  foram encontradas.

Impossibilitado, pela própria opinião pública norte-americana - que não quer nem saber de falar em guerra - de se envolver diretamente com o conflito, os Estados Unidos falam em usar drones para atacar os rebeldes, e se dividem quanto a eventual cooperação com o vizinho estado iraniano, que por ser também xiita, simpatiza com o atual Primeiro-Ministro iraquiano, Nouri Maliki.

Chega a ser irônico que os EUA, agora, falem em proteger a “estabilidade” do Iraque. A intervenção norte-americana no país não foi somente injusta, cruel, absurda e desnecessária. Ela transformou-se em um verdadeiro fiasco moral, militar e econômico para os Estados Unidos.

No dia 16 de março de 2003, pouco tempo antes da invasão, o então Vice-Presidente de Bush, Dick Cheney, afirmou, em um encontro com a imprensa na Casa Branca, que a operação iria custar entre 80 e 100 bilhões de dólares, incluindo a conquista de Bagdá e a ocupação do Iraque, e dois anos de conflito.

Dez anos depois, em maio de 2013, um estudo denominado The Costs of War, do Instituto Watson de Estudos Internacionais da Universidade Brown - a sétima mais antiga dos Estados Unidos - calculou em quanto havia ficado a conta para os contribuintes: um trilhão e setecentos bilhões de dólares, mais 490 bilhões de dólares em despesas médicas e indenizações e pensões para os veteranos, que, até que essa geração desapareça, podem chegar a 6 trilhões de dólares, nos próximos 40 anos.

A isso, é preciso acrescentar, segundo a organização antiwar.com, cerca de 5.000 soldados norte-americanos mortos e desaparecidos, e um número estimado de 100.000 feridos.

As mortes diretas de iraquianos, ainda segundo o estudo da Brown, foram de 134.000 civis, número que deve ser multiplicado por quatro, considerados os que morreram por ferimentos, enfermidade e fome até agora, principalmente crianças. Somando-se ao número inicial, membros de “forças de segurança”, rebeldes, jornalistas e funcionários de organizações humanitárias, chega-se a um número aproximado de 189.000 vítimas.

Antes da intervenção norte-americana no Iraque, o regime de Saddam e o dos Aiatolás, se vigiavam mutuamente, contribuindo para manter certo equilíbrio de forças na região.

Com a destruição da nação iraquiana, os Estados Unidos – assim como estão fazendo na Ucrânia, na Síria, na Líbia - substituíram um país relativamente estável, sem grandes conflitos internos, no qual conviviam diversas etnias, por um inferno de morte e violência do qual, como sempre, se afastaram, depois, quando a situação piorou, como se não tivessem absolutamente nada a ver com isso.

E tudo isso para que ? Para, depois de tantos anos de uma guerra tão cara como brutal, desumana e inútil, os EUA, absolutamente impotentes, verem  tropas rebeldes sunitas islâmicas - muito mais anti-EUA do que Saddam Hussein jamais foi - tomarem conta do país.

Para, depois, correrem o risco de ter de assistir tropas do Irã - a maior potência política e militar da região – tomarem também a estrada para Bagdá, como pacificadores, entregando o Iraque, de bandeja, para um país que sempre consideraram seu arqui-inimigo naquela região.



A VISITA DO IRMÃO CARA DE PAU


(Hoje em Dia) - O Vice-Presidente Joe Biden visitou ontem a Presidente Dilma, e afirmou que os Estados Unidos estão revendo a metodologia de trabalho da NSA.  

É certo que todo grande país espiona, e mais ainda se está em situação de conflito ou tem sua sobrevivência ameaçada por inimigos externos.

A União Soviética ficou famosa pela qualidade de seus espiões e de suas redes de espionagem, tanto na luta contra a Alemanha Nazista, quanto com relação ao Ocidente.

Richard Sorge, ferido na Primeira Guerra Mundial como soldado russo e sobrinho de um ex-secretário de Marx,  infiltrou-se na Alemanha, tornou-se membro do Partido Nazista e jornalista alemão a serviço do Frankfurter Zeitung, como correspondente em Tóquio. Lá, bom de copo e de papo, tornou-se amigo do embaixador alemão e amante da mulher dele. Meticuloso, perseverante, e acima de tudo comunista, conseguiu passar aos russos a data da Operação Barbarossa - a invasão nazista da União Soviética -  e a informação, crucial, de que o Japão não iria atacar Stalin pelo oriente, permitindo que deslocasse tropas para o front ocidental. Denunciado e descoberto pelos japoneses, foi executado em Tóquio em novembro de 1944. Em 1964, recebeu o título de “Herói da União Soviética”, e mais tarde seu nome foi dado a um submarino nuclear russo.

