29 de ago. de 2014

A IMPRENSA OCIDENTAL E O GUETO DE GAZA


 
(Revista do Brasil) - Nas últimas semanas tem chamado a atenção, mais uma vez, a diferença de tratamento entre dois temas e dois países: a Rússia, no âmbito da crise ucraniana, e ­Israel, no contexto de seu confronto com o Hamas e a destruição física e humana da Faixa de Gaza. Moscou – cujo governo pode ter, naturalmente, seus defeitos – tem sido acusada de agir como potência agressora no país vizinho, quando, na verdade, está defendendo o último espaço teoricamente neutro que lhe restou após a queda do muro de Berlim. Quando do fim da União Soviética, e do próprio desarme nuclear da Ucrânia, os Estados Unidos comprometeram-se a não atrair os países do antigo Pacto de Varsóvia para a órbita da Otan, e, assim, não cercar, com tropas hostis, o território russo.

De lá para cá, em menos de 20 anos, várias nações, entre elas a República Tcheca, a Hungria e a Polônia, abdicaram de qualquer neutralidade e se agregaram à aliança ocidental, envolvendo a Rússia com um anel de aço. Nele, não existem apenas soldados inimigos, mas também podem ser colocados mísseis com capacidade de atingir as principais cidades do país em poucos minutos, e em menos da metade do tempo do que levariam suas armas nucleares para chegar ao território dos Estados Unidos.

Quando da “independência” da Ucrânia, em 1989, ficaram dentro de seu território milhões de russos étnicos que haviam compartilhado durante anos, com os ucranianos, a cidadania soviética. Esses cidadãos não aceitam se aliar ao “ocidente” para combater sua própria gente, sua própria história, sua própria cultura, que estão também nos territórios russos que existem do outro lado da fronteira.

Antes da queda do governo que estava no poder até fevereiro, os russos subsidiavam o gás vendido à Ucrânia, e procuravam estabelecer com ela maiores laços econômicos, para que o país não caísse totalmente sob a influência dos Estados Unidos e da União Europeia. Manobras ocidentais romperam o precário equilíbrio existente dentro da sociedade ucraniana, levaram à queda de Yanukovich e à ascensão, pela primeira vez depois da Segunda Guerra Mundial, de membros de partidos neonazistas a um governo de um país europeu. A isso, se seguiu a ocupação, por Putin, da mais russa das regiões ucranianas, a Crimeia. Por mais que a imprensa dos Estados Unidos diga o contrário, no mundo real nem o governo ucraniano nem o atual governo israelense podem ser “vitimizados”.

O magnata Petro Poroshenko chegou ao poder no rescaldo da derrubada de um governo eleito, sob um pretexto que até hoje é colocado em dúvida: a morte de civis na etapa final das manifestações da Praça­ Maidan, por policiais ligados ao regime anterior, quando, na verdade, há fortes indícios de que os tiros foram disparados por franco-atiradores neonazistas, interessados em criar um fato que servisse de “ponto de virada” na situação ucraniana.

No caso da derrubada, não do governo Yanukovich, mas do avião malaio que caiu no leste da Ucrânia, é preciso perguntar: a quem interessava o crime?

Com vários aviões de guerra abatidos nas últimas semanas, e impossibilitado de retomar, pelas armas, grandes cidades como Donetsk e Karkhov, o governo ucraniano encontra na queda de um avião civil, com grande número de passageiros ocidentais a bordo, um excelente “ponto de virada” para tentar impedir que os independentistas de etnia russa continuassem a derrubar suas aeronaves, e colocar Putin contra a parede, obrigando-o, por sua vez, a pressioná-los.

Afinal, o presidente russo acabara de marcar importantes pontos em seu jogo de xadrez contra os Estados Unidos, retornando de vitoriosa viagem à América Latina, na qual participara da criação do Banco e do Fundo de Reservas do Brics, e mostrara que tem suficiente jogo de cintura para se furtar às tentativas “ocidentais” de isolá-lo internacionalmente.

E o que teria ocorrido, caso – como disseram fontes russas – tivesse sido atingido o avião de Vladimir Putin, que cruzou a mesma rota do voo da Malaysia Airlines? Os ucranianos não teriam da mesma forma – com a ajuda da imprensa “ocidental” e como fizeram com o avião malaio – acusado os rebeldes de ter derrubado o avião presidencial russo, por engano? Em todo caso, os últimos interessados e os que tinham mais a perder com a explosão do avião da Malaysia Airlines teriam sido exatamente os russos e os rebeldes ucranianos.

Enquanto a imprensa ocidental acusa os rebeldes e, eventualmente, o próprio Kremlin,­ de ter derrubado o avião de passageiros, Obama afirma que Israel – que acusa sem confirmação o Hamas de sequestro e assassinato de três adolescentes – “está apenas se defendendo”, na Faixa de Gaza, e é acompanhado, nisso, pelos mesmos “analistas” e editorialistas que atacam o comportamento da Rússia na Ucrânia.

Há pouca diferença dessas campanhas com outras, como a que afirmou, durante anos, sem nenhuma prova, que havia armas de destruição no Iraque. A imprensa nazista passou anos recorrendo ao mesmo tipo de gente, de “analistas” raciais a “entendidos” em geopolítica, para explicar e contextualizar os perigos do judaísmo para o mundo, e a sua vinculação com os bolcheviques comunistas.

Quando a Alemanha de Hitler dominava a Europa, os nazistas costumavam matar dez reféns para cada soldado alemão que sofria um atentado. Na ofensiva de Tel-Aviv em Gaza, a mídia “ocidental” parece achar normal que a proporção de civis mortos e feridos, seja de mais de 20 palestinos para cada israelense atingido em combate ou pelos foguetes artesanais do Hamas, e que boa parte do território – com mais de 4 mil habitantes por quilômetro quadrado – já tenha sido destruída, deixando mais de 100 mil desabrigados.

