(Hoje em Dia) - Com a lucidez e elegância de estilo que lhe são habituais, o Professor Delfim Netto publicou artigo, na semana passada, com o nome de “uma nota de três em circulação”, abordando os riscos da diminuição do número de operadoras no mercado nacional, com graves prejuízos para o usuário de serviços de internet, telefonia e transmissão de dados no Brasil.
Como já dissemos anteriormente, por trás do que “analistas” saúdam, nos jornais, como “consolidação”, está o desejo de César Alierta, principal executivo da Telefónica da Espanha - segundo publicou o jornal espanhol El Pais - de “mandar” no mercado brasileiro, convencido “pela tíbia oposição do governo e dos reguladores”, de que se caminha, inexoravelmente, para uma diminuição do número de empresas no mercado, das cinco atuais, para apenas três.
César Alierta, dá a entender também o El Pais, acredita, há anos, que o Brasil é a galinha dos ovos de ouro do mercado global de telecomunicações, e por isso, estaria empenhado a disputá-lo, a ferro e fogo, com concorrentes como o dono da Claro, Carlos Slim.
Para isso, desrespeitando as leis que regulam a competição em nosso país - ou, quem sabe, confiando na “tibieza” das autoridades do setor - comprou parte da Telecom Itália, para tentar “concorrer” consigo mesmo, controlando duas operadoras, a Vivo e a TIM, simultaneamente, no Brasil.
Como houve resistência a essa manobra, ele lançou, agora, uma oferta bilionária pela compra da francesa GVT.
Com a saída da GVT, que muitos consideram a melhor em banda larga, a Telefónica espanhola se livraria de um grande competidor, ganharia bilhões de euros em “sinergias” e se distanciaria, na liderança, de seus concorrentes, passando a “mandar”, de fato, no Brasil.
O Professor Delfim Netto termina assim o seu artigo:
“A defesa da competição está inscrita na Constituição de 1988. Cabe às instituições regulatórias e de defesa do consumidor aplicá-la e dar estabilidade e previsibilidade ao jogo competitivo, ao mesmo tempo em que devem exigir que todos os atores respeitem os limites que elas lhes impõem. Alegar a necessidade de concentração para “estimular o aumento dos investimentos em tecnologia e produzir mais inovação”, é uma afirmação tão verdadeira como uma nota de R$ 3.”
Como mostra a disputa eleitoral, não há mais distinções entre a política e a economia.
Entender como as grandes empresas, principalmente as estrangeiras, disputam, repartem, controlam, dominam, os mercados de cada país, em setores essenciais para o desenvolvimento e a soberania das nações, como a telefonia deveria ser do interesse político de todo cidadão consumidor.
Quando diminui a concorrência somos nós, todos nós, que ficamos expostos a ser “depenados”, em troca de serviços de qualidade discutível, para que os lucros sigam sendo despachados, aos bilhões, todos os anos, para matrizes de empresas estrangeiras no exterior.
Até quando seremos complacentes?
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