20 de abr. de 2016

DE CHIFRES E DE CAVALOS







(JB online) - A Agência Brasileira de Inteligência comunicou em nota que o Brasil teria sido ameaçado, em novembro, pelo Estado islâmico, por meio de um twitter supostamente assinado por um francês chamado Maxime Hauschard, um “integrante do grupo”, cujo perfil teria sido posteriormente deletado.


O assunto, segundo a ABIN, veio à tona por causa de uma palestra do chefe do “Departamento de Contraterrorismo” da agência, no Rio de Janeiro, falando sobre a Olimpíada.  

Ora, não se conhecia que a ABIN dispusesse de um “Departamento de Contraterrorismo”, e seria interessante saber sob que circunstâncias ele foi criado, e com autorização de quem, já que essa atitude – que muitos veriam como normal e corriqueira - tem diretas consequências para a diplomacia e as relações externas do pais e que cabe à Presidência da República, por meio do Gabinete de Segurança Institucional e da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, supervisionar as atividades da organização, e ao Congresso Nacional exercer o controle externo, por meio de órgão composto, entre outros membros, dos líderes da maioria e da minoria na Câmara e no Senado, assim como dos Presidentes das Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional das duas casas, como reza a legislação que lhe deu origem.

Voltando ao twitter supostamente assinado por Maxime Hauschard, será difícil saber se esse cidadão realmente existe, e, em caso afirmativo,  virtualmente impossível comprovar se ele, um “terrorista” foragido, foi realmente o autor da mensagem, ou se “Monsieur” Haushard foi “clonado” e a mensagem eventualmente “plantada” – já que o perfil, que sequer se sabe se era falso, foi, curiosamente, apagado depois – por agentes de inteligência  de outros países interessados em envolver  o Brasil com uma doutrina “antiterrorista” que não lhe diz respeito, com o objetivo de assegurar o alinhamento de nossas forças de inteligência e de segurança a organizações congêneres “ocidentais”, levando-nos a  tomar partido em uma briga que não é nossa, com uma decisão de administrativa de grande gravidade, que, para ser tomada, precisaria ser discutida no âmbito do Congresso, da diplomacia e da sociedade, de forma ampla, transparente e irrestrita.

      
Se tratava, a mensagem, de fato, de uma ameaça, ela não deveria – em benefício da estratégia e da discrição característica dos serviços de inteligência - ter sido divulgada, e, sim, combatida e investigada, em sigilo. 

Se, em caso de uma improvável comprovação inequívoca de sua autoria, tratou-se apenas de um episódio irrelevante, de um mero twitter de um “integrante” do grupo, e não de um ameaçador vídeo, com um refém decapitado, por exemplo, como costuma ser feito pelo EI, mereceria menos ainda ter sido digna de nota oficial e de divulgação à imprensa, até mesmo para evitar caracterizar uma reação despropositada e uma postura exagerada de confronto, que poderá, sim, nos criar problemas no futuro.

Os órgãos de inteligência e de segurança brasileiros, precisam parar de querer ficar emulando seus congêneres estrangeiros de potências que se metem na vida e em territórios alheios, como a Europa (via OTAN) e os Estados Unidos, a ponto de terem armado os grupos que deram origem ao próprio Estado islâmico, no início, para derrubar governos estáveis em países que tinham uma vida relativamente normal antes da Primavera Árabe, e que hoje se transformaram em um monte de ruínas.

Os inimigos dos EUA não são, por mais que cresçamos vendo filmes e séries de TV norte-americanas – e muitos quisessem abjetamente ter nascido nos EUA - necessariamente, como por osmose, nossos inimigos.

Temos, como Nação, interesses próprios, ditados por nosso lugar no mundo e nossa posição geopolítica, é com eles que devemos nos preocupar, e entre essas prioridades não está a de ficar vendo ou inventando fantasmas onde não existem, para justificar eventos, leis específicas, ou, indiretamente, a existência de agências de inteligência, que são, sim, extremamente importantes para qualquer nação, mesmo aquelas que não confundem a busca da preservação da paz e da soberania, com eventual fraqueza ou  vulnerabilidade.
 
Antes de se começar a falar em Lei Antiterrorista, não se identificavam “ameaças” contra o Brasil na internet – nem mesmo um mero e discutível twitter.

É recomendável parar de ficar discutindo exaustiva e publicamente a possibilidade de haver atentados durante as Olimpíadas no Rio de Janeiro, antes que eles venham a se confirmar, eventualmente, não por causa da suposta mensagem de novembro, mas como reação à excessiva ligação que o Brasil tem estabelecido, nos últimos tempos, com países ditos “ocidentais” nesse contexto.

O trabalho de inteligência se faz entre quatro paredes, com a preservação, sob segredo, tanto de eventuais preocupações, como das informações coletadas que estejam relacionadas a elas.

Com todo o respeito, ao dar publicidade ao “fato” a ABIN faz o mesmo que fez o governo Dilma, ao aprovar uma Lei Antiterrorista desnecessária - o código penal, sem chamar a atenção, e sem qualquer matiz ideológico, bastava para investigar e colocar atrás das grades responsáveis por homicídios ou atentados – inócua – em outros países esse tipo de lei não tem evitado a ocorrência de ataques - e inadequada do ponto de vista diplomático e estratégico: age como se estivesse procurando – correndo o risco de dar bom dia ao quadrúpede – chifre em cabeça de cavalo. 

6 comentários:

  1. Isso sem falar que esse alarde desnecessário pode muito bem ser uma tentativa de legitimar uma suposta caça às bruxas interna e criminalizar os movimentos que atuam - e prometem atuar - ainda mais contra o golpe. A lei antiterrorismo aprovada foi ofuscada em meio às negociatas do golpe não teve a devida publicidade, então será necessário justificá-la de algum modo. Certa vez, comentando sobre os black blocs de 2013 e 2014, o Vladimir Safatle, então pré-candidato ao governo de SP, disse que as democracias têm convivido relativamente bem com a violência política. Talvez seja um presságio, e talvez o Brasil nem queira correr o risco dessa convivência.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. A Abin do dantas ? do secretário trezzi ? Quem nomeou o garoto que carregava a pastinha do dantas e do porquinho gilmar chefe das polícias e segurança nacional ?
    Tá na hora do Temer assumir e lembrarmos de Lacerda como chefe de polícia e segurança nacional
    O email é factoide corriqueiro , algumas ações cometidas por Patriotas incontroláveis pelo perfil , compostura e apoio popular e não parece que as Olimpíadas fossem alvos destes pela falta de motivo
    Quanto a atos terroristas convidar cia da invasão do Iraque o otan capuchinho da cia é no mínimo não recomendável
    Os BRICS tem países com tradição em segurança, conhecem bem os terroristas e fariam o possível com nossas forças
    A cia e aos eua cabem nos entregar o material coletado nas escutas ilegais , os culpados e arcar em com os custos financeiros e diplomáticos

    ResponderExcluir
  4. Abin deveria estar preocupada em orientar e proteger as ligações da Presidenta Dilma evitando expô-la a um vexame na imprensa marrom.

    ResponderExcluir
  5. Pelo menos desde 2008 a Presidência sabe que há unidade de contraterrorismo... Art. 15. Ao Departamento de Contraterrorismo compete: I - planejar a execução das atividades de prevenção às ações terroristas no território nacional, bem como obter informações e produzir conhecimentos sobre tais atividades; II - planejar, controlar, orientar e executar a coleta e análise de dados e informações sobre organizações terroristas - Decreto n 6408~de 2008.

    ResponderExcluir