Leopold Trepper, e sua amante, Irina, comandaram  durante 7 anos uma rede de spionagem russa em paises europeus ocupados pelos alemães que funcionava sob o disfarce de uma série de escritórios de exportação-importação.

Die Rote Kapelle, a “Orquestra Vermelha”,  assim chamada por causa dos teclados dos aparelhos codificados de rádio que enviavam as mensagens e dos homens que os operavam, conhecidos como “pianistas”, conseguiu passar 1500 mensagens aos soviéticos, que custaram, segundo o Almirante Canaris, chefe da contra-espionagem nazista, a vida de 200.000 soldados alemães.

Na década de 1930, jovens aristocratas ingleses, preocupados com a ascensão do nazismo, foram recrutados pela espionagem soviética enquanto ainda estudavam na prestigiosa universidade de Cambridge. Mais tarde, infiltraram-se em altos cargos da diplomacia, do Ministério da Guerra e no próprio serviço de espionagem de Sua Majestade, o MI-6. O mais famoso desses espiões comunistas, Kim Philby, foi designado como chefe da Seção Anti-Soviética do serviço inglês em 1948, em plena Guerra Fria. Dessa forma, o homem encarregado de comandar a espionagem inglesa no Ocidente, era, na verdade, um espião soviético! Em 1963, depois que outros homens da rede foram presos, Philby aposentou-se, mudou-se para o Oriente Médio como correspondente estrangeiro, e fugiu, clandestinamente, para Moscou, emk 1963. Casou-se com uma russa, em 1971, e morreu, tranquilamente, em 1988, com direito a um funeral grandioso, várias medalhas, e o título de Herói da União Soviética. 

Tudo isso mostra que existe uma grande diferença entre os heróis de araque do cinema ocidental, como James Bond, e a realidade nua e crua do mundo da espionagem, no qual os russos, na verdade, sempre deram um "banho" no Ocidente. 

Se 007 tivesse alguma vez existido fora das telas de cinema, na época em que seus filmes foram ambientados, teria recebido ordens de Kim Philby, um agente duplo da KGB, diretor do MI-6 inglês, e espião soviético.       

O problema dos Estados Unidos não é espíonar, como fizeram os russos, mas automatizar e massificar o processo, bisbilhotando rigorosamente milhões de pessoas todos os dias, seja qual for sua profissão ou grau de responsabilidade, de governantes estrangeiros a meros usuários de internet, usando para isso, todos os meios de comunicação derivados da rede mundial de computadores.

Ao fazê-lo, os EUA, transformam-se, por atacado, em meros ladrões de dados, e em chantagistas que podem pressionar ou atacar qualquer pessoa, com o controle de suas informações pessoais.      


É por isso que ninguém acredita neles. A Alemanha, que ao menos nas aparências, está apoiando a política dos EUA para a Ucrânia, acaba de aprovar a ida de uma comissão composta por parlamentares de seus dois maiores partidos à Rússia, para “uma conversa informal”, com Edward Snowden, no mês de julho. A intenção é saber mais sobre o volume e o conteúdo das informações que a NSA captou no país.  

15 de jun. de 2014

FELIPÃO E A GEOPOLÍTICA



(Jornal do Brasil) - Desde a formação dos primeiros grupos humanos, no alvorecer da história, o poder das tribos, das cidades, dos povos, nações e civilizações, esteve ligado a competições de caráter físico e de habilidade.

Originado na caça e na guerra, a que substituiu, em tempos de paz, o esporte sempre foi, desde a Grécia antiga, um veículo para a afirmação do orgulho individual e nacional, projetado na disputa e na competição.

Nas Olimpíadas de 1936, a Alemanha procurou mostrar ao mundo o ideal nazista e ariano, e acabou frustrando-se com a vitória do atleta norte-americano negro Jesse Owens, cujas vitórias obrigaram Hitler a abandonar seu lugar no palanque.

Na Guerra Fria, valia tudo para vencer as competições esportivas internacionais. Naquela época,  atletas russos, chineses, coreanos, cubanos, norte-americanos, procuravam não apenas conquistar medalhas de ouro, mas mostrar em cada gesto, a disciplina, a boa forma física, a qualidade técnica e o talento do país, e, muitas vezes, do Sistema que estavam representando e defendendo diante do mundo.