Ao bombardear mulheres e velhos, meninos e meninas, apartamentos e ruas de Gaza, Israel implantou, regou e alimentou, com ossos e sangue – como faziam os nazistas com suas experiências com repolhos no campo de extermínio de Maidanek – um ódio profundo e incomensurável em nova geração de palestinos, da mesma forma que, ao destruir o Iraque, os Estados Unidos abriram caminho para Bagdá e Mossul para os terroristas da Al Qaeda.

Quando se tornar impossível a sobrevivência e a permanência, dentro das estreitas fronteiras de sua gaiola de escombros, cercada por muros e arame farpado, dos quase 2 milhões de palestinos que vivem em Gaza, será que os israelenses se inspirarão em seus algozes de um outro gueto, o de Varsóvia? Lá, judeus de toda a Europa foram amontoados, sem água, luz, comida ou aquecimento, durante meses a fio, para morrer de tifo e outras doenças contagiosas. Finalmente, foram levados para campos – como Israel pode fazer com os palestinos – se quiser, teoricamente, assisti-los “humanitariamente”.

A outra opção é entrar – como fizeram os SS do Brigadeführer Jürgen Stroop há exatamente 71 anos – com tanques e lança-chamas no meio das ruínas, no Gueto de Varsóvia, e caçar, um por um, os sobreviventes, até o último homem, mulher ou criança, como se fossem ratos.
As ações do governo israelense são muito contestadas por parte da oposição israelense e também por integrantes da comunidade judaica espalhados pelo mundo. Mas a julgar pelo noticiário da imprensa “ocidental”, essas vozes dissonantes tampouco existem.


