(Hoje em Dia) - Para um pai, não existe momento mais importante, mágico e profundo, que o nascimento de um filho, e é natural que assim seja, já que o filho é, para o pai, a única forma de permanência no mundo, e a esperança tênue de que a memória de sua existência seja transportada, por seus filhos e os descendentes deles, para o futuro.
É, assim, compreensível, que choque à maioria das pessoas, e pareça uma brutal agressão à ordem natural das coisas, que filhos morram antes de seus pais, principalmente quando essa morte ocorre de forma abrupta e inesperada, em um átimo de segundo.
Na semana passada, dois meninos - para seus pais eles serão sempre meninos - morreram no Brasil, entre muitos outros.
Um chamava-se Thomaz, era piloto de helicóptero e filho do Governador de São Paulo, e tinha 31 anos. O outro, Eduardo de Jesus, sonhava em ser bombeiro e tinha dez anos. Era filho de um casal de migrantes nordestinos que viviam no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.
Thomaz caiu quando acompanhava um vôo de teste de manutenção, com mais quatro pessoas. Eduardo morreu com um tiro, em frente de sua casa, em uma suposta situação de confronto - desmentida pelas testemunhas presentes - entre policiais e traficantes.
A dor do Governador de São Paulo e de José Maria de Souza Ferreira, o pai do menino Eduardo, e de suas esposas, é incomensurável. E a súbita igualdade de seu sofrimento deveria servir de reflexão para aqueles que acham que só eles trabalham e pagam imposto, que desqualificam os nordestinos, e acreditam que nas comunidades da periferia só moram marginais, que toda criança que leva uma bala “perdida” ou com “endereço certo”, é “menor do tráfico” ou que quem reside em favela está arriscado a morrer, de uma hora para outra, porque “tolera a presença da marginalidade”, ou não se “esforçou” o suficiente para morar em outro lugar.
Piloto de helicóptero, Thomaz Alckmin sabia que trabalhava em uma profissão perigosa, e infelizmente, houve problemas com a máquina em que estava, mesmo depois do trabalho de manutenção executado pelos mecânicos e peloo piloto que estavam no vôo, que com certeza também eram pais como ele, e filhos de outros pais que também estão sofrendo agora.
Eduardo de Jesus Ferreira teve a má sorte de nascer em um país no qual tabaco e álcool podem ser consumidos à vontade, e se continua acreditando que a proibição e a repressão vão impedir alguém de se drogar ou de comercializar outras substâncias tóxicas consideradas “ilícitas”.
Um país no qual o número de prisões e de mortes como a sua continua aumentando, junto com o consumo de crack, maconha, cocaína e anfetamina, enquanto a ONU contesta esse tipo de combate.
No dia em que Eduardo morreu, faleceram mais pessoas assassinadas no Brasil, quarto maior país do mundo em número relativos e primeiro em absolutos, do que em todo o ano de 2014 no Uruguai, nação em que o governo assumiu a produção e a comercialização da maconha.
Aqui, são 65.000 mortes por ano, quase 35 por 100.000 habitantes, por lá, foram menos de 300 pessoas no ano passado, cerca de 7 por 100.000 uruguaios.
Muito pertinentes as observações de Santayanna em Pais e Filhos!
ResponderExcluirDevemos nos espelhar no Uruguai e ajudar na campanha contra a ação infame que a Philip Morris, grande fabricante multinacional de cigarros, moveu contra o governo do Uruguai porque o país tem algumas das melhores leis antitabagistas do mundo. Há uma grande possibilidade que a empresa vença, a menos que nossas vozes fortaleçam a luta popular no tribunal.
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