30 de dez. de 2014

O BRASIL, O "PETROLÃO" E O TRIANGULO DAS BERMUDAS.



(Revista do Brasil) - Nas ultimas semanas, o Brasil tem vivido sob o impacto das notícias da "Operação lava-Jato", que,  em busca de associar ao Mensalão, muitos chamam de Petrolão, esquecendo-se de que, enquanto se eleva esse novo escândalo ao posto de "o maior da história", outros parecem ter se escafedido em um imenso Triangulo das Bermudas, como se tivessem sido reduzidos a pedacinhos pelas lâminas de Freddy Krueger, ou abduzidos por alienígenas. 

Esse é o caso, por exemplo, do "Mensalão do PSDB" - perpetrado, de forma pioneira, com a ajuda do mesmo Marcos Valério, durante o governo do Sr. Eduardo Azeredo, em Minas Gerais. 

Esse é o caso do "Escândalo do Banestado", de desvio de mais de  100 bilhões de reais para o exterior, no qual foram indiciados vários personagens ligados ao governo FHC, incluído o Sr. Ricardo Sérgio de Oliveira, "arrecadador" de recursos de campanhas do PSDB, perpetrado, entre 1996 e 2002, também no Paraná, com a ajuda do mesmíssimo "doleiro" Alberto Youssef,  do atual escândalo da Petrobras.  

Esse parece ser também o caso, do Trensalão  do PSDB de São Paulo, que, apesar de ter tido mais de 600 milhões de reais das empresas envolvidas bloqueados pela justiça no dia  13 de dezembro, parece ter sido coberto por um Manto da Invisibilidade digno de Harry Potter, do ponto de vista de sua repercussão. 

Seria ótimo se - hipocrisias à parte - o problema do Brasil se resumisse apenas a uma briga entre "bonzinhos" e "malvados". 

Está claro que temos aqui, como ocorre em muitíssimos países, bandidos recebendo propinas no desvio de verbas públicas, atuando como "operadores" e facilitadores no trabalho de tráfico de influência, no superfaturamento e na "lavagem" de dinheiro e no envio de recursos para o exterior.  

E também empresários que se acostumaram, com o tempo, a pagar ou a ser extorquidos, a cada obra, a cada licitação, a cada aditivo de contrato, pelos "intermediários" e oportunistas de sempre, e que já sofrem sucessivas paralisações, atrasos e adiamentos nas grandes obras que executam, que ocorrem devido a razões que muitas vezes escondem interesses políticos que nem sempre correspondem aos do próprio país e da população.  

E padecemos, finalmente, ainda, da falta de coordenação e entendimento, entre os Três Poderes da República, em torno dos grandes problemas nacionais. 

Leis, projetos e obras que são essenciais para o futuro do País, não são discutidas previamente entre Executivo, Legislativo e Judiciário, antes de serem encaminhadas para aprovação e execução, o que acaba levando, nos dois primeiros casos, a relações de pressão e contrapressão que acabam descambando no fisiologismo e na chantagem e que afetam, historicamente, a própria governabilidade.        

Na contramão do que imagina a maioria das pessoas, com algumas exceções, ao contrário dos corruptos e dos "atravessadores", os homens públicos - incluindo aqueles que trabalham abnegadamente pelo bem comum - estão muito mais preocupados com o poder, para executar suas teses, ideias e projetos, ou apenas exercê-lo, simplesmente , do que com o dinheiro.  

No embate político, ter recursos - que às vezes chegam de origem nem sempre claramente identificada, pelas mãos de "atravessadores" que se oferecem para "ajudar" -  é essencial, para conquistar o poder, na disputa eleitoral, e nele manter-se, depois, ao longo do tempo.  

Esse é o elemento mais importante da equação. Mas ele só começará a ser resolvido se houver uma reforma política que proíba, definitivamente, a doação de dinheiro privado a agremiações políticas e candidatos a cargos eletivos, promova a cassação automática de quem usar Caixa 2 e aumente a fiscalização do uso dos recursos partidários ainda durante o período de campanha.  

Por mais que sejam importantes, e impactantes, as prisões dos corruptos envolvidos no escândalo da Petrobras e a recuperação dos recursos desviados, se não for feita uma reforma política, de fato, elas não impedirão que mais escândalos ocorram, no financiamento de novas campanhas, já nas próximas eleições. 

28 de dez. de 2014

O BEBÊ E A BACIA


(Hoje em Dia) - O senhor Robson Andrade, presidente da CNI, afirmou nesta semana que as denúncias que envolvem algumas das maiores construtoras do Brasil são pontuais e que a investigação e eventual punição desses atos não pode inviabilizar a continuidade de sua atuação em benefício do país.

Grandes empresas são estratégicas para qualquer nação. Se não fosse o trabalho de construtoras como a Mendes Júnior, na década de 1970, em países como o Iraque e a Mauritânia, com a ida para lá de milhares de técnicos e operários brasileiros, para construir ferrovias, rodovias e obras de irrigação, o Brasil não teria conseguido, naquela ocasião, enfrentar a crise do petróleo.

Não existe grande nação que não tenha grandes empresas e grandes bancos para apoiá-las, dentro e fora de seu território, na disputa com empresas e bancos de outros países.

A Suíça e a Nestlé e os seus bancos; os EUA e a IBM, a Boeing, a Northrop, a Microsoft ou a Monsanto; a Alemanha e a Bayer, a Basf, a Siemens, a Volkswagen; a Itália e a Fiat , a ENI, a Benetton e a Beretta; a Espanha e a Repsol, o Santander e a Telefónica. Nem uns existiriam sem os outros, nem nenhum deles são santos.