28 de ago. de 2014

O BRASIL E OS PRÓXIMOS ANOS


 
(Jornal do Brasil) - À medida que estamos mais perto da eleição, se evidencia também a necessidade de avaliar as opções estratégicas que aguardam o Brasil nos próximos anos.   
Hoje, muita gente acha que se nos aproximarmos muito do mundo em desenvolvimento, como a América do Sul, África e as potências emergentes às quais estamos unidos no BRICS - Rússia, Índia, China, África do Sul - estaremos nos afastando cada vez mais da Europa e dos EUA.
Há, entre certos tipos de brasileiros, os que continuam cultuando apenas o que existe em Nova Iorque, Miami ou Paris, como se não existisse mais nada neste mundo, e os arranha-céus mais altos do planeta não estivessem sendo construídos – para ficar apenas no símbolo de modernidade e pujança das “skylines” que fizeram a fama dos EUA – em cidades como Moscou, Dubai, ou Xangai.
Ataca-se a China por censurar o Google, mas não se atacam os EUA por usarem a internet para espionarem e chantagearem milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo nações de quem se dizem “aliados” como é o caso do Brasil e da Alemanha.
Atacam-se os países do MERCOSUL por nos impor barreiras comerciais, mas não a Europa e os Estados Unidos por terem feito conosco exatamente o mesmo, nos últimos 200 anos, bloqueando – sempre que puderam - o desenvolvimento de tecnologia em nosso continente e absorvendo, antes e depois de  nossa independência, basicamente matérias-primas.
Muitos esquecem que o MERCOSUL, com todas suas barreiras, continua o maior, e, às vezes, o único destino para nossas manufaturas. Que só para países como a Venezuela temos aumentado nossas exportações nos últimos anos.
Isso, enquanto têm diminuído nossas vendas e nossos ganhos – e os do resto do mundo - com a Europa e os EUA, no esteio das  consequências de uma crise que já dura vários anos e que teve sua origem na desorganização e irresponsabilidade de do sistema financeiro que está sediado ao norte da linha do Equador.     
A pergunta que cabe que nos façamos nos próximos anos é a seguinte: a que mundo pertencemos?
Ao da Europa e dos EUA, que sempre nos trataram como colônia e cidadãos de segunda classe a ponto de termos tido milhares de brasileiros expulsos de seus aeroportos há pouquíssimo tempo?           
Ou ao mundo em desenvolvimento, onde a cooperação e a necessidade de agregar centenas de milhões de pessoas a uma vida mais digna abre a porta para a oportunidade da realização de acordos e negócios que podem influenciar e melhorar também nosso futuro?
Assim como ocorre na área comercial e diplomática, o Brasil precisa melhorar sua condição de negociação com os EUA e a Europa na área de defesa, usando, para isso, a perspectiva e a ameaça, sempre presentes, de  nos aproximarmos, também nessa área, cada vez mais dos BRICS.
Os Estados Unidos e a Europa sempre se mostraram refratários a transferir tecnologia sensível ao Brasil e a outras nações latino-americanas.
Os avanços conseguidos nesse campo pelos governos militares foram feitos a fórceps,  como ocorreu nas áreas bélica e aeroespacial, depois do rompimento, pelo Governo Geisel, dos acordos de cooperação com os EUA na área militar, e a aproximação com a Alemanha no campo da utilização pacífica da energia atômica.
Os países “ocidentais” só aceitam transferir um mínimo de tecnologia bélica para países como o Brasil, quando a isso se veem obrigados pelas circunstâncias.
Isso ocorre no caso em que estejamos prestes a alcançar certos avanços sozinhos – e aí eles se aproximam para “monitorar” e “medir” nossos avanços- ou se tivermos outros parceiros, como China ou Rússia – dispostos a transferir para nossas empresas, técnicos ou cientistas, esse conhecimento.
Depois do tímido esforço de rearmamento iniciado na última década, virou moda, nos portais mais conservadores, se perguntar contra quem estamos nos armando, se vamos invadir nossos vizinhos, ou, ridiculamente combater os Estados Unidos.
Muitos se esquecem, no campo da transferência de tecnologia na área de defesa, que sempre fomos tratados pelos Estados Unidos como um inimigo ao qual não se deve ajudar, em hipótese alguma, a não ser vendendo armas obsoletas ou de segunda mão.
No programa FX, de compra de caças para a Força Aérea, a BOEING norte-americana só concordou em transferir tecnologia para a Embraer – acordo que teria, antes de concretizado, de ser aprovado pelo congresso norte-americano – depois que os franceses, com o RAFALE, e os suecos, com o GRIPPEN NG BR, já tinham concordado em fazer o mesmo. E isso quando vários oficiais da Força Aérea brasileira se manifestavam nos fóruns, torcendo abertamente pelo SUKHOI S-35 russo.
O melhor exemplo do que pode ocorrer, em caso de conflito, principalmente com algum país ocidental, se dependermos da Europa ou dos EUA para nos defendermos, é o argentino.
Na Guerra das Malvinas, as mesmas empresas que, antes, forneciam armas e munição para que o Regime Militar massacrasse a população civil, em nome da “guerra interna”, das “fronteiras ideológicas” e do “anticomunismo”, deixaram de fornecer armas e peças de reposição às forças armadas daquele país, para que não fossem usadas contra a Inglaterra.
Os Estados Unidos só concordariam em fornecer armamento avançado ao Brasil, mas nunca no nível do deles, caso aceitássemos nos transformar em seus cães de guarda na América do Sul, como o faz Israel no Oriente Médio; ajudássemos a criar uma OTAN no hemisfério sul; ou concordássemos, como é o caso da Itália ou a Espanha, em participar em “intervenções” como as feitas por Washington em países como a Líbia, o Iraque e o Afeganistão, correndo o risco de  indispor-nos com milhões de brasileiros de origem árabe e de virar, de um dia para o outro, alvo de ataques, em nosso próprio território, de organizações radicais islâmicas.
Nos últimos anos, conseguimos desenvolver uma nova família de armas individuais 100% nacional, as carabinas e fuzis IA-2, da IMBEL; uma nova família de blindados leves, a Guarani, dos quais 2.050 estão sendo construídos também em Minas Gerais; desenvolvemos o novo jato militar cargueiro KC-390, da Embraer, capaz de carregar dezenas de soldados, tanques ligeiros ou peças de artilharia; voltamos a fortalecer a AVIBRAS, com a compra do novo sistema ASTROS 2020, e o desenvolvimento de mísseis de cruzeiro com o alcance de 300 quilômetros; estamos construindo no Brasil cinco novos submarinos, um deles a propulsão nuclear e reator nacional, com a França, um estaleiro e uma nova base para eles; desenvolvemos a família de radares SABER; foi fechada, com transferência de tecnologia e desenvolvimento conjunto com a Suécia, a construção em território brasileiro de 36 caças GRIPPEN NG-BR (foto); conseguimos fazer, no Brasil, a “remotorização” de mísseis marítimos EXOCET; foi fechada a transferência de tecnologia e está sendo desenvolvido, com a África do Sul, o novo míssil ar-ar A-DARTER; foram comprados novos navios de patrulha oceânica ingleses; helicópteros e baterias antiaéreas russas; e aumentou-se a aquisição e a fabricação de helicópteros militares montados na fábrica da HELIBRAS.
Esses projetos, que envolvem bilhões de  dólares, não podem, como já ocorreu no passado, ser interrompidos, descontinuados ou abandonados, nos próximos anos, pelo governo que assumir o poder a partir de janeiro de 2015.
Vivemos em um planeta cada vez mais multipolar, no qual os Estados Unidos e a Europa continuarão existindo e seguirão tentando lutando para se manter à tona contra uma lógica – e inexorável – tendência à decadência econômica, militar e geopolítica.
Nesse contexto, os EUA e a Europa têm que ser olhados por nós como potências que estão no mesmo plano, militar ou político, que a China, a Rússia, a Índia ou o próprio Brasil.
Como quinto maior país em população e extensão territorial, o Brasil tem a obrigação de negociar, e entrar no jogo, com todas essas potências, de igual para igual, e, nunca mais de forma subalterna. Sob a pena de perder o lugar que nos cabe neste novo mundo e neste novo século.    
    

27 de ago. de 2014

O CHOCALHO E A SERPENTE


 

(Hoje em Dia) - Cascavel é o quinto município mais populoso do Paraná, e o nome dado às cobras dos gêneros Crotalus e Sistrulus, que possuem um chocalho característico na cauda.

Em Cascavel, há um presídio, no qual eclodiu, há três dias, uma rebelião.

Presos ligados ao PCC denunciaram as más condições do presídio, exigiram e obtiveram a transferência de detentos para outras unidades e executaram vários reféns, decapitando um deles, e jogando outros de cima do telhado.

Com cimento, ferro e pedra, comprados pelo governo ou doados pela iniciativa privada, milhares de presos condenados, mantidos, hoje, em situação animalesca, poderiam trabalhar na construção de novas celas para o cumprimento de suas penas em condições mais dignas.

Milhares de vagas poderiam ser abertas, também, com assistência jurídica aos 40% da população carcerária que se encontram atrás das grades sem acusação formal, advogado, ou julgamento.