Mesmo que a princípio, se tratasse apenas de esporte, a visibilidade dos eventos esportivos e a sua transmissão ao vivo depois da invenção do satélite, para bilhões de pessoas, sempre teve por trás a política.

Política interna, como foi o caso dos atletas negros norte-americanos que subiam ao pódio com o punho cerrado fechado, e o braço erguido para saudar o “Black Power” homenageando o grupo Panteras Negras.

Ou a política regional e internacional, como ocorreu nas Olimpíadas de Munique, na então Alemanha Ocidental, quando palestinos do Setembro Negro tomaram sequestraram e tomaram como reféns atletas da delegação israelense.

Um pouco de nacionalismo, na hora da disputa, não faz mal a ninguém. Sou daqueles que acho que os jogadores da seleção brasileira deveriam acordar, todos os dias, na concentração, ao nascer do sol, para hastear a bandeira. E cantar o hino nacional, ao menos para aprender a letra e não nos matar de vergonha como ocorria no passado.

Também não faria mal a eles e a Luís Felipe Scolari, ler, antes de cada jogo, alguma coisa sobre o adversário, que não fosse apenas suas estatísticas futebolísticas. História, por exemplo, ou os últimos jornais.

Saber que os croatas, que nos deram bastante trabalho na estreia, são ferrenhos adversários históricos dos sérvios, com quem jogamos nosso último amistoso, poderia ter nos indicado o grau de dificuldade que iríamos enfrentar. Independente de querer aparecer ganhando da seleção pentacampeã do mundo em sua própria casa, eles não iriam perder a oportunidade de tentar provar aos sérvios que podiam acertar onde eles erraram.

Da mesma forma, se Felipão lesse a imprensa mexicana, ou alguma análise sobre os dois países, daria para saber que os mexicanos – manipulados cotidianamente por sua imprensa - têm profundo complexo de inferioridade com relação ao Brasil, ao qual não perdoam ter estabelecido área de influência na América do Sul, quando eles tem a metade de nossa economia, população, reservas internacionais, cresceram quase a metade do Brasil nos últimos dez anos em 2013, e pertencem à área de influência dos Estados Unidos.

O técnico da Croácia disse, já antes do jogo, que ia “partir pra cima” do Brasil em São Paulo. O técnico do México, El Piojo (O Piolho) Miguel Herrera, já declarou que a seleção do país de Zapata vai “se matar” para derrotar o Brasil no próximo jogo - meta que a torcida e a imprensa mexicanas consideram plenamente possível (foto).

Os mexicanos estão com ódio particular do Brasil, ódio tradicionalmente alimentado pela imprensa deles, por causa de  declarações recentemente feitas em Madri, pelo ex-presidente Lula, criticando os fundamentos econômicos do México, fato que rendeu, por lá, grandes manchetes.

Em uma disputa internacional, muitas vezes o que menos importa é o esporte, ou apenas os seus fundamentos técnicos, que tem ficado sempre em primeiro plano  para Felipão, seus jogadores e a maioria dos repórteres esportivos.   

Como diziam os romanos, Alea jacta est. A sorte está lançada.

Só não sejamos ingênuos de pensar que, para nossos adversários nesta Copa, há apenas futebol por trás da bola.           

UM TIRO NO PÉ



(Hoje em Dia) - Plamen Oresharski, o Primeiro-Ministro da Bulgária, acaba de anunciar a suspensão das obras de um gasoduto a ser construído pelos russos, que serviria para levar gás à Europa, sem passar pela Ucrânia.

A decisão foi tomada após reunião de membros do governo búlgaro com uma “delegação” chefiada pelo Senador republicano John Mcain, que se deslocou com numerosos diplomatas para a capital búlgara, Sofia, para pressionar o governo .

Washington quer impedir a construção do gasoduto que passa pela Bulgária, por uma razão simples. Com ele, os russos teriam rota alternativa para levar seu gás à Europa, e poderiam fechar o gasoduto que passa pela Ucrânia quando quisessem, usando dessa prerrogativa para manipular os ucranianos.

Surpreendentemente, em um gesto de abjeta sujeição aos Estados Unidos, a União Europeia apoiou a suspensão das obras, sob alegação de que há dúvidas sobre o processo de escolha dos vencedores da concorrência, e que é preciso assegurar que a obra esteja em conformidade com a legislação européia.