A diplomacia e a estrutura pública desses países e suas grandes empresas sempre se ajudaram mutuamente, para a conquista do mundo.

No Brasil ocorre o contrário.

Independentemente das investigações em curso, nos últimos anos parece que é pecado, ou proibido, que nossos bancos públicos, como o BNDES, a exemplo do que fazem os Eximbanks dos EUA e da Coreia do Sul; o Deustche Bank da Alemanha; a JFC e o JBIC do Japão, financiem e apoiem a expansão de empresas como a JBS-Friboi, a BRF, a Vale, a Totus, a Gerdau, e construtoras como a Odebrecht – que atua em dezenas de países do mundo – dentro e fora do Brasil.

Houve corrupção na Petrobras?

Que corruptos e corruptores sejam punidos. O que não se pode é paralisar e quebrar algumas das maiores empresas de capital nacional, porque, nessa hipótese, quem mais perderá será o Brasil.

Arrebentar com a competitividade do país na área de infraestrutura e construção pesada, destruindo alguns dos principais instrumentos estratégicos que temos para aumentar nosso poder e projeção no exterior, e mais particularmente, na África e América Latina – nosso espaço imediato de influência – é o mesmo que jogar pela janela a água suja da bacia, junto com o bebê que estava tomando banho, ou amputar os dois pés para combater uma infecção de unha.

Todos os grandes países do mundo combatem a corrupção de suas empresas. E – não sejamos hipócritas – muito mais a corrupção interna, realizada em seu próprio território, do que a externa, em território alheio.

Mas nenhum desses países deixou de apoiá-las com negociações e financiamento lá fora. Ou de exportar produtos, serviços e mão de obra por meio delas. Ou de usá-las, principalmente dentro e fora de suas fronteiras, para defender sua estratégia e seus interesses.

25 de dez. de 2014

VIM



Alados seres murmuraram meu nome,

e um brilho tênue anunciou-me antes,

entre milhões de outros,

na noite coalhada de cometas 

e estrelas,

estendida como um manto

sobre o vento e a areia.


Vim,

como muitos

antes de mim.


Para admirar-me

com as nuvens

e o correr do Sol e dos rios,

os lagartos e os peixes,

as serpentes e os escorpiões,

os trovões e os lagos,

e o egoísmo,

a violência e a injustiça

dos corações humanos.


Vim

para falar daqueles

que pisam sobre os outros,

dos que acumulam

riquezas e certezas

e se regozijam sobre fartas mesas,

enquanto seus escravos 

quase nada comem.


Vim para contar de golpes 

e de faces. 


De moedas, agulhas,

e camelos.


De peixes,  redes,

tempestades.


Da morte, 

do medo e da vontade.


De demônios e imperadores,

e reinos nunca vistos antes.


Se és daqueles que matas, 

discriminas,

calunias,

desprezas,

torturas, 

mentes,

enganas,

e roubas

em meu nome,

minha mão te espera,

ensanguentada e em chagas,

e não escaparás dela,

por mais que tenhas 

vestes e templos,

lanças e armaduras,

incenso ou ouro.


Se és daqueles 

que se satisfaz,

quando assaltas e tiras a vida,

e espancas teus irmãos e tuas irmãs,

e teu bastão 

se abate contra os indefesos,

e teu chicote 

corta a carne dos mais fracos,

em porões e prisões

como aquela em que estive um dia,

minha mão te espera,

ensanguentada e em chagas,

e será pesada,

por mais que carregues

escudos, 

correntes e espadas.


Se afirmarem que minhas ideias 

estão mortas, estarei vivo.


Se disserem  que estou fraco,

estarei mais forte.


Se falarem que ando com 

príncipes e ricos,

me encontrarão entre os desprezados,

no meio dos loucos e dos leprosos,

dos rebeldes e dos pobres.


Se és cruel,

hipócrita e injusto, 

cuida e teme.


Do alto da cruz,

meus olhos te contemplam.

E a alma em meu peito ainda geme,

suspira e luta,

enquanto meu coração, 

indignado,

treme.



24 de dez. de 2014

OS LIMITES DA LEI


(Jornal do Brasil) - O Senador Aécio Neves acaba de obter, na Justiça de São Paulo, importantíssima e histórica vitória, que não é apenas dele, como cidadão, mas da democracia, de modo geral,  em nosso país. 

O Juiz  Helmer Augusto Toqueton Amaral determinou a quebra do sigilo cadastral de 20 usuários do Twitter que, em mensagens divulgadas nessa plataforma digital, tentaram vincular o senador mineiro à prática de ações criminosas e ao uso de entorpecentes.

A atitude do Senador Aécio Neves e a decisão do Juiz Helmer Torquato deveriam servir de exemplo para outras personalidades políticas e outros magistrados em nosso país.

A Presidente Dilma Roussef tem sido chamada de assaltante de banco e de assassina - entre outros  ataques muito piores de caráter pessoal - sem que tenha  sido acusada disso, ou tenham sido apresentados qualquer prova ou indício nesse sentido, sequer no período em que esteve presa pela ditadura militar. 

José Genoíno tem sido insistentemente acusado de ter esquartejado pessoalmente vítimas no episódio da Guerrilha do Araguaia, sem que nada tenha sido provado contra ele quando foi preso no Pará. 