Enquanto pequenos “traficantes” continuam a ser presos, às dezenas, todos os dias, com 20 ou 30 pinos de ácido bórico misturado com bicarbonato e menos de 100 reais em dinheiro no bolso, transformando-se, nas prisões, em aprendizes e “soldados” de organizações criminosas, não existe sequer uma lei que proíba fumar em parques públicos, para evitar que crianças e adolescentes sejam apresentados à merla e ao crack, quando estão matando aula da escola de segundo grau da esquina.

O sistema, se quisesse, poderia ter evitado a morte dos reféns assassinados no telhado do presídio de Cascavel, jogando bombas de gás lacrimogêneo, ou atingindo, de forma não letal, com o uso de “snipers” e balas de borracha, os detentos escolhidos para o papel de executores, garantindo, assim, a sobrevivência das vítimas, que - não importa o crime que tenham cometido - se encontravam sob custódia do estado.

Mas não o fez.

Às vezes, é melhor deixar que os assassinatos e as decapitações ocorram, ao alcance das câmeras de televisão, por seu efeito “didático”.

Cenas como essas contribuem para a desumanização dos presos aos olhos da sociedade, e para que muitos justifiquem a tortura de detentos e a ocorrência de massacres como o do Carandiru. Não importa que, para isso, a Nação passe vergonha, e se evidencie, para o resto do mundo, as condições medievais que imperam em nosso país, na área prisional e de segurança, em pleno século XXI.

O que vimos em Cascavel esta semana poderia ter ocorrido, mais uma vez, em Pedrinhas, no Maranhão, ou em outras prisões em que se multiplicaram episódios semelhantes nos últimos anos.

É um símbolo da venenosa sopa que estamos cozinhando, dentro das prisões, com a mistura de preconceito, ignorância e incompetência, no trato da questão das drogas em nosso país.

É preciso saber ouvir – e interpretar - o som do chocalho da serpente, e mudar de rumo.

PAULO BERNARDO, O BNDES E O LEILÃO DE 4-G.


 
(Jornal do Brasil) - A Justiça Federal de Brasília determinou que o BNDES divulgue, em seu site, informações detalhadas sobre todos os empréstimos a empresas públicas ou privadas feitos nos últimos dez anos, e, de forma atualizada, a partir de agora. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social recorreu, alegando sigilo bancário.

Para obrigar o banco a divulgar as informações, a justiça afirma que a instituição está sujeita à Lei de Acesso a Informações Públicas.

A primeira questão que se coloca, nesse caso, é a da isonomia. Ao exigir do BNDES que libere essas informações, em um mercado no qual compete com instituições nacionais e estrangeiras, a justiça prejudica a competição, e o país, dando injustificável vantagem à iniciativa privada, que teria acesso a informações, hoje, sigilosas, sobre a política de crédito do banco, sem necesitar – apenas pelo fato de pertencer a acionistas e controladores particulares - fazer o mesmo.

O segundo problema é de caráter estratégico.

O BNDES tem, entre outras atribuições, a de financiar a exportação de serviços e equipamentos nacionais para o exterior, e, nisso, compete com instituições similares de outras nações, que, como ele, também se dedicam a apoiar empresas de seus respectivos países nos mercados internacionais.

Esses bancos estrangeiros, como o Ex-im-bank norte-americano, o JBIC  japonês, ou o BCE, que repassa recursos para diversas instituições europeias de fomento, tem suas respectivas estratégias de apoio a setores exportadores de ponta e também não tornam públicas suas informações, principalmente quando em fase de negociação de contratos.

Em alguns casos, como a exportação de armamentos e outros equipamentos estratégicos, as informações só podem ser divulgadas depois de dezenas de anos.

Se alguém acha que os EUA, a Europa, o Japão, a China, sobreviveriam nos mercados internacionais sem esse tipo de instrumento ou instituição, é ingênuo ou está mal informado.    

Seria ótimo que, no cumprimento de sua missão de apoiar o desenvolvimento e o empresariado brasileiro, o BNDES só emprestasse  dinheiro para empresas  autenticamente nacionais, e não para multinacionais estrangeiras, que tem sido beneficiadas, nos últimos anos,  com volumosos recursos públicos a baixo custo, até mesmo na hora de adquirir empresas brasileiras, como ocorreu, muitas vezes,  nas privatizações dos anos 1990.

Esse é o caso, agora, da intenção do Ministro Paulo Bernardo, de pedir ao BNDES que financie o pagamento, por operadoras de capital estrangeiro, da outorga do serviço de telefonia celular 4G, em um valor aproximado  de  8 bilhões de reais.

Normalmente, o BNDES não oferece  financiamento para o pagamento de outorgas por empresas ao governo federal, mas sim – teoricamente -  apenas para investimentos.

É preciso definir o que é e o que não é capital estrangeiro no Brasil.

Se a empresa é estrangeira, se ela envia, todos os anos, como fazem as operadoras de telefonia espanholas, mexicanas, italianas, bilhões de dólares para o exterior, se elas já pegam – como ocorreu com a Vivo,  centenas de milhões de reais para financiar, a  custo subsidiado,  a expansão de sua rede e de suas atividades no mercado nacional - o mínimo que  se espera é que tragam de fora, de suas matrizes, os recursos a serem pagos por outorgas que aumentarão extraordináriamente seus lucros, e o envio de mais dinheiro auferido dos consumidores  brasileiros, para  o exterior, nos próximos anos.

O que não podemos é continuar a usar  recursos do tesouro, ou do BNDES, para financiar empresários estrangeiros, em áreas como a de serviços de telefonia, onde a maioria dos equipamentos  são importados e a maior parte dos empregos gerados pertencem ao âmbito do que se convencionou chamar de “telemarketing”.

