15 de jun. de 2014

UM TIRO NO PÉ



(Hoje em Dia) - Plamen Oresharski, o Primeiro-Ministro da Bulgária, acaba de anunciar a suspensão das obras de um gasoduto a ser construído pelos russos, que serviria para levar gás à Europa, sem passar pela Ucrânia.

A decisão foi tomada após reunião de membros do governo búlgaro com uma “delegação” chefiada pelo Senador republicano John Mcain, que se deslocou com numerosos diplomatas para a capital búlgara, Sofia, para pressionar o governo .

Washington quer impedir a construção do gasoduto que passa pela Bulgária, por uma razão simples. Com ele, os russos teriam rota alternativa para levar seu gás à Europa, e poderiam fechar o gasoduto que passa pela Ucrânia quando quisessem, usando dessa prerrogativa para manipular os ucranianos.

Surpreendentemente, em um gesto de abjeta sujeição aos Estados Unidos, a União Europeia apoiou a suspensão das obras, sob alegação de que há dúvidas sobre o processo de escolha dos vencedores da concorrência, e que é preciso assegurar que a obra esteja em conformidade com a legislação européia.

Gennadi Timechenko, que lidera o consórcio vencedor, é um dos empresários russos que está na lista das personalidades sancionadas pelos Estados Unidos depois dos conflitos na Ucrânia.

Sem alternativas para a obtenção de energia, a Europa  confia demais no gás de xisto norte-americano, que poderia abastecê-la no futuro. Para que esse gás chegasse ao continente europeu seria necessário gastar dezenas de bilhões de dólares em navios, terminais portuários e infraestrutura. Além disso - e mais importante - descobriu-se agora que as reservas norte-americanas desse combustível fóssil seriam pelo menos dez vezes menores do que foi divulgado inicialmente,  devido a  falhas da empresa que fez o levantamento de seu potencial para o governo dos EUA.

A situação da Rússia, ainda nesse aspecto, é mais confortável. Na hipótese, improvável, de que a Europa conseguisse diversificar suas fontes de suprimento, trazendo gás dos EUA, ou explorando gás de xisto diretamente, com risco de destruição do subsolo e da contaminação do meio ambiente, os russos teriam como clientes a Índia e a China, com quem acabam de assinar o maior contrato de fornecimento de gás da história, e seus bilhões de habitantes.          


Ao endossar a pressão norte-americana sobre o governo búlgaro, a Europa não se tornará menos, mas ainda mais dependente do gás russo, e de um único caminho para obtê-lo. O que ocorrerá se, daqui a alguns meses, a situação na Ucrânia evoluir para uma guerra civil aberta e esse gasoduto for sabotado, e tiver seu funcionamento interrompido em pleno conflito? Os russos ficarão sem receber, a cada mês, o seu dinheiro, mas os europeus congelarão, no inverno, até a medula, sem a alternativa que poderia haver, dentro de um ano, com a construção do ramal que passaria pela Bulgária. 

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Um comentário:

Bernardo disse...

Há gasodutos que passam pela Bielorússia, além do novíssimo Nord Stream, que passa pelo Mar Báltico. Portanto, não se trata de um único gasoduto na Ucrânia.
Mas, sem dúvida, se o Pravy Sektor resolver sabotar os gasodutos que passam pela Ucrânia, a Europa vai ter bastante problema de fornecimento.
Também não entendi o "se" a situação evoluir pra guerra civil. Já é uma guerra civil! Os separatistas abateram um avião de transporte esses dias. Cidades como Slaviansk e Kramatorsk estão sitiadas e estão sendo bombardeadas diariamente com artilharia pesada. Já há até relatos não confirmados de uso de fósforo branco sobre a população. Se isso não é guerra civil, então não sei o que é.
De qualquer maneira, acho que o post foi oportuno. Abraço.