28 de out. de 2015

O ACORDO TRANSPACÍFICO, O BRASIL E A GEOPOLÍTICA .

Grandes países impõem acordos comerciais. 
Os pequenos, assinam.


(Jornal do Brasil) - Com o acordo Transpacífico (TPP) nas manchetes, a direita neoliberal, e personalidades como o Ministro Armando Monteiro, voltam a defender a assinatura, pelo Brasil, de acordos comerciais, com a discutível tese de que se não fizermos isso, ficaremos isolados do mundo e do desenvolvimento.

Mesmo que esteja, aparentemente, bem intencionado, o Ministro Armando Monteiro e a costumeira malta dos alegres defensores do neoliberalismo, deveriam se perguntar por que países como a China - que não vai fazer parte do TPP -  estão, apesar disso, cada vez menos isolados, e cada vez mais desenvolvidos.

Por que os europeus não apresentaram até agora sua lista de propostas ao Mercosul, nem conseguiram obter um mínimo de apoio ou consenso de seus agricultores para a assinatura de acordo com essa organização sul-americana.

Por que o Brasil está enfrentando problemas e a ponto de ser processado na OMC – Organização Mundial do Comércio, devido ao uso de incentivos fiscais em áreas como a automotiva, de telecomunicações e de tecnologia, enquanto países desenvolvidos sempre apoiaram esses setores e os protegeram e continuam blindando-os da competição estrangeira, como é o caso dos Estados Unidos.

E por que milhares de cidadãos de todo o mundo, entre eles, por exemplo, mais de 250.000 alemães – cidadãos de um país que consideram “modelo” e desenvolvido - foram às ruas, outro dia, em uma gigantesca manifestação no centro de Berlim, para protestar contra negociações visando à  entrada da União Européia no mesmo Acordo Transpacífico, que, aqui no Brasil, estão querendo nos vender como panaceia.

Quem sabe isso poderia levá-los a refletir  sobre uma verdade simples:

Assim como a Guerra – como dizia Clausewitz – é uma extensão da política,  acordos comerciais são um reflexo e uma projeção do poder nacional, aplicado à geopolítica.

No âmbito comercial, e a história da expansão do poder “ocidental” não é mais do que isso, grandes nações impõem acordos comerciais – quase sempre leoninos – e as pequenas nações os assinam.

Na década de 1960, no auge da Guerra Fria, John Kennedy visitou a Alemanha, e, para demonstrar sua solidariedade aos alemães “capitalistas” na crise de Berlim, logo após a conclusão do muro pelos soviéticos, disse:

“Ich bin ein berliner” – “eu sou um berlinense.”

Frente às declarações do Ministro Armando Monteiro – ainda que possam ter sido bem intencionadas - e dos “analistas” de sempre, que, na mídia, não perdem uma oportunidade de repetir seus mantras entreguistas sem perceber que eles estão longe de ser uma unanimidade hoje, e sem se perguntar por que tanta gente insiste em discordar deles, e se dispõe a enfrentá-los nas ruas, em muitos lugares do mundo;  e, principalmente,  em consonância com as  dezenas de milhares de alemães que desfilaram pelas ruas da capital da maior economia da Europa, protestando contra a perspectiva da entrada de seu país no Acordo Transpacífico, dá vontade de dizer, quanto à tentativa de “globalização”, ou melhor, de “norte-americanização” forçada do comércio “ocidental”: eu sou um berlinense, “ich bin auch ein berliner!”

Por que deveríamos pensar diferente?

O Brasil tem, em sua região, a mesma importância que a Alemanha tem na sua.

Não é de se crer que tenhamos a menor vocação para deixar de ser - com todos os nossos eventuais problemas – a oitava economia do mundo e o país mais importante da América Latina, para nos entregarmos definitivamente à condição de uma província a mais ou de um mercado a mais, totalmente aberto e subalterno aos produtos e aos ditames norte-americanos, em seu esforço para manter sua cada vez mais ameaçada hegemonia, logo em um século, em uma época, em que deveríamos estar nos preocupando em defender o lugar que nos cabe no mundo e os nossos interesses, e não os dos EUA.



  

2 comentários:

  1. Com o aumento das cobranças contra os eua e a inglaterra , levando o primeiro ministro ingles a fazer a primeira das milhares declarações de desculpas que a inglaterra fará , e os eua vendo outdoors o acusando de genocidio em sua vizinha e nada boba Cuba , uma aproximação qualquer que seja com os eua seria uma estupidez absurda ou muito dinheiro e bota dinheiro nisto em função da situação dos eua no cenario geopolitico
    A Russia e a Unidade Mundial aplicam uma coça nos eua no Oriente Medio e a China pressiona os eua no Sul da Asia , a inglaterra está sem pai nem mãe ,o Irã e Aliados Arabes , India , UNASUL-Mexico-Cuba só olhando por enquanto , dão uma idéia do cenário
    O dolar já é descartado por Russia , Ira , Venezuela , Argentina , e China , afora o pequeno problema de lastro do dolar e da libra sendo que a ultima emissão de dolar fria de um trilhão feita por obama foi aceita pela mundo porque senão os eua quebrariam , algo que o bem informado armando monteiro deveria saber.
    monteiro tambem vem de uma familia antiga na Nação a qual sabe dos compromissos e responsabilidades dos cidadãos com a Patria e das consequencias de traição a Patria , e se não reparou vou lembrar monteiro que a nova sociedade brasileira parece bastente irritada com governos como o de fhc e de dilma , politicos como cunha , entreguistas do psdb e os meio atentos ou ligeiros demais.
    O cenário geopolitico é claro , os eua não tem força militar ou argumentos tecnicos ou academicos para sustentar o dolar , e pensar em assinar o tpp colocará monteiro na sala de dilma acordo com obama sobre a Amazonia roussef.
    Não custa perguntar se monteiro leu as clausulas do acordo de desmatamento zero que dilma assinou nos eua , lestes armando miolo mole monteiro ? Então me digas o q achou......

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  2. Olá a todos!

    Parabéns Mauro. Seus textos são exatos, assertivos, elegantes... brilhantes!

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