Entendemos, de telefonia celular, a mesma  coisa que entendiam os mexicanos, portugueses e italianos – longínquos descendentes de Marconi -  que aqui aportaram no final do século passado, para se assenhorear da maior parte de nosso mercado de telecomunicações – rigorosamente  nada.

Mas se for para não colocar um centavo e nos financiar com dinheiro do BNDES, também estaríamos dispostos a entrar nessa disputa do leilão de  4G.

Querendo dar a entender que é rigoroso com as operadoras, o Ministro das Comunicações (na foto, ao lado do risonho ex-vice presidente da ANATEL e atual presidente do grupo espanhol Telefónica do Brasil (Vivo) Antônio Carlos Valente) , afirmou que não irá postergar a realização do leilão, marcado para o próximo mês – como queriam a própria Telefónica e a Telecom Itália, que no momento estão se engalfinhando para tentar ficar com o controle da GVT.

“O governo não tem nada com isso”, afirmou. A mesma lógica deveria valer para o financiamento do pagamento das outorgas por empresas, que, em sua maioria, sequer são daqui. As multinacionais que se financiem com os recursos de suas matrizes. O BNDES não tem nada com isso, e muito menos o Brasil.

 

 

 

20 de ago. de 2014

DESTINO, POLÍTICA E DEMOCRACIA.





 
(Hoje em Dia) - A trágica morte de  Eduardo Campos, nos faz refletir, mais uma vez, sobre a implacável influência do destino na história dos povos e das Nações.

Para o homem público ou o eleitor engajado, a política tende a ser construção estratégica, que leva uma liderança ou grupo ao poder, como instrumento de mudança da realidade social e econômica de um país.

Há, também, os que incluem nessa construção, a busca do consenso para o enfrentamento das grandes questões que afetam as sociedades em um determinado momento de sua história.

Esse entendimento, essa negociação, que nem sempre se dá apenas no Parlamento, é especialmente frequente nos meses que precedem a disputa de cargos eletivos, e vai da conversa entre  eleitores no bar da esquina, à disputa pelo município, pelo Estado e pelo País, dependendo do tipo de pleito que estiver em pauta.

Ao raciocinar sobre os fatos, analistas políticos, candidatos, eleitores,  tendemos a observar a realidade à nossa volta, a tecer nossas conjecturas, e a amadurecer nossas opiniões, estabelecendo, com  maior ou menor convicção, nossas conclusões. Mas, também nos esquecemos, muitas vezes, que, além de todos e de tudo, existem outros fatores, entre eles, o imponderável.

Um ator que pode ser definitivo, dependendo da maneira como opera, corta, muda, influencia, o desenvolvimento dos acontecimentos.

A história brasileira está cheia de trágicos exemplos dessa intervenção do destino, alguns, fruto da própria história, como o suicídio de Getúlio Vargas, que a isso foi levado pela odiosa campanha movida contra ele por Lacerda, os militares golpistas, e a imprensa anti-nacional que existia na época.

Desse rol faz parte, também, a renúncia de Jânio, tão premeditada quanto desastrada em suas consequências.

Outro é o caso em que o inesperado surge e se impõe independente de qualquer interferência humana provável, como foi a doença de Tancredo, ou, agora, da morte de Eduardo Campos, que ocorreu, por triste coincidência, no mesmo dia do falecimento de seu avô, Miguel Arraes.

Jovem, inteligente, cativante, Eduardo Campos deixou numerosa família, que nos inspira os melhores sentimentos de respeito e solidaridade.

Seu desaparecimento, no entanto, da forma como se deu, interrompeu  não apenas sua própria vida e a de quem o acompanhava, mas o próprio curso político, e terá profunda influência no processo eleitoral.

Em outras épocas, uma tragédia dessa magnitude poderia trazer trágicas consequências para o país, as liberdades individuais e o estado de direito.


No Brasil de 2014, as reações à sua perda, de todo o espectro político, mostram que estamos, como sociedade, cada vez mais equilibrados, maduros e preparados, para conviver com as diferenças, em um ambiente de solidez das instituições e da própria democracia, pela qual lutaram, tantos brasileiros, incluindo aqueles que, hoje, ocupam as primeiras posições na disputa pela Presidência da República.

AS SANÇÕES RUSSAS, A UNIÃO EUROPÉIA E O ACORDO COM O MERCOSUL



(Do Blog) - Com dificuldades para fechar sua proposta comercial para o MERCOSUL, devido à resistência de seus próprios agricultores, a União Europeia está para  arranjar uma excelente desculpa para suspender as negociações.

 O processo seria suspenso devido à disposição dos países do grupo, principalmente Brasil, Argentina e Uruguai, de substituir a Europa no fornecimento de comida à Rússia, após o embargo de Moscou à importação de alimentos da 

O discurso, para consumo interno, seria o seguinte: mais uma vez, nossa aproximação com o BRICS e o Mercosul, estaria “atrapalhando” nossa inserção no mercado dos EUA e da União Europeia, e fazendo com que estejamos perdendo espaço, no comércio internacional, para a Aliança do Pacífico. 

Enquanto isso, no mundo real, nosso maior parceiro comercial não é nem os EUA nem a União Europeia, é a China, os maiores destinos para nossas manufaturas e bens de consumo são Argentina e Venezuela, nossos maiores superávits são com Pequim e Caracas, o salário mínimo mexicano equivale a 10.99 reais por dia e a “avançadíssima” Aliança do Pacífico só tem uma universidade entre as 200 melhores do mundo, a UNAM, enquanto o Brasil tem seis, e a USP, entre as primeiras 150, está à frente de qualquer universidade espanhola ou mexicana.