Gennadi Timechenko, que lidera o consórcio vencedor, é um dos empresários russos que está na lista das personalidades sancionadas pelos Estados Unidos depois dos conflitos na Ucrânia.

Sem alternativas para a obtenção de energia, a Europa  confia demais no gás de xisto norte-americano, que poderia abastecê-la no futuro. Para que esse gás chegasse ao continente europeu seria necessário gastar dezenas de bilhões de dólares em navios, terminais portuários e infraestrutura. Além disso - e mais importante - descobriu-se agora que as reservas norte-americanas desse combustível fóssil seriam pelo menos dez vezes menores do que foi divulgado inicialmente,  devido a  falhas da empresa que fez o levantamento de seu potencial para o governo dos EUA.

A situação da Rússia, ainda nesse aspecto, é mais confortável. Na hipótese, improvável, de que a Europa conseguisse diversificar suas fontes de suprimento, trazendo gás dos EUA, ou explorando gás de xisto diretamente, com risco de destruição do subsolo e da contaminação do meio ambiente, os russos teriam como clientes a Índia e a China, com quem acabam de assinar o maior contrato de fornecimento de gás da história, e seus bilhões de habitantes.          


Ao endossar a pressão norte-americana sobre o governo búlgaro, a Europa não se tornará menos, mas ainda mais dependente do gás russo, e de um único caminho para obtê-lo. O que ocorrerá se, daqui a alguns meses, a situação na Ucrânia evoluir para uma guerra civil aberta e esse gasoduto for sabotado, e tiver seu funcionamento interrompido em pleno conflito? Os russos ficarão sem receber, a cada mês, o seu dinheiro, mas os europeus congelarão, no inverno, até a medula, sem a alternativa que poderia haver, dentro de um ano, com a construção do ramal que passaria pela Bulgária. 

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:  

    

12 de jun. de 2014

OS DESEMBARQUES


(Jornal do Brasil) - O Presidente Barrack Obama, com outros chefes de estado, participou, ontem, na França do septuagésimo aniversário do Desembarque da Normandia, realizado em 6 de junho de 1944.

Antes disso, na terça-feira, ele visitou a Polônia, onde fez profissão de fé do compromisso dos EUA com a “segurança” do Leste Europeu, que considerou “sagrada”.

Em Varsóvia, foi recebido pelo Presidente Bronisław Komorowski e por líderes da República Tcheca, Alemanha, Eslováquia, Hungria, Lituânia e Letônia, com os quais comemorou os 25 anos das primeiras eleições polonesas, após a queda da URSS.

E se reuniu, também, com o novo “presidente” da Ucrânia, Petro Poroshenko, escolhido em uma eleição que não se pode considerar legítima, pelo fato de ter sido boicotada  por milhões de ucranianos do Leste, de origem russa, que não reconhecem o novo regime instaurado após a queda do Presidente Viktor Ianukovich.

Em 1944, os Estados Unidos eram um dos principais países do mundo, e, talvez, por ter conseguido manter seu território a salvo de ataques - com a notável exceção de Pearl Harbor - a nação mais poderosa da Terra.

A sua força, mesmo do ponto econômico, era incontestável, e eles estavam se preparando, para, no mês seguinte, em julho de 1944, estabelecer, na Conferência de Bretton Woods, as bases para o sistema financeiro internacional atual, com a fundação do FMI e do Banco Mundial.    

Hoje, principalmente depois da queda do comunismo na Europa, muita coisa mudou. Os Estados Unidos ainda são a principal potência militar do planeta. Mas, em uma situação impensável há alguns anos, sua dívida é a maior do mundo, e a China, prestes a ultrapassá-los como a principal economia, é o seu maior credor financeiro.

Para piorar, os russos abriram mão do comunismo, mas não de seu lugar no mundo, e continuam seu principal rival militar, com uma força de mísseis balísticos intercontinentais - que está em processo de modernização - capaz de destruir o mundo.

Ao desembarcar nas praias da Europa, com os ingleses e canadenses, há setenta anos, os norte-americanos estavam movidos por duas razões: impedir que os russos, que já estavam às portas da Alemanha, conquistassem, sozinhos, toda a Europa, e, junto com eles, derrotar o nazismo, para preservar a liberdade.

