1 de jul. de 2014

A LEI DO ABUTRE


(Hoje em Dia) - Habituados a uma longa historia de lutas e revindicações, os argentinos tem se mobilizado, maciçamente, contra novo inimigo.

Não se trata da Nigéria contra quem o time de Messi joga esta semana em Porto Alegre. Pela televisão, pode-se ver que, ao lado de cartazes de professores e outras categorias em greve, os muros e tapumes de Buenos Aires estão cobertos de grandes cartazes, nos quais urubus aparecem associadas ao dólar e a bandeira dos Estados Unidos.

A opinião publica argentina responde à decisão, tomada pelo juiz Thomaz Griesa, de Nova Iorque, de dar ganho de causa aos fundos “abutre” que detém bônus de divida antiga do país, para que recebam alem do valor que foi pago á maioria dos credores que aceitaram renegociar e dar descontos, no passado, em troca de receber parte dessa divida.   

Os fundos “abutre” se dedicam a comprar, barato, títulos da divida publica de países em dificuldades, para depois lucrar. mais tarde, quando sua situação  melhora.

A American Task Force Argentina reúne e serve de fachada para o NML e o Elliot Capital Management, os dois maiores fundos “abutre” sediados em paraísos ficais. No total, os fundos que estão acionando, na justiça,  a República Argentina são 47. Eles ficaram com apenas 7 % do total de bônus cujos donos não aceitaram a troca de divida, nas crises de pagamento de 2005 e 2010. Quem administra a AFTA é Robert Shapiro, ex-assessor de Clinton, mas quem está por dessa organização é Paul Singer, especulador norte-americano que controla cerca de 15 bilhões de dólares em fundos de risco, que há anos compra divida de países como o Peru e Congo, para depois ganhar fortunas processando os devedores.

O valor em jogo não e muito grande. O governo argentino já aceitou negociar, e deverá pagar parte em dinheiro e parte em novos bônus.

O problema é que, em caso de acordo, outros  credores poderiam se sentir tentados a reabrir ações contra a Argentina na Justiça, mergulhando, de novo, o país, que já se encontra em dificuldades em uma nova crise da dívida.       

A situação argentina é emblemática de um mundo no qual o interesse particular se sobrepõe ao coletivo, e o sistema financeiro global sobre os estados. A iniciativa privada, os fundos e os especuladores, mesmo quando sediados em paraísos fiscais, têm sempre a "regulação" do seu lado.

Quando um banco quebra  ele é imediatamente “socorrido”. Se o mesmo ocorre com um povo,  as nações não contam com um marco regulatório definido, e ficam à mercê de um sistema distorcido e injusto, principalmente quando abrem mão de sua soberania e aceitam se submeter à justiça de outros países.

Se a Argentina entrar novamente em crise, o custo social será imenso. Mais uma vez, a decisão de Griesa mostra, que, para quem está por cima, os tribunais dos EUA funcionam, enquanto para quem está por baixo, o que vale mesmo, é a Lei do Abutre.

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