O ex-presidente Lula tem sido guindado à posição de dono de bilionários grupos econômicos privados, e nenhum deles, nem Dilma, nem Genoíno, nem Lula, sem falar em homens públicos de outros partidos, adotou a atitude corajosa que assumiu Aécio Neves, agora, ao encarar de frente e processar seus detratores, respondendo decisivamente a ataques dos quais tem sido vítima, há anos, na internet.

Ora, quem cala, consente, diz o dito popular. E uma mentira, se repetida indefinidamente, acaba por se transformar em verdade absoluta, como afirmava o acólito de Hitler Josef Goebbels, Ministro da Propaganda do III Reich.

Se há calúnias, não contestadas, que agridem, além do bom senso, apenas e diretamente as suas vítimas, mais graves, ainda, são os crimes de incitação ao racismo, à tortura, ao assassinato, à violência e ao golpe de Estado, que também tem sido perpetrados, impunemente, não apenas no Twitter, mas também no Facebook, no Google +, no Youtube e nos principais portais e meios de comunicação do país, em postagens e em comentários, sem nenhum controle por parte de "moderadores" ou do Judiciário.

A Lei 7.170 é  clara, e define como "crimes contra a Segurança Nacional e a Ordem Política e Social, manifestações contra o atual regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito." 

Cabe aos cidadãos de bem e a organizações como a OAB, denunciar os ataques que tem sofrido a democracia, e ao  Ministério Público e ao Judiciário, como um todo, atuar na linha de frente da defesa da Constituição e das instituições.  

Os absurdos que são escritos nos sites nacionais a cada momento - alguns chegam a ser constrangedores, pela vilania, ignorância, baixeza, vulgaridade e sordidez - são a prova maior de que vivemos claramente em uma nação em plena vigência do Estado de Direito, com a mais ampla liberdade de expressão e de opinião.       

Esses direitos, no entanto, não se aplicam à calúnia, ao racismo, e à apologia do golpismo, venha este de onde vier, com ataques ao regime democrático e à ordem constitucional.

A Lei dispõe de meios e de instrumentos, que precisam  começar a ser utilizados, para impor limites e punições a esse tipo de crimes. 

É preciso coibir a irrestrita farra de incitação à mentira, ao ódio e à violência, que tem se disseminado, até agora, impunemente, na internet brasileira.

21 de dez. de 2014

ENQUANTO MUITA GENTE CORRE DELAS, UM DOS HOMENS MAIS RICOS DO MUNDO MULTIPLICA SUA COMPRA DE AÇÕES DA PETROBRAS.


(Do Blog) - Enquanto, no Brasil, aplicadores correm da Petrobras, grandes investidores estrangeiros, confiantes em fatos como a inauguração da Refinaria Abreu e Lima, com capacidade para processar 230.000 barris de combustíveis e derivados por dia, já no primeiro trimestre de 2015; e a constante expansão da produção do pre-sal, estão aproveitando os baixos preços das ações da empresa, para fazer compras maciças que poderão lhes render bilhões de dólares em ganhos no futuro. 

George Soros, um dos homens mais ricos do mundo, aumentou em 84% a compra de ações da Petrobras, de junho para cá.  

Será que ele,  com uma fortuna pessoal de mais de 24 bilhões de dólares, está errado ao apostar na Petrobras? 

Na época da campanha para a última eleição, espertos fizeram fortunas, da noite para o dia, "jogando" com o sobe e desce das bolsas, ao ritmo da divulgação das pesquisas e das notícias dos jornais, enquanto incautos se desfaziam de ações de primeira linha, deixando de usar a cabeça, para se deixar influenciar pelo comportamento de "manada" e pela desinformação. 

Ao contrário do que muita gente acha, a campanha contra a Petrobras que está em curso - que não pode ser confundida com as investigações de corrupção na empresa - não vai quebrar a maior companhia brasileira nem tirar, por si só,  o atual governo do poder. 

Ela irá, apenas, aumentar a participação de estrangeiros na Petrobras, aproveitando a queda de preço das ações, já que eles não se deixam contaminar pelo "clima" reinante em alguns segmentos da opinião pública.

Como exemplo dessa contradição entre alguns investidores brasileiros e estrangeiros do ponto de vista da confiança no Brasil, vale lembrar a recente decisão da Jaguar e da Land Rover, de instalarem suas primeiras fábricas fora da Inglaterra por aqui; ou a da Nestlé Mundial de construir a sua primeira indústria de cápsulas de café das Américas em Montes Claros, Minas Gerais. 

Se as perspectivas no mercado brasileiro estão tão ruins, por que não foram para a Colômbia, por exemplo, que oficialmente está crescendo muito mais neste ano, e é membro do conhecido "factoide" Aliança do Pacífico?

Por falar em AP, nos oito primeiros meses deste ano, segundo a CEPAL, o Investimento Estrangeiro Direto caiu em 18%, no México, para pouco mais de 9 bilhões de dólares, enquanto aumentou 8%, para quase 50 bilhões de dólares, no Brasil.

Pesquisa divulgada esta semana pela FIRJAN - Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, mostra que 47% dos empresários entrevistados vão manter seus investimentos em 2015, e que outros 41% pretendem aumentá-los no ano que vem.

    



    

18 de dez. de 2014

A POLÍTICA E AS BACTÉRIAS



(Hoje em Dia) - Quando alguém se declara “apolítico”, ou diz que “odeia a política”, nos lembramos de que a palavra política deriva de Politeía, vocábulo relativo a tudo que acontecia nas antigas Polis, cidades-estado gregas, e da velha constatação aristotélica de que “o homem é um animal político”.


