27 de ago. de 2014

O CHOCALHO E A SERPENTE


 

(Hoje em Dia) - Cascavel é o quinto município mais populoso do Paraná, e o nome dado às cobras dos gêneros Crotalus e Sistrulus, que possuem um chocalho característico na cauda.

Em Cascavel, há um presídio, no qual eclodiu, há três dias, uma rebelião.

Presos ligados ao PCC denunciaram as más condições do presídio, exigiram e obtiveram a transferência de detentos para outras unidades e executaram vários reféns, decapitando um deles, e jogando outros de cima do telhado.

Com cimento, ferro e pedra, comprados pelo governo ou doados pela iniciativa privada, milhares de presos condenados, mantidos, hoje, em situação animalesca, poderiam trabalhar na construção de novas celas para o cumprimento de suas penas em condições mais dignas.

Milhares de vagas poderiam ser abertas, também, com assistência jurídica aos 40% da população carcerária que se encontram atrás das grades sem acusação formal, advogado, ou julgamento.

Enquanto pequenos “traficantes” continuam a ser presos, às dezenas, todos os dias, com 20 ou 30 pinos de ácido bórico misturado com bicarbonato e menos de 100 reais em dinheiro no bolso, transformando-se, nas prisões, em aprendizes e “soldados” de organizações criminosas, não existe sequer uma lei que proíba fumar em parques públicos, para evitar que crianças e adolescentes sejam apresentados à merla e ao crack, quando estão matando aula da escola de segundo grau da esquina.

O sistema, se quisesse, poderia ter evitado a morte dos reféns assassinados no telhado do presídio de Cascavel, jogando bombas de gás lacrimogêneo, ou atingindo, de forma não letal, com o uso de “snipers” e balas de borracha, os detentos escolhidos para o papel de executores, garantindo, assim, a sobrevivência das vítimas, que - não importa o crime que tenham cometido - se encontravam sob custódia do estado.

Mas não o fez.

Às vezes, é melhor deixar que os assassinatos e as decapitações ocorram, ao alcance das câmeras de televisão, por seu efeito “didático”.

Cenas como essas contribuem para a desumanização dos presos aos olhos da sociedade, e para que muitos justifiquem a tortura de detentos e a ocorrência de massacres como o do Carandiru. Não importa que, para isso, a Nação passe vergonha, e se evidencie, para o resto do mundo, as condições medievais que imperam em nosso país, na área prisional e de segurança, em pleno século XXI.

O que vimos em Cascavel esta semana poderia ter ocorrido, mais uma vez, em Pedrinhas, no Maranhão, ou em outras prisões em que se multiplicaram episódios semelhantes nos últimos anos.

É um símbolo da venenosa sopa que estamos cozinhando, dentro das prisões, com a mistura de preconceito, ignorância e incompetência, no trato da questão das drogas em nosso país.

É preciso saber ouvir – e interpretar - o som do chocalho da serpente, e mudar de rumo.

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