Ao promover, agora,  simbólico  desembarque no leste da Europa, posando de líder anti-russo nas fronteiras do país de Putin, o que move Obama, não é a defesa da democracia ou da liberdade, mas o desejo de  provocar e enfraquecer uma das poucas nações que podem fazer frente, junto com a China, aos EUA. E isso em defesa de um sistema decadente, anacrônico e imperial.


Com a economia estagnada, e afundado em dívidas cada vez maiores, decorrentes de guerras frustradas, e inúteis, como as do Afeganistão e a do Iraque - que lhes custaram bilhões de dólares por semana - os Estados Unidos precisam continuar encenando, para o mundo, sua liturgia de poder no plano internacional. Mas devem tomar cuidado para não criar problemas - ou tomar decisões - das quais possam, como já ocorreu outras vezes, se arrepender mais tarde.  

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:


O BRASIL E AS MULTAS DE "ARAQUE"


(Hoje em Dia) - Dizer que os serviços de telecomunicações no Brasil são péssimos, já virou lugar comum. Milhares de queixas são feitas contra as operadoras de telefonia, banda larga, celular e tv a cabo, todos os meses, nos PROCONS e na ANATEL.

Reconhecer que eles estão entre os mais caros do mundo, também é redundância.  Segundo um estudo da União Geral de Telecomunicações, divulgado em 2013, as tarifas de celular cobradas no Brasil em termos absolutos, são as mais caras do mundo.  O preço por minuto, em 2012,  entre celulares, era de 0,71 por dólar, o mais alto entre 161 países analisados. No México e na Argentina, o custo por minuto é de 0,32 por dólar, no Peru, de 0,18, no Chile, de 0,14. Na Rússia, país em que o salário mínimo está por volta de 2.000 reais, a ligação entre diferentes operadoras é de 0,09 centavos de dólar, e na Índia, outro país dos BRICS, de 0,02.
O brasileiro comum também já sabe que não adianta ligar para as agências reguladoras. A Lei Geral de Telecomunicações, criada logo depois do desmonte e esquartejamento da Telebras -  antes da implementação do sistema de telefonia celular no Brasil, para que se entregasse esse “filé mignon” aos gringos, sem a concorrência da estatal - prevê que as operadoras não podem ser multadas a cada infrração, mas só depois que se acumula um enorme número de queixas de cada tipo.
O que não se sabia, ainda, e se está sabendo agora, é que as multas não servem para nada, porque elas não são pagas pelas empresas - principalmente as estrangeiras - que dominam esse mercado no Brasil.   
Outro dia, denunciamos, aqui, que a Telefónica (Vivo) está devendo, só de impostos atrasados, contestados, na justiça, como o ICMS, mais de 6 bilhões de reais para a Receita Federal.
E a ANATEL acaba de reconhecer que, entre 2000 e 2013, recebeu apenas 550  milhões de reais dos 4.33 bilhões de reais em multas que expediu. Centenas delas deixaram de ser recebidas, por terem sido, também, contestadas e suspensas na justiça, da mesma forma que a Telefónica faz com parte dos impostos que deve ao erário brasileiro.
Mesmo que tivessem sido integralmente pagas, essas multas não teriam quase nenhum valor punitivo, se considerarmos que o mercado brasileiro de telecomunicações fatura, por ano, mais de 200 bilhões de reais, ou quase de 500 milhões por dia.  
Se você, caro leitor, deixar de pagar o imposto de renda ou atrasar o pagamento de sua conta de telefone fixo, internet, tv a cabo ou celular, vai ter os serviços cortados, suas propriedades serão penhoradas e o seu nome vai para o SPC.

Se uma dessas companhias, espanhola, portuguesa, mexicana ou italiana, que veio para o Brasil nos anos 1990, for multada, ou deixar de pagar impostos, ela recorrerá na justiça, e continuará “trabalhando” livremente, metendo a mão no dinheiro do usuário, e mandando bilhões de dólares em lucro para o exterior. 

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:






7 de jun. de 2014

O QUE ESTÁ POR TRÁS DO ITALEAKS


(Jornal do Brasil) - Os “hackers” que se identificam como “anonymous”, envolvidos na espionagem contra o Itamaraty, colocaram em circulação, na internet, cerca de 100 mensagens de e-mail, trocadas por diplomatas brasileiros. Elas estão sendo analisadas pela PF e pelo próprio ministério, para determinar sua origem e autenticidade.    