Querendo ou não, todo ser humano participa, no convívio, no aprendizado e no debate com outros seres humanos, da atividade política, mesmo quando não exerce nenhum cargo público, se assume “apolítico” e declara o seu “ódio” à política.


A política, como ocorre com Deus, para a maioria das religiões, está em todas as coisas, das maiores às que são aparentemente mais ínfimas.


Um estudo que acaba de ser divulgado pelo governo britânico, alerta que as superbactérias matarão, em poucos anos, mais que o câncer, e que o custo de seu tratamento chegará a 100 trilhões de dólares nas próximas décadas.


Foi a economia no combate à infecção hospitalar e a ausência de fiscalização rigorosa em hospitais públicos e privados, assim como o incentivo, durante anos, do uso indiscriminado e desnecessário de antibióticos em diversos países do mundo, incluído o Brasil, que deu origem à transformação destes organismos.


E é a mesma ausência de fiscalização e controle que está fazendo com que novas gerações de bactérias resistentes mesmo aos mais modernos medicamentos estejam ultrapassando os limites dos hospitais e postos de saúde, ameaçando transformar-se em uma pandemia, atingindo diretamente a população.


A Fiocruz, que já havia detectado, antes, por duas ocasiões, superbactérias no esgoto lançado clandestinamente, no rio Carioca, no Rio de Janeiro, acaba de anunciar que detectou sua presença também na água do mar, nas praias do Flamengo e de Botafogo, com possibilidade de que se multipliquem e acabem chegando ao Leblon, Copacabana e Ipanema.


Que turistas e banhistas deixem de frequentar o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, que as crianças não possam mais se sentar na areia, ali ou no vizinho bairro de Botafogo, que a Cidade Maravilhosa possa transformar-se, de chamariz, em ameaça para milhões de turistas que a visitam, é um absurdo.


A poluição de nossos rios e lagos, com a diminuição da oferta de água potável à população, e agora da orla marítima da segunda cidade do país, é uma questão ambiental, mas, como muitas outras mazelas de nosso país, também uma questão política, e tem que ser enfrentada com determinação e rapidez.


A população carioca deve mobilizar-se e exigir que os responsáveis sejam punidos e que o esgoto hospitalar seja tratado totalmente nos próprios locais em que é produzido.

Não se trata apenas de uma questão de saúde. Se houver uma epidemia, milhares de empregos e empresas estarão em risco, assim como as Olimpíadas de 2016. 

GOLPISMO, "COMUNISMO", HIPOCRISIA E REFORMA POLÍTICA.



(Revista do Brasil) - Nas últimas semanas, insatisfeitos com o resultado das eleições, golpistas que nos últimos anos praticavam seu ódio à democracia e às instituições pela internet têm convocado caminhadas pelo país, pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff ou intervenção militar. 

Para tentar derrubar o governo, os novos golpistas fazem como fizeram os que os antecederam na história brasileira, que praticamente mataram Getúlio em 1954, tentaram inviabilizar Juscelino Kubitschek em 1955 e derrubaram João Goulart em 1964.

Apelam para o tosco, velho e surrado discurso anticomunista da época da Guerra Fria, que justificou crimes como os milhares de civis mortos e torturados no Chile, na Argentina, na Indonésia, e em conflitos prolongados e estéreis como a Guerra do Vietnã.

Dizer que é comunista um país em que o sistema financeiro lucra bilhões, em que as multinacionais fazem o mesmo e remetem fortunas para o exterior, em que qualquer cidadão pode montar um negócio a qualquer momento, com ajuda do governo e de instituições, como o Sebrae, e em que nossos armamentos são produzidos em estreita cooperação com empresas inglesas, norte-americanas, francesas, suecas, israelenses, é tremenda hipocrisia.

À oposição institucional cabe também agir com responsabilidade. Caso fosse adiante um pedido de impeachment, ou caso viesse a ser impedida por outras manobras a diplomação de Dilma Rousseff, a ascensão do vice Michel Temer à Presidência da República corroeria, em vez de ajudar, as chances de Aécio Neves de chegar ao Palácio do Planalto em 2019. E na remotíssima possibilidade de os golpistas terem sucesso por outros meios, jamais entregariam o poder ao ex-governador mineiro. Os mais radicais o desprezam e desconfiam de seu discurso anti-petista.

O problema do Brasil não é comunismo, como apregoam essa minoria extremista e alguns golpistas de plantão, em seus comentários nos portais e redes sociais. O que põe a opinião pública em estado de perplexidade é a corrupção. Esse mal nasce de uma acumulação histórica de defeitos no universo político, como o clientelismo e o fisiologismo, que vêm desde o Brasil Colonial. Sua raiz está na busca permanente do poder, por partidos e candidatos, e da necessidade de fontes de financiamento para suas campanhas. No caso da Petrobras, o próprio Ministério Público declarou que o esquema funciona desde 1999 – logo, ainda antes da chegada do PT ao poder.

Quando das manifestações de junho de 2013, Dilma lembrou a necessidade  de reformas que tirassem o país da dependência desse quadro de relações incestuosas entre o governo e o Congresso, e de se criarem mecanismos que permitissem maior espaço para a população manifestar seus anseios e interesses. Suas teses, no entanto, não prosperaram no Legislativo. Agora, que a reforma política volta à tona, o que importa é saber se teremos uma de fato, ou se uma reforma de faz de conta, comandada pelos grupelhos de sempre, com mudanças cosméticas para enganar a população.