 

14 de ago. de 2014

A MORTE DE EDUARDO E A MEMÓRIA DE ARRAES


        
(Jornal do Brasil) - A morte de Eduardo Campos é uma dura perda para a democracia, e ocorre na mesma data de agosto em que seu avô, Miguel Arraes, faleceu, há nove anos.

        A notícia estarreceu o país. Eduardo era uma das mais marcantes lideranças da nova geração de brasileiros, e entrou para a vida pública logo após a formação universitária, como secretário particular do governador Arraes, cargo em que se destacou, e teve suas lições de política. Essa circunstância o aproximou de Aécio Neves, que também foi secretário do avô, Tancredo, e com ele aprendeu as regras básicas da vida pública.

        A sua morte complica o quadro sucessório. Quando se passarem os três dias de luto, começará, como é natural, a busca de seus votos. A singularidade das duas biografias tende a favorecer Aécio, mas não assegura,  por si só, os sufrágios. Eduardo, como é do jogo político, contava com o segundo turno – como parece certo - a fim de bem negociar seu futuro. Sua ambição era a presidência, e quem ambiciona esse cargo não conta com obstáculos, mas tampouco dispensa os acordos, quando necessário. Na política, mais do que tudo na vida, a esperança é a última que morre.

Mais do que do futuro vale lembrar os méritos de Eduardo e a importância da família na vida brasileira.  Quando Eduardo ainda não havia nascido, seu avô foi arrancado com violência de seu gabinete no Palácio das Princesas, e metido na prisão em Fernando Noronha, onde passou onze meses. Seu advogado, Sobral Pinto, impetrou pedido de habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal, que o concedeu por unanimidade. Sobral aconselhou-o a aproveitar a liberdade e partir imediatamente para o exílio. Seu destino era a França, que lhe negou asilo. Partiu então para a Argélia, onde conseguiu trabalho e viveu até a anistia. Eu o conheci quando era prefeito de Recife e o entrevistei para o Binômio, semanário de Belo Horizonte. O melhor depoimento sobre Arraes governador é uma série de reportagens publicadas neste Jornal do Brasil por Antonio Callado. A brutalidade dos senhores de engenho e a miséria dos trabalhadores rurais era tal, que Callado a resumiu em uma frase: ali, a honra, como o banheiro só existia na casa grande. As filhas dos trabalhadores da cana, como seus pais, a ela não tinham direito. Arraes incentivou Francisco Julião e suas ligas camponesas, para descobrir, mais tarde, que elas só existiam no verbo inflamado de seu pretenso líder.

          Mas conseguiu, durante seu governo, aumentar o salário dos trabalhadores dos canaviais e dos engenhos, e promover a formação dos sindicatos rurais como braço político das ligas camponesas.

           É essa tradição de vida pública, que ele soube seguir, que se interrompe com a morte de Eduardo Campos.

 

13 de ago. de 2014

AS DESCULPAS ISRAELENSES


 
(Jornal do Brasil) - O Palácio do Planalto informou, ontem, em nota, que o Presidente eleito de Israel, Reuven Rivlin, telefonou para a Presidente Dilma Roussef, e pediu desculpas pelas declarações de Yigal Palmor, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores de Israel. Esse funcionário classificou, em entrevista ao Jornal “The Jersusalem Post”, nosso país como um “anão diplomático”, após a retirada do embaixador brasileiro em Israel, para consultas, em consequencia da “desproporcionalidade” da resposta militar israelense, em seus ataques contra  a população palestina da Faixa de Gaza.

Em sua entrevista, Yigal Palmor respomdeu também à posição brasileira, com ironia,  afirmando que  “desproporcional é perder de 7 x 1”, lembrando o placar da derrota do Brasil para a Alemanha, na Copa do Mundo.

Depois do incidente diplomático com o Brasil, Israel perdeu, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, por 29 votos a um – só os EUA ficaram ao lado do governo sionista – em votação que aprovou resolução recomendando a investigação de sua atuação em Gaza.   

Além  disso, o Brasil conseguiu, na Cúpula do Mercosul de Caracas, o mais amplo apoio à sua posição com relação a Gaza, e mais três países, Chile, Peru e Equador, tomaram decisão semelhante à sua, chamando também seus embaixadores nomeados para Telaviv para consulta.    

No contato com o presidente israelense, o governo brasileiro reafirmou os laços que unem brasileiros e israelenses, há muitos anos, mas Dilma Roussef reafirmou, também, que o Brasil continua achando desproporcional a força utilizada por Israel, no contexto da intervenção em Gaza, e que continuará lutando pelo direito de palestinos e israelenses à paz, à vida e à dignidade.

Como brasleiros, recebemos e agradecemos as desculpas do novo Presidente israelense, Reuven Rivlin.

Ficaríamos, alguns de nós, no entanto, mais satisfeitos, se seu país dirigisse também seu arrependimento – ao menos in memoriam - às centenas de palestinos, inclusive mais de 400 crianças, que já não se encontram entre nós, e que morreram pelas suas armas, entre  os escombros de Gaza nas últimas semanas.

Para nós, a morte de um cidadão israelense, atingido por um foguete do Hamas, é tão grave como a morte de um  cidadão palestino, atingido por uma bomba da aviação israelita, ou pelas balas de um soldado de Israel.

Só não nos peçam para acreditar, ou aceitar, que a morte de 3 civis israelenses é tão grave como a de quase 2.000 cidadãos palestinos e a destruição de milhares de casas, escolas, ruas, hospitais, que deixou dezenas de milhares de feridos e de refugiados sem um lugar para se abrigar.