O fato de o Itamaraty ter sido escolhido como alvo de espionagem é significativo  - e exige rigor na identificação da origem e do propósito dos autores da operação.

Quando estourou o escândalo do Wikileaks, ele se baseou, em boa parte, na divulgação de correspondência diplomática - e-mails e mensagens internas - do Departamento de Estado, o Ministério das Relações Exteriores dos Estados Unidos. Não é segredo também, que, aos norte-americanos, não agradou o fato de  as informações sobre o escândalo da espionagem da NSA terem sido divulgadas pelo jornalista inglês Glenn Greenwald, amigo de Edward Snowden, a partir do território brasileiro.

Sempre houve a suspeita de que os Anonymous, que exerceram papel significativo na campanha de desestabilização institucional promovida, a partir da internet, no ano passado, nesta mesma época do ano, estivessem ligados a interesses externos.

As mensagens do Itamaraty escolhidas, até agora, para serem divulgadas, contrariam, coincidentemente, todas  elas, posições norte-americanas e o discurso adotado pelos EUA na ONU, na imprensa internacional e em instituições multilaterais, em questões nas quais o Brasil se tem  oposto aos Estados Unidos nos últimos anos.

Esse é o caso da rejeição a sanções contra o Irã, da defesa do diálogo, da via diplomática e do direito ao uso da energia nuclear para fins pacíficos; da espionagem do Brasil pela NSA; e da defesa de Cuba, quanto à sua classificação pelos Estados Unidos, como estado terrorista - temas  abordados nas mensagens  divulgadas.

Se o grupo que está por trás da infiltração, tinha a intenção de colocar o Brasil contra a parede, com a divulgação dos documentos do Itamaraty, tratou-se  - pelo menos até agora - de um tiro pela culatra.

Os documentos divulgados por Julian Assange e seus colaboradores no Wikileaks, expuseram ao mundo a arrogância norte-americana; seu desrespeito pelos outros países; por personalidades; pelas regras diplomáticas. Os documentos denunciaram também nefasta e rasteira manipulação das relações internacionais, a fim de preservar  atitude hegemônica e imperial com relação ao resto do mundo.

Os e-mails do Itamaraty provam - ao menos pelo que foi divulgado até agora - que somos, no âmbito diplomático, uma nação  equilibrada, coerente,  e democrática, empenhada na defesa da paz, do multilateralismo e - salvo por expresso mandato da ONU - do princípio de não intervenção, em estrita obediência ao nosso texto constitucional.       

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:




A RETIRADA DO REI


(Hoje em Dia|) - A abdicação de Juan Carlos do trono,  em favor de Felipe  de Astúrias, faz lembrar, de pronto, a tentativa frustrada de golpe de 17 de fevereiro de l977, pelo coronel Enrique Tejero, da Guarda Civil.

Durante muito tempo, pairaram dúvidas sobre o papel do Rei naquela noite, até hoje não de todo esclarecido. O certo é que os golpistas, durante o episódio,  falaram como se obedecessem a suas ordens, e que seu nome foi proposto, por eles, para assumir o poder, depois de passar pela eventual aprovação de um plenário cercado por tropas, e sob a mira de um louco, com uma pistola automática na mão.

Com o tempo, passando por histórias de amantes e de caçadas de elefantes, Juan Carlos I estabeleceu uma personalidade cheia de contrastes, e de situações nebulosas.

Sempre teve estreitas relações com os grandes “magnatas” espanhóis e seus  negócios na América Latina, em uma época em que a Espanha achava que podia promover arrogante reconquista de seus antigos territórios, esquecendo-se, os espanhóis e seus oligarcas, de que só estavam em situação aparentemente positiva graças a bilhões de euros a fundo perdido da União Européia e a gigantescas dívidas que terão de pagar agora.

A intimidade com o mundo dos negócios, e com gente que enriqueceu rapidamente, na esteira da entrada da Espanha no euro, levaria a família real – que já contava com generosa “renda” e todas as despesas pagas pelo erário – a envolver-se em uma série de escândalos e negociatas.

O genro do Rei, Iñaki Urdangarin, um ex-jogador de handebol – que ocupava cargos em conselhos de várias empresas espanholas, inclusive a Telefónica América Latina, dona da “Vivo” no Brasil – foi acusado de desvio de dinheiro público, por meio de uma organização fundada por ele, aparentemente “sem fins lucrativos”, o Instituto Noos, que prestava – sem os executar – serviços superfaturados para províncias e municípios espanhóis.