O caixa dois não é mais do que uma extensão do financiamento eleitoral privado, e legal. O menos citado caixa um, que poderia ser suprimido por meio do financiamento público de campanhas, como prevê a proposta de reforma política defendida por entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e tantas outras entidades e movimentos com representação em amplos setores sociais.

No meio desse processo estão pilantras que aparecem para viabilizar “negócios” e “acertos”, extorquem recursos de empresas e irrigam, com parte dos recursos auferidos, candidatos e partidos. Eles não agem em nome do interesse público ou partidário, não são “azuis” ou “vermelhos”, nem “golpistas” nem “comunistas”. Se existisse um termo exclusivo para defini-los, seria simplesmente “corruptistas”, ladrões que se aproveitam das distorções históricas do atual sistema político.



12 de dez. de 2014

O MÉXICO E A AMÉRICA DO SUL


A consolidação da UNASUL, a morte do “ibero-americanismo”, e o velho acordo dos porcos com as galinhas para vender ovos com bacon.


(Jornal do Brasil) - Incendiado pelos protestos contra o desaparecimento, tortura e assassinato de 43 estudantes de esquerda por um prefeito direitista e corrupto do estado de Guerrero, aliado a narcotraficantes, o México encerrou, esta semana, na cidade portuária de Veracruz, a XXIV Cúpula Ibero-americana, que foi, como as edições anteriores desse evento criado por mexicanos e espanhóis na década de 90, para tentar ampliar sua influência na América Latina, um rotundo fracasso, marcado pela ausência de numerosos chefes de estado, entre eles os da Argentina, Brasil, Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela, por parte da América do Sul.

Conquistado e colonizado pelos espanhóis, o país dos Aztecas foi o primeiro da América Latina a sofrer a influência direta da ascensão anglo-saxã no Novo Mundo, depois da chegada dos ingleses ao norte de suas fronteiras, e pagou caro por isso, perdendo a metade do seu território para os EUA, e assumindo o triste destino de servir de barreira para a expansão dos gringos rumo ao sul, em um contexto que encontrou sua melhor tradução na famosa frase que uns atribuem ao revolucionário Lázaro Cárdenas, e outros, ao ditador, também mexicano, Porfírio Diaz: 

“Pobre México. Tão longe de Deus, e tão perto dos Estados Unidos."

Essa constatação se traduziu, ao longo do tempo, para a população mexicana, em uma contradição permanente. 

Por um lado, um povo valoroso e sofrido, e em sua maioria, miserável. Por outro, uma elite rica e irresponsável que sempre explorou o país de forma cruel e desumana, em subalterno conluio e a serviço dos interesses do poderoso vizinho do Norte.

Há hoje dois tipos de mexicanos: 

Aqueles que suam, trabalhando horas a fio em pé, no campo e nas linhas de montagem das “maquiadoras” que retocam produtos vindos de fora com destino aos EUA, e que muitas vezes se insurgem contra a injustiça e a entrega do país, e os que oxigenam o cabelo e compram lentes de contato para clarear-lhes a íris, com a “naturalidade” dos “bonecos” e das “bonecas” que se veem nas novelas mexicanas. 

Enquanto os primeiros são assassinados, como o foram os 43 estudantes de Iguala, os segundos gostariam que o México fosse absorvido de uma vez por todas pelos EUA, para que pudessem viajar entre Cancún e Miami sem precisar apresentar passaporte, desde que permanecessem de pé, ao longo dos 3.000 quilômetros de fronteira entre os dois países, os muros e as cercas que evitam a entrada de emigrantes pobres em território norte-americano. Os mesmos muros e cercas que separam, metaforicamente, mansões de 6 milhões de dólares, como a que foi comprada pela primeira-dama mexicana, Angelica Rivera, e os barracões de madeira e papelão em que vivem jovens operárias como as que são estupradas, assassinadas e “desovadas”, nos subúrbios de cidades como Juarez. 

E há, também, dois tipos de México.

A nação rebelde da Revolução de 1910, que se recusou a romper relações com Cuba na Guerra Fria, e acolheu, nas décadas de 1960 e 1970, exilados de países sul-americanos; e o México abjeto e neoliberal do NAFTA, da Aliança do Pacífico e da cúpula “ibero-americana” desta semana. 

A defesa do NAFTA, das vantagens do “livre comércio” e do “ibero-americanismo”, são caminhos complementares que obedecem, para a “elite” mexicana, aos seguintes objetivos:

- Romper o isolamento – principalmente com relação à América do Sul – a que o México se condenou, ao agregar-se, política e economicamente, à América do Norte, em 1994.

- Diminuir a crescente perda de influência do México no mundo, consolidando, com relação à América Latina, uma aliança com a Espanha, país que está sofrendo processo equivalente e tão acelerado quanto, de insignificância geopolítica e institucional. 

- Nesse contexto, não apenas em proveito “próprio”, mas também dos EUA e de Madrid, combater, no âmbito político e no ideológico, a crescente influência do Brasil na América do Sul e na América Latina.

- Tentar romper, ao menos marginalmente, a excessiva dependência dos Estados Unidos, atraindo outros países da região para tratados de “livre-comércio” para aumentar as exportações dos produtos que “maquia”, contribuindo para ajudar a destruir, nesse processo, a indústria de nações concorrentes, como é o caso do Brasil, que possuem, industrialmente, uma taxa de conteúdo local muito mais elevada.