A CONTA DE GAZA



(Hoje em Dia) - Confrontado com a tragédia humanitária em Gaza, o Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou que o conflito entre Israel e o Hamas precisa ter fim, e que a ONU está disposta, “pela última vez”, a ajudar na reconstrução da área.
Na região, as coisas funcionam assim: Israel  destrói o que quer, quando quer, e depois o mundo paga a conta, até o próximo ciclo de destruição - reconstrução - destruição.
A conta em sangue de Gaza, que chegava, anteontem, a mais de 1.900 palestinos mortos, sendo 1.380 não combatentes, entre eles 423 crianças, e a milhares de feridos, é incalculavelmente cara, e, como outros massacres históricos contra a população civil,  jamais poderá ser resgatada.
Além do preço em vidas, dor, assistência médica de emergência, cuidados com pessoas que ficarão paraplégicas, tetraplégicas, e que precisarão de atenção pelo resto de suas vidas, há, ainda, o custo da reconstrução física do que está sendo arrasado pelas armas e bombas israelenses.
Há uma semana, a ONU calculava que cerca de 12.000 casas e apartamentos já tinham sido destruídos, com um prejuízo de 4.5 bilhões de dólares, mas avaliações palestinas, que incluem estradas, escolas, hospitais e  outras instalações, chegam a 6 bilhões de dólares.
Segundo Mahir Al-Tabaa, Presidente da Câmara Comercial e Industrial de Gaza, 350 indústrias teriam sido bombardeadas, incluindo 50 fábricas essenciais para a sobrevivência da população.
Israel recebe todos os anos, bilhões de dólares em ajuda norte-americana. Se fossem condenados a devolver à Organização das Nações Unidas – e o Brasil, como país membro, e contribuinte, poderia trabalhar nesse sentido – o dinheiro que a ONU irá gastar para reerguer o que destruíram, talvez, embora seja improvável, os dirigentes israelenses viessem a pensar duas vezes antes realizar novos ataques.
Mesmo contando com o apoio dos EUA, Israel sentiria, digamos, ao menos, no bolso,  a dimensão da destruição que está promovendo em Gaza.
E caso se recusasse a devolver esses recursos – como têm feito, desrespeitando, historicamente, as resoluções da ONU, organização que possibilitou-lhe a existência – a conta poderia ser apresentada aos EUA, que está armando Tel Aviv permanentemente, mesmo depois de iniciado o conflito.
Caso isso ainda não fosse possível, poderiam ser adotadas sanções e retaliações comerciais. Em último caso, o Israel seria, ao menos, moralmente, mais uma vez, condenado, por seus atos, pela maioria da humanidade.
Enquanto nos indagamos quem pagará a conta de Gaza, o que muitos palestinos se perguntam, nas tréguas intermitentes, seguidas da retomada da violência -  e depois de três agressões sionistas nos últimos seis anos - não é se poderão reconstruir suas casas, mas se seus filhos conseguirão, agora ou nos próximos anos, sobreviver à próxima bomba, ou a uma nova invasão  israelense.

DANÇANDO COM O FINANCIAL TIMES


 
(Do Blog) - Parece que Ygal Palmor, aquele do “desproporcional é 7 x 1” anda fazendo escola lá pelos lados da terra da Rainha, na hora de criar “divertidas” comparações sobre o Brasil.

Talvez inspirados pelo fato de termos sido chamados de “anões diplomáticos” pelo porta-voz israelense – cujo governo acaba, por isso mesmo, de pedir desculpas ao nosso – o ingleses do Financial Times compararam o crescimento econômico do Brasil à “dança da cordinha”, na qual, a cada volta, o participante tem que descer cada vez mais baixo.

Compreende-se a preocupação inglesa.

Em termos históricos, de 2002 a 2014, enquanto a Inglaterra passava por baixo da corda, o Brasil pulava por cima, avançando, em apenas 12 anos, da décima quarta posição, para lutar, justamente com a Grã Bretanha, pela posto de sexta maior economia do mundo por PIB nominal.

Mesmo no ano passado, se quisessem dançar com o Brasil a “dança da cordinha”, os ingleses teriam, praticamente, que se contorcer bem mais perto do chão, já que o seu PIB foi de 1.8% e o nosso, de 2.5%.

No mundo das previsões, desde a época do Oráculo de Delfos, cada um acredita no que quer.

Os ingleses escreveram sua matéria com base nas informações dos “analistas” do Boletim Focus, que raramente acertaram suas previsões nos últimos anos.

Já na opinião do FMI – em quem, nem por causa disso, se deve confiar - em 2020 o Brasil será a quinta economia do mundo, e a Inglaterra, a oitava. E em 2030, a Inglaterra, será a décima, e o Brasil ocupará o quinto lugar, entre as maiores economias do planeta.

 

11 de ago. de 2014

ALIANÇA DO PACÍFICO: SALÁRIO MÍNIMO NO MÉXICO ESTÁ ABAIXO DA LINHA DE POBREZA - Trabalhadores ganham menos de 11 reais por dia.


(Do Blog) - Para os que adoram citar as “maravilhas” da Aliança do Pacífico, o México, que, nunca é demais lembrar, cresceu a metade do Brasil no ano passado, é o único país da América Latina em que o salário mínimo está situado abaixo da linha de pobreza. A informação é da CEPAL, que fez um estudo sobre a base de remuneração vigente nos países da região e sua influência no combate à desigualdade.  

As principais conclusões do estudo são que, em países como a Argentina, o Brasil, o Chile e o Uruguai, salários mínimos mais fortes, aumentados progressivamente, além de não prejudicar a criação de empregos, melhoram a distribuição de renda, fortalecem o consumo e o mercado interno, combatem a desigualdade e aumentam a formalização dos trabalhadores.

O levantamento também mostra que a Costa Rica é o país que está melhor nesse aspecto, com um salário mínimo de 3,18 vezes a renda que equivale à linha de pobreza, e o México, o que está pior, com um salário mínimo um pouco abaixo da linha de pobreza.

Comentando as conclusões da CEPAL, Miguel Angel Mancera, que chefia o executivo da Cidade do México, afirmou que o país,  no qual a maior parte dos trabalhadores se encontra na informalidade,  está vivendo “um novo processo de precarização do emprego”, e José Narro, reitor da UNAM, Universidade Nacional Autônoma do México,  lembrou que “é preciso aprofundar a distribuição da riqueza e equilibrar a macro e a micro economia, com a participação de todos os setores sociais, para combater a desigualdade e a pobreza”.

Para quem acha que a situação está muito ruim no Brasil, um deputado federal ganha, por mês, 148.446 pesos no México, e um trabalhador que recebe salário mínimo  - o meme que ilustra o post é do ano passado - leva para casa, atualizados, na área geográfica "A", 67.29 pesos, e, na área geográfica "B", 63.77, ou, no câmbio de ontem, 10.99 reais por dia. E depois dizem que os escravos estão na China.
Ainda sobre os salários a desigualdade no México, aqui no blog:

http://www.maurosantayana.com/2014/03/o-gato-e-lebre-o-mexico-e-um-pais-pobre.html

 
Para outras informações, escrever México em nosso campo de busca.
 
 

10 de ago. de 2014

DEU A LOUCA NOS GRINGOS


 
(Do Blog) - O BRICS, com sua recente cúpula no Brasil, deve estar realmente deixando os Estados Unidos loucos. A CNN, em matéria recente sobre uma ataque de vespas gigantes na China, que matou 42 pessoas, não teve dúvidas, e, na hora de mostrar a localização do país de Mao Tsé Tung e de Hong Kong, situou a ex-colônia britânica, e atual província chinesa, mais ou menos na altura do Rio de Janeiro.

É certo que China e Brasil estão no mesmo grupo, e são o maior e o quarto maior credores individuais externos dos EUA, mas a cadeia de televisão, tão pródiga em abrigar a nata, ou a espuma, se quiserem, do jornalismo conservador e anticomunista latino-americano, errou pela “pequena” distância, em linha reta, de apenas 16.633 quilômetros.

8 de ago. de 2014

O CAMPO E OS BRICS


 
(Jornal do Brasil) - Moscou anunciou, ontem, como consequência da imposição, pela Europa e os Estados Unidos, de três grupos de sanções contra a Rússia, a proibição, a partir do dia 8 de julho de 2014, e pelo período inicial de um ano, da importação de alimentos oriundos da União Europeia e dos EUA. A medida, que abarca carne bovina, peixes, mariscos, frutas, legumes, verduras, carne de frango,  leite e derivados, atinge também as exportações da Austrália, do Canadá e da Noruega, e poderá ser estendida, como afirmou o Presidente Vladimir Putin, a "todos os países que decidiram impor sanções econômicas a entidades e/ou indivíduos russos, ou que se tenham associado a elas".
Se essa decisão é má notícia para os agricultores europeus, que vendem 11 bilhões de euros, ou 10% de suas exportações, para o mercado russo, e, em menor medida, também para os norte-americanos, ela pode ser excelente para outros países, e, principalmente, para o Brasil.
Quando veio ao Brasil em julho, o Putin já havia anunciado - assim como fez também a China - a retomada das importações brasileiras de carne bovina. Agora, o Ministro da  Agricultura da Rússia, Nikolai Fiorodov, acaba de anunciar que as importações de carne passarão a ser da Nova Zelândia e do Brasil - que deverá exportar também 150 mil toneladas de frango a mais.
O Diretor do Serviço de Inspeção Sanitária e Agrícola russo, Serguei Dankvert, se reuniu com diplomatas brasileiros (carnes) , chilenos (frutas e peixes) e equatorianos (peixes e carne) para detalhar as oportunidades de exportação.   
Mais uma vez, é preciso tomar cuidado com os cantos de sereia do “ocidente”.
O agronegócio brasileiro conhece, há anos, as múltiplas facetas do protecionismo europeu na área de alimentos, que vai da mera taxação da mercadoria, à restrição de cotas, barreiras sanitárias de todo tipo, e fartos subsídios para a sua agricultura e suas exportações, que subtraem e sabotam a competitividade de nossos produtos em várias regiões do mundo.
Por um lado, os europeus falam de “livre comércio”, mas atrasam o fechamento de sua proposta ao MERCOSUL no contexto das negociações comerciais em curso; diversos países predominantemente agrícolas recentemente incorporados ao euro colocam obstáculos ao acordo; e diversos  setores da agricultura europeia, reunidos em organizações como a COPA e a COGECA, lançam manifestos contra qualquer acordo com os nossos países.
Para o agronegócio brasileiro, é fácil raciocinar: é melhor aproximar-se de um dos maiores importadores de alimentos do mundo, que é a Rússia, e da China e da Índia, países que estão crescendo mais de 5% ao ano, e incorporando dezenas de milhões de pessoas ao consumo a cada ano – todos eles nossos parceiros no BRICS?
Ou investir tempo e energia com a Europa, um continente no qual a curva demográfica é descendente, o crescimento está estagnado e a população se encontra em acelerado processo de envelhecimento?
Um continente que é o maior exportador mundial de alimentos, e que concorre diretamente conosco, subsidiando direta e indiretamente seus produtos no mercado internacional?
 
Na hora de negociar, não devemos bater a porta na cara de ninguém. Mas não podemos perder de vista, nem os nossos interesses, nem a lógica, nem a razão.