Mesmo posando de democrata, em momentos emblemáticos, Juan Carlos não conseguiu esconder sua verdadeira face, profundamente conservadora e neocolonial, quando disse o que queria – e ouviu o que não queria – ao proferir, em  reunião de uma das fracassadas cúpulas “íbero-americanas”, para o Presidente Chavez, “porque no te callas?” 
  
Ao abdicar em favor de seu filho, Juan Carlos I abre mão do reinado para salvar uma monarquia contestada. 

Um sistema que é o retrato mais forte de uma Espanha anacrônica e cada vez mais irrelevante, que se encontra dividida por polêmicas intestinas dentro de suas próprias fronteiras.


    

5 de jun. de 2014

A EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS E O BNDES


(Jornal do Brasil) - O Valor Econômico informa que as empreiteiras brasileiras correm o risco de perder mercado para concorrentes internacionais, principalmente da Europa e da China se não puderem mais contar com financiamento do Estado brasileiro.

Há crescente preocupação em explicar que cada centavo tomado pelo BNDES para construção de obras como o Porto de Mariel em Cuba foi gasto na contratação de serviços e compra de equipamentos no Brasil, e que as obras no local da obra são financiadas pelo próprio governo-cliente.

E em esclarecer que, a cada vez que se perde um contrato desse tipo, deixam de ser criados no Brasil milhares de empregos. Neste momento as empreiteiras brasileiras, estariam ocupando o segundo lugar no atendimento ao mercado latino-americano de grandes obras de infra-estrutura, quase sendo alcançadas pelas chinesas. O primeiro lugar é da Espanha.        

As construtoras espanholas avançaram na América Latina, porque podiam oferecer crédito barato, o que não é o caso agora, quando seu país, devido à crise, tem uma dívida interna líquida de quase cem por cento do PIB e cerca de 20 bilhões de dólares em reservas internacionais.

Além disso, a credibilidade espanhola – e européia de modo geral - também saiu arranhada de episódios como o conflito em torno das obras de ampliação do canal do canal do Panamá. No ano passado, e até o início deste ano, o consórcio escolhido para a realização da obra, composto pela construtora espanhola Sacyr Vallehermoso, a italiana Impregilo, a belga Jan de Nud e a local Constructora Urbana S.A, do Panamá, ameaçou, por diversas vezes, paralisar as obras, no valor de quase 6 bilhões de dólares, exigindo, por diversas vezes, o pagamento de aditivos  não previstos no contrato, alegando “sobre-preços” não previstos, fazendo com que o governo panamenho ameaçasse levar o caso aos tribunais internacionais.      
   
Com 378 bilhões de dólares em reservas e um dos maiores bancos de fomento do mundo, o Brasil precisa e deve continuar financiando, em condições cada vez mais favoráveis, as obras de nossas construtoras no continente latino-americano, sob pena de perder mercado para concorrentes que fazem o mesmo, de outras regiões do mundo.

Com os chineses, no entanto, em vez de briga, se poderia pensar em estabelecer uma aliança.

Pequim conta com recursos muito maiores que os nossos, e as empreiteiras chinesas conquistaram - como se pode ver na China – enorme competência na execução de obras de engenharia pesada e civil de excelência, nos últimos anos.

Isso pode ser visto, por exemplo, nos seus 10.000 quilômetros de malha de trens de alta velocidade, a maior do mundo, e nos enormes arranha-céus de suas metrópoles.

Com os chineses, aproveitando-nos de nossa condição de sócios nos BRICS, e no futuro banco de fomento do BRICS, que deverá ser lançado na cúpula do grupo prevista para julho em Fortaleza, o Brasil teria tudo para estabelecer nessa área uma  estratégica e fecunda parceria.

Nesse acordo, negociado em nível de governo, nossas empreiteiras poderiam se associar às chinesas na construção de obras na América Latina, com os bancos estatais dos dois países dividindo o financiamento e a indústria brasileira e a chinesa, as encomendas e oportunidades.

Esta semana a maior empresa de construção de máquinas para construção pesada do mundo, a XCMG, vai inaugurar, na cidade mineira de Pouso Alegre, a sua primeira fábrica fora da China.

Com investimentos de aproximadamente 1 bilhão de reais, a indústria deverá produzir 1.500 guindastes pesados e máquinas de terraplenagem no primeiro ano, e 10.000 unidades a partir de 2015, com faturamento de 500 milhões de dólares por ano .