DE PORCOS E DE GALINHAS. 

A “elite” neoliberal mexicana, e sobretudo, a “latina”, como se denominam os chicanos e outros imigrantes latino-americanos menos “votados”, que resolveram abdicar de sua nacionalidade para fixar-se nos Estados Unidos, acredita que, por uma questão demográfica, a população “hispânica” acabará, mais cedo ou mais tarde, talvez em 5 ou 6 décadas, tomando o poder nos EUA e promovendo uma espécie de “vitória” mexicana ao contrário, com uma conquista dos EUA de “dentro” para fora, assim como a ocupação militar de metade do México pelas tropas dos Estados Unidos se deu de “fora” para dentro, na guerra entre os dois países, travada entre 1846 e 1848.

Pode até ser – se a crescente imigração chinesa para a América do Norte o permitir – que isso venha a acontecer um dia. 

A questão é que, como costuma ocorrer com os novos ricos, ou melhor, com os metidos a besta, os descendentes de mexicanos que se inseriram no establishment dos EUA, nutrem profundo desprezo pelos que tentam seguir seus passos, assim como o faz a corja neoliberal “hispânica” que, de suas redações em Wall Street e Miami ou dos estúdios da CNN em Atlanta, insiste em nos impingir “lições” econômicas e políticas, que, como podemos ver pelos resultados colhidos pelo México nos últimos anos, são tão hipócritas como “furadas”. 

Foi essa “elite”, apátrida e irresponsável, que praticamente impôs, com a mesma conversa fiada, à população mexicana, a assinatura de um acordo, nos anos 90, que equivaleria, para o México, a fechar com os EUA e o Canadá um tratado que lembra a famosa joint-venture estabelecida pelos porcos com as galinhas para vender ovos com bacon.

No momento em que muitos advogam que o Brasil siga o mesmo caminho, negociando entendimentos semelhantes com os EUA e a União Europeia, vale a pena analisar o que ocorreu com os mexicanos, nos últimos 20 anos, desde a sua entrada no NAFTA – o Tratado de Livre Comércio da América do Norte:

CENTENAS DE BILHÕES DE DÓLARES DE DEFICIT COMERCIAL E DE CONTA-CORRENTE.

Apesar de gabar-se – graças aos seus baixíssimos salários e à sua localização ao lado do maior mercado do mundo - de exportar mais que o Brasil e que os outros países da América Latina, com a entrada no NAFTA, o México fez, quanto ao comércio exterior, um péssimo negócio.

Nos últimos 20 anos, as exportações mexicanas aumentaram, mas as importações também o fizeram em um ritmo muito maior, devido à compra de peças e componentes de alto valor agregado de países como a China, Taiwan e a Coréia do Sul. Em 2011, o México importou mais de 350 bilhões de dólares, e em 2013, seu déficit com Pequim foi de mais de U$ 50 bilhões de dólares. Nos primeiros dez anos do NAFTA, o México teve quase 50 bilhões de dólares de déficit comercial e um gigantesco déficit em conta corrente (para o tamanho de sua economia) de quase 130 bilhões de dólares. Uma situação que seria ainda pior, muito pior, se não tivesse exportado cerca de 1.300.000 barris por dia de petróleo para os EUA, no período, vendas que aumentaram apenas em 7.3% desde 1994, e cujo valor tende a cair com a queda do preço do óleo nos mercados internacionais. 

O Investimento Estrangeiro Direto também não aumentou significativamente. Teve uma média de 15 bilhões de dólares por ano, depois da assinatura do tratado, enquanto no Brasil, nos últimos anos, incluindo 2014, ele foi mais de 4 vezes maior, da ordem de 65 bilhões de dólares.

OS SALÁRIOS MAIS BAIXOS DO CONTINENTE. 

Os salários mexicanos são os mais baixos da América Latina. O seu valor, em dólar, evoluiu apenas 2,7% nos últimos 20 anos. Apesar do aumento das exportações de “manufaturados” de terceiros países “maquiados” localmente, um trabalhador da indústria automobilística mexicana ganha, em dólares, cerca de um terço do que recebe um trabalhador brasileiro, e o salário mínimo em 2014, foi de menos de 11 reais por dia. A imprensa mexicana saúda os baixos salários locais como fator de “competitividade” frente à evolução dos salários em outros países, cuja economia cresce para melhorar as condições de vida da população e fomentar o mercado interno, como a China, mas não diz que mais de 7 em cada 10 automóveis fabricados no México tem que ser exportados, porque os cidadãos mexicanos que os fabricam não possuem renda ou fontes de financiamento para comprá-los.

AS PIORES CONDIÇÕES DE TRABALHO DA AMÉRICA LATINA.

Vinte anos depois da entrada para o NAFTA, seguida da assinatura “do maior número de tratados de livre comércio” da América Latina, 6 de cada 10 trabalhadores mexicanos não têm carteira assinada, o desemprego formal praticamente dobrou com relação a 1994, não existe seguro-desemprego, nem aposentadoria pública como direito assegurado, por exemplo, a agricultores e donas de casa. A taxa de pobreza da população mexicana, que era de 52,4% em 1994, evoluiu em apenas 0,1%, para 52,3%, em 2014, contra uma diminuição, no mesmo período, de mais de 40% na América Latina. Hoje há, no México, para pouco mais de 100 milhões de habitantes, 70 milhões de pobres. 

UMA DAS MENORES TAXAS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO DA AMÉRICA LATINA.

Nos últimos 20 anos, o México ficou em antepenúltimo lugar em crescimento econômico per capita entre os países da América Latina. A renda per capita em dólares do país símbolo da Aliança do Pacífico, cresceu, nesse período, apenas 18,6%, metade do que cresceu a do Brasil, e a metade da média latino-americana. 

Para se ter uma ideia dos resultados da “receita” da tortilla neoliberal mexicana dos últimos 12 anos, o PIB nominal do México cresceu apenas 85%, em dólares, nos últimos 12 anos, menos de um quinto do que cresceu o PIB do Brasil no mesmo período, que aumentou mais de 400%, passando de 600 bilhões de dólares em 2002 para 2.4 trilhões de dólares em 2014. 

DESAGREGAÇÃO E DESNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.

O “livre-comércio” e o NAFTA representaram, nos últimos 20 anos, um verdadeiro desastre para a agricultura mexicana. Em 2012, estudos da UNAM, a maior universidade do México, mostravam que naquele ano 72% dos agricultores estavam em quebra; mais de 29 milhões de camponeses não tinham acesso sequer a uma cesta básica, e só 3.9 milhões podiam adquirir algum produto que a compõe. Entre 2006 e 2011, houve perda de 44% no poder aquisitivo da população rural, o rebanho de matrizes bovinas mexicano é, hoje, 30% menor do que era há 20 anos, e 322 mil fazendas dedicadas à pecuária desapareceram. Com a agricultura e a produção avícola e de ovos, também não foi diferente. A importação de carne de frango, peru e de ovos, cresceu duas vezes mais rápido que a produção interna no período. A produção de milho e de feijão, elementos básicos da cesta básica mexicana, não consegue abastecer o mercado interno, e a importação de grãos provenientes dos Estados Unidos se multiplicou por 15 em duas décadas. Para registro, cada agricultor norte-americano recebe, em média, em ajuda direta e indireta, do governo, cerca de 26.000 dólares por ano. E um agricultor mexicano que esteja produzindo, uma média de 700 dólares. 

A falta de apoio do governo à agricultura, à pecuária, aos pequenos agricultores familiares, fez com que 2 milhões de camponeses abandonassem suas terras, aumentando o êxodo rural, também para os EUA (o número de emigrantes aumentou em 80% nos primeiros seis anos do acordo, cerca de 10 milhões de mexicanos deixaram o seu país nos últimos 20 anos e apesar da repressão na fronteira, 12% da população nascida no México vive hoje, ilegalmente, em sua maioria, nos Estados Unidos) e fez crescer a produção de drogas no campo. 

Dois dos quatro membros da Aliança do Pacífico são o primeiro e o segundo maiores produtores de cocaína do mundo, e, em outro deles, justamente o México, a produção e venda desse tipo de substâncias cresceu a ponto de vastas áreas do território mexicano estarem, como demonstra também o caso dos mortos de Iguala, sob o controle de narcotraficantes. 

DESTRUIÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO E FINANCEIRO MEXICANO

Como consequência da assinatura do NAFTA, obrigando-se a “competir” com um país com uma economia 15 vezes maior que a mexicana, os EUA, e outro com o dobro da economia mexicana, o Canadá, milhões de micro e pequenas empresas quebraram, o varejo foi dominado por grandes cadeias norte-americanas, como a Wal Mart, e os bancos locais desapareceram. Hoje, enquanto os bancos privados e públicos de capital brasileiro, como o Banco do Brasil, o Itaú, o Bradesco e a Caixa Econômica Federal ocupam os 4 primeiros lugares do ranking latino-americano, e o BNDES está entre os maiores bancos de fomento do mundo, o México não possui mais bancos de capital nacional (eles foram vendidos a grupos espanhóis e norte-americanos, como o Santander, o BBVA e o Citibank) e muito menos um grande banco de fomento que possa apoiá-lo no financiamento de projetos de infraestrutura, indústria e desenvolvimento. 

A ELIMINAÇÃO DO CONTEÚDO LOCAL NA PRODUÇÃO INDUSTRIAL E NAS EXPORTAÇÕES. 

A imensa maioria dos componentes que compõem as exportações mexicanas é importada. Na média anual, até 2011, as “maquiadoras” mexicanas compravam, no mercado mexicano, apenas 2.97% dos insumos usados em seus produtos, trazendo de outros países, 97%. Essa foi uma das razões que levaram o Brasil a colocar cotas à entrada de carros mexicanos, já que, na verdade, o que eles têm de “mexicanos” são, na maioria das vezes, alguns parafusos e a mão de obra. Entre 1983 e 1996 o conteúdo local da indústria não maquiadora, dedicada a abastecer o mercado interno, caiu de 91 para 37%, e esse processo, que se acelerou com o tempo, causou profunda desagregação da indústria local, quebrando milhares de empresas e desempregando milhões de trabalhadores, que para sobreviver tiveram de emigrar para outros países. Em 2013, por exemplo, o México liderou a “exportação” mundial de televisores de tela plana, no valor de mais de 15 bilhões de dólares, mas 94% dos componentes utilizados para montá-los foi importado de outros países. 

Em aberto contraste com o fracasso da cúpula “ibero-americana” de Veracruz, a UNASUL inaugurou, na semana anterior, com a presença de 11 dos 12 chefes de estado sul-americanos (o Presidente da Guiana não pode comparecer por questões de política interna) em Quito, no Equador, a sede da Secretaria Geral da organização, um majestoso edifício que custou quase 50 milhões de dólares, integralmente aportados pelo governo equatoriano. 

Nos anos 1970, como lembrou, a propósito deste mesmo tema, o antropólogo chileno Gonzalo García, no Portal El Dínamo, o economista brasileiro Celso Furtado já lembrava que, na definição das estratégias nacionais dos países do (então) Terceiro Mundo os acordos regionais iriam adquirir cada vez mais peso. Mas que essas agrupações seriam, essencialmente, um meio instrumentalizado de ampliação das opções dos centros de decisão, com relação (vis a vis) aos centros de influência mundial, e que as agrupações ou alianças regionais que favorecessem a dominação dos países mais ricos atuariam contra o desenvolvimento de seus próprios países.

O NAFTA, a Aliança do Pacífico, e o “ibero-americanismo” são, assim como o Acordo Transpacífico, alianças que favorecem a dominação de centros de decisão de fora, sobre a América Latina. O Mercosul, e, principalmente, a UNASUL, e, em menor grau, a CELAC, atuam em sentido contrário, o de fortalecer os interesses de nossas nações e da nossa região, com relação a outras nações e regiões do mundo.

Como Agátocles ao desembarcar nas praias de Cartago, o México queimou, historicamente, seus navios, ao aceitar entrar para o NAFTA, acreditando que a isso estava obrigado pelas circunstâncias geográficas e econômicas que acabaram transformando-o, de fato, em um apêndice da economia norte-americana. 

Outro é o caso do Brasil e do restante da América do Sul. 

Felizmente, não nascemos "colados" aos EUA, não temos – pelo menos os que temos decência e patriotismo – intenção de nos transformar em norte-americanos, nossa pauta de comércio exterior é diversificada a ponto de nosso maior sócio comercial estar situado do outro lado do mundo, e, como mostra a inauguração da nova sede da Secretaria Geral da União das Nações da América do Sul (foto), estamos cada vez mais unidos na defesa dos interesses do nosso continente e da melhora das condições de vida da nossa gente.

Outros posts sobre o México:


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http://www.maurosantayana.com/2014/03/o-gato-e-lebre-o-mexico-e-um-pais-pobre.html

http://www.maurosantayana.com/2013/05/o-brasil-o-mexico-e-omc.html

http://www.maurosantayana.com/2013/03/o-cerco-ao-brasil-e-o-mito-mexicano.html

http://www.maurosantayana.com/2014/04/comercio-exterior-ilusao-mexicana.html






10 de dez. de 2014

O ESPAÇO E A SOBERANIA



(Hoje em Dia) - Depois de dois fracassos em outubro – a explosão do cargueiro espacial Antares que se dirigia à Estação Espacial Internacional, durante a decolagem, e a queda do Spaceship Two, da Virgen Galactics, em voo de teste que deixou um morto - os EUA lançaram, com êxito, na última sexta-feira, a primeira versão de sua nova espaçonave Orion, que, segundo informado, poderia levar um dia uma tripulação humana a Marte.

No domingo foi a vez do Brasil superar o acidente com o satélite CBERS-3, ocorrido em dezembro do ano passado, quando do seu lançamento por um foguete Longa Marcha, com o sucesso da colocação em órbita do satélite CBERS-4, que já está funcionando.

Mais novo satélite de uma parceria entre o Brasil e a China que começou no final da década de 1980, o CBERS-4 teve 50% de seus componentes fabricados no Brasil, entre eles, duas das quatro câmeras, fabricadas pelas empresas Opto Eletrônica e Equatorial: a Multiespectral Regular (MUX), de média resolução; e a de Campo Largo (WFI), de baixa resolução, que se somaram às câmeras chinesas Pancromática e Multiespectral (PAN), de alta resolução; e a Multiespectral e Termal (IRS), também de média resolução e infravermelha, além do gravador de dados digitais, da estrutura do satélite, do sistema de fornecimento de energia e do sistema de coleta de dados ambientais. 

Além dos feitos com a China, o Brasil constrói seus próprios satélites, como o Amazônia-1, está montando um novo satélite de defesa e comunicações, e outro, com a Argentina, voltado para estudos oceanográficos. 

A conquista do espaço é uma questão de soberania. Desde 2010, quando aposentaram seus táxis espaciais, os Estados Unidos, por exemplo, têm dependido, vergonhosamente, de naves de um país que consideram seu arqui-inimigo, a Rússia, para colocar seus astronautas na órbita terrestre, na Estação Espacial Internacional. 

Com o lançamento bem sucedido do CBERS-4, com a China, e o desenvolvimento e fabricação de metade dos sofisticados sistemas que ele leva a bordo, o Brasil dá um passo gigantesco no domínio da construção de satélites de monitoramento remoto da superfície terrestre, capacitando-se para a construção local de engenhos semelhantes, voltados para a vigilância de nosso solo e a defesa de nossas fronteiras.

Mas é preciso fazer mais. Urge aumentar a cooperação, nesse campo, com os países do BRICS, como a Índia, que acaba de mandar uma sonda espacial a Marte, a Rússia e a própria China. Devemos modernizar as bases de lançamento de Alcântara, no Maranhão, e de Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, e revitalizar a AEB – Agência Espacial Brasileira, e o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 

E precisamos, também, dar prosseguimento ao projeto do novo VLS – Veículo Lançador de Satélites (as redes elétricas e os sistemas de navegação deverão ser testados no segundo semestre de 2015) e dos VLS-Alfa e VLS-Beta, seus sucessores.