(Da equipe do blog) - Jornais e sites de noticias têm aventado eventual insatisfação entre alguns oficiais do exército com a decisão do Presidente da República de retirar a indicação do Coronel Mauro Cid para o comando do BAC de Goiânia, com a alegação de que "isso seria politizar a Força".
Ora, admitindo-se que oficiais pudessem emitir opiniões nesse assunto - o que não é o caso, já que entraram na carreira para obedecer e não para se imiscuir na administração do Estado ou nas decisões de seus superiores hierárquicos - o que estamos assistindo neste momento é a um notável erro de perspectiva por parte do governo, e a uma hipócrita inversão de valores na abordagem adotada sobre o tema por uma parcela da caserna e da turma do pijama.
Seria preciso perguntar a esses gatos pingados - e eventualmente fardados - que parte da imprensa está cometendo o erro de "consultar" neste momento, exagerando-lhes a importância e a relevância - em que planeta eles estiveram nos últimos 4 anos.
Sem necessitar sequer de entrar no caso Pazuello, até o ET Bilú - "busquem conhecimento! busquem conhecimento!" - sabe que quem sempre tentou politizar as Forças Armadas foi Jair Bolsonaro, desde seus primeiros discursos subversivos nos quartéis - a ponto de ter sido impedido de neles entrar pelo próprio regime militar - até se converter no primeiro Presidente da História nacional a trocar todo o comando das três forças de um dia para o outro, porque os comandantes anteriores, os honrados General Edson Pujol, Comandante do Exército, Almirante Ilqes Barbosa, Comandante da Marinha, e o Brigadeiro Antonio Carlos Bermudes, Comandante da Aeronática, além do então Ministro da Defesa, Fernando Azevedo, não quiseram bater palma pra maluco nem compactuar com os seus enlevados devaneios de poder.
Tanto é que o próprio Pujol já havia alertado poucas semanas antes desse autentico golpe branco - está aí o testemunho da História - que os militares não queriam "fazer parte da política" ou que a política entrasse "nos quartéis".
E o Ministro Fernando Azevedo, em seu discurso de despedida, fez também questão de ressaltar que havia feito tudo que podia para "preservar as forças armadas como instituições de Estado".
Mas Bolsonaro não parou aí.
Mexeu como quis e quando e onde quis no tabuleiro das Forças Armadas, indicando ex-seguranças e apaniguados para comandos de tropa.
Incentivou, por meio de "cursos", palestras e outras iniciativas, a propagação da doutrina terraplanística-olavista nos quartéis..
Cansou-se de repetir, aos cadetes recém-formados, vomitando no microfone, em suas formaturas, o seu ódio e o venenoso discurso antidemocrático e proto fascista que sustenta, em vários países do mundo, a volta da serpente maldita da extrema-direita, neste vigésimo-primeiro século do calendário cristão, ocidental, gregoriano.
Da mesma forma que politizou e aparelhou o GSI, a Policia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, chegando a usar esta última para sabotar e impedir a votação de centenas, senão de milhares de cidadãos, em regiões em que estava perdendo para seu adversário em popularidade e intenção de votos.
Ao livrar-se das indicações de Bolsonaro nessas instituições e nas Forças Armadas, escolhendo funcionários públicos apolíticos e profissionais, que defendem o seu papel constitucional de servir ao Estado e à Pátria, para substituí-las, Lula não está, nem estará, portanto, politizando as Forças Armadas.
Mas, sim, despolitizando-as, profissionalizando-as e reinstitucionalizando-as, no contexto de sua precípua missão constitucional.
Cumprindo o seu dever de afastar, enfraquecer, ou enquadrar, como a mais alta autoridade executiva da República, os servidores que em vez de querer servir o Brasil em suas carreiras, não se importam em macular suas biografias.
Aqueles que, desafiando a disciplina e a hierarquia, se deixam atrair pelo enganoso canto das sereias ensandecidas pelo ódio e o desequilíbrio de projetos nefastos, ilegais, distópicos, personalistas, dos eventuais aprendizes de ditador de turno.
Erram, então, Lula e o governo, a imprensa e a opinião pública, quando aceitam cair na armadilha de esgrimir as denúncias e acusações contra Mauro Cid como o fator ou motivo preponderante relacionado à sua indicação ou não para Comandante do BAC de Goiânia.
Porque quem pode mais, pode menos.
Se Bolsonaro pôde destituir e substituir generais, almirantes, brigadeiros, sem dar satisfação a ninguém, não se preocupando com a opinião de subalternos, Lula, imbuído agora da autoridade que foi de Bolsonaro que, hoje, não passa de um cidadão como qualquer outro brasileiro vivendo em território estrangeiro, pode, da mesma forma, trocar um comandante de força, como fez há poucos dias, e, mais ainda, um tenente-coronel de posto, sempre e quando lhe aprouver, sem dar, também, satisfação a ninguém, mormente a comandados, que, como vimos, nunca emitiram um pio com relação a Bolsonaro quando ele fez e desfez o que bem quis no tabuleiro de tropas das Forças Armadas brasileiras.
O ideal seria que a cada troca de Presidente, como acontece com tropas estritamente profissionais, em países como os EUA, por exemplo, não houvesse necessidade de promover trocas de comando devido a indicações políticas ou de caráter ideológico.
Mas não foi Lula que começou isso.
Quem o fez, foi Bolsonaro.
Logo, o que importa, por trás desse superestimado casus belli entre o governo e as forças armadas não é o comportamento do coronel Cid - que poderia ser o sujeito mais honesto do mundo - nem seus pequenos "serviços" prestados ao Presidente e sua família, que serão investigados, se for o caso, pela justiça.
E, sim, a autoridade que o Presidente da República tem, como Comandante em Chefe das três Forças, para indicar ou retirar de um posto o oficial que ele bem entender, no momento que ele bem entender, com a autoridade que lhe foi delegada pela população brasileira, bastando para isso o que o Ministro da Defesa apresentou outro dia como "fratura de confiança", ou melhor, nesta situação específica, a presença de um fundado, mais que justificável, sentimento de desconfiança mesmo.
As perguntas que seria preciso responder, portanto, neste momento, são as seguintes: por que alguns militares querem discutir as prerrogativas de Lula como Comandante em Chefe da Forças Armadas, quando nunca fizeram o mesmo com o senhor Jair Bolsonaro?
E:
Por que Lula teria que confiar o comando de uma tropa de elite que tem como incumbência também atuar eventualmente na área da Capital da República, a um sujeito que, ao que tudo indica, era tão íntimo de Bolsonaro que carregava a sua pasta, atendia o seu celular e talvez tenha pago até mesmo as contas do cartão de uma amiga da mulher do ex-presidente, com dinheiro eventualmente oriundo do cartão corporativo da Presidência, para dizer o mínimo?
Isso dito, como visto nesse caso - que representa apenas a ponta do iceberg - se não são ilegais foram imorais todas as nomeações e decisões tomadas por Bolsonaro nas ultimas semanas de governo, principalmente depois do Primeiro Turno, quando ele já sabia que havia uma considerável chance de perder o pleito.
Ao fazer isso, "Seo" Messias resolveu, já indo embora, de forma ilegítima, insidiosa, desprezível, condenável, roubar no jogo e tentar projetar para o futuro, para além do período de seu mandato legal, por meio de indicados e apaniguados políticos, uma condição de poder que não mais lhe pertence, da qual foi apeada pela vontade do voto e a força da soberania popular da maioria da população brasileira.
É como se, numa estória de Aghata Christie, um sujeito que "quebrou" - e perdeu o prestígio - vendesse a mansão, mas deixasse nela o mordomo, a empregada, e, principalmente, o segurança, com a missão de sabotarem, envenenarem aos poucos ou matarem - com paus e pedras, se preciso fosse - como se viu no bárbaro e desatado quebra-quebra do dia 8 de janeiro, o novo dono.
Isso pode ou o sujeito engode ?
Com a palavra o MPF, a PGR e